D. Afonso Henriques em Lisboa

Arquivo Histórico Militar

D. Afonso Henriques na tomada de Lisboa

 

 

A CRÓNICA DOS GODOS

 

Apresenta-se o texto completo da Crónica com as notas da edição transcrita, acrescentada com as de Alfredo Pimenta e sobretudo as de Pierre David, o autor que deu aos anais desta época, de fins do século XII e princípios do século XIII o título colectivo de «Annales Portucalenses Veteres» - Anais Portugueses Velhos.

Na Crónica aparece a primeira descrição da Batalha de Ourique, na entrada sobre os acontecimentos da era de 1177.  

Nota: As datas apresentadas são da Era Hispânica contada a partir de 1 de Janeiro de 38 a. de C. e não da era Cristã, adoptada em Portugal só em 22 de Agosto de 1422, no reinado de D. João I. Por isso, para se descobrir o ano correcto do acontecimento referido é preciso retirar 38 anos à data. 

 
ESCRITURA I

 

Que é a história dos Godos, serve para muitos lugares desta história: há dois exemplares dela, o que aqui vai impresso foi do Mestre André de Resende, e o tem em seu poder o Chantre de Évora Manuel Severim de Faria. Outro mais breve, cujas palavras por essa mesma causa alego mais vezes, se tirou de Alcobaça, e Santa Cruz de Coimbra.

 

Crónica dos Godos 1

Era de 349:  Saíram os Godos da sua terra.
Era de 366: Entraram na Espanha, e aí reinaram durante 387 anos. Levam, porém, 17 anos a chegar da sua terra à Espanha.
Era de 739: 2 (Em outro lugar 740) , foram expulsos do Reino da Espanha, no reinado de Vitiza.
Era de 749: (Em outro lugar 750), os Sarracenos apoderam-se da Espanha no reinado de Rodrigo; antes do reinado de Pelágio os Sarracenos imperaram na Espanha durante 5 anos.
Era de 754: Pelágio, filho do duque Fávila, governou durante 19 anos.
Era de 773: Fávila, filho daquele (Pelágio), governou durante 2 anos e 6 meses.
Era de 776: Afonso, filho do duque Pedro, governou durante 19 anos.
Era de 785: Fruela, filho daquele, governou 11 anos e 3 meses (Alcobaça: 11 anos, 5 meses e 22 dias).
Era de 806: Aurélio, primo daquele, governou durante 6 anos e 6 meses.
Era de 812: Silo governou 9 anos, e no décimo morreu. (Alcobaça 8 anos, 1 mês e 1 dia).
Era de 821: Mauregato reinou 6 anos e morreu. (Alcobaça: governou 5 anos e 5 meses (e em outro lugar 6 meses), e acrescentara que sob a autoridade de um só se passam 81 anos).
Era de 826: Bermudo governou 3 anos. Este renunciou ao governo voluntariamente e fez rei seu primo Afonso, que Mauregato expulsara do reino.
Era de 828: Aquele Afonso reinou durante 52 anos.
Era de 880: Ordonho, filho de Ramiro, reinou 7 anos 3.
Era de 888: Ordonho, filho de Ramiro, reinou 16 anos.
Era de 904: Afonso, filho de Ordonho, reinou 18 anos. Este no primeiro ano do seu reinado e no décimo quarto de idade é destronado por usurpação do apóstata Froilão, conde de Galiza; mas o rei foi para Castela e algum tempo depois, tendo sido morto em Oviedo pelos súbditos fiéis do rei Afonso o rei usurpador e desgraçado, Froilão, aquela criança volta de Castela cheia de glória e é colocada felizmente no trono do pai. Desde o princípio do seu reinado sempre considerou os inimigos como fautores de vitórias. No tempo dêle um numerosíssimo exército veio a Leão sob o comando de Al-mundhir, filho do rei Abde Arrahmane, irmão de Maomet, rei de Córdova, mas pouco dano lhe causou, porque, quando chegou, já muitos milhares de soldados tinham sido mortos e o restante exército pôs-se em fuga. No tempo dele outro exército entrou em Berdigo, mas graças a Deus foi destruído sem prejuízo daquele rei. E este rei dilatou o seu império com o acrescentamento de muitas terras dos inimigos; efectivamente tomou o Castelo que se denomina Nazam. Durante a paz apoderou-se de Antenea; despovou Coimbra, ocupada pelos inimigos; e em seguida povoou-a de gente da raça galaica; conquistou igualmente muitos outros castelos. No seu tempo a Igreja prosperou, o reino ampliou-se. Igualmente são povoadas de Cristãos algumas cidades, como Braga, Portucale, Anco, Viseu, Emínio e assolando a ferro e fome outras terras da Lusitânia até Mérida, despovoou e cobriu de ruínas a costa. Ficou de pé o reino da Espanha dos Cristãos até Almançor no ano 1024 4.
Era de 1026: 5 A 29 de Junho: Almançor Benamet tomou Coimbra e, assim como o ouvimos a muitos velhos, ficou deserta durante 7 anos, sendo depois reedificada e ocupada pelos Ismaelitas.
Era de 1028: A 2 de Dezembro: Almançor tomou Montemor.
Era de 1033: Almançor tomou o Castelo de Aguiar, que está na margem do Sousa, na província Portucalense.
Era de 1046: A 6 de Outubro: Foi morto o conde Mendo.
Era de 1054: A 6 de Setembro vieram os Normandos ao Castelo de Vermuim que está na província Bracarense. Era aí conde Alvito Nunes.  
Era de 1056: Morreu o rei D. Afonso em Viseu. E no mesmo ano morreu o grande conde Nuno Álvares.  
Era de 1072: A 14 de Outubro Gonçalo Trastamariz tomou Montemor e entregou-o aos Cristãos.
Era de 1076: A 1 de Setembro Gonçalo Trastamariz foi morto em Avenoso.
Era de 1083: A 23 de Março o rei D. Bermudo teve uma vitória sobre os mouros, lutou com eles e aprisionou-lhes aí o rei Cémia na povoação de César, no território do Castelo de Santa Maria.
Era de 1085: Morreu o mesmo rei Bermudo.
Era de 1095: O rei D. Fernando com sua esposa, a rainha D. Sancha, tomou Lamego a 29 de Novembro na festividade de Santo Saturnino, ao amanhecer de um sábado.
Era de 1096: A 29 de Julho, no dia de S. Cucufate, o rei D. Fernando tomou a cidade de Viseu, depois Ceiça, S. Martinho de Mouros, Travanca, Penalva e outros castelos das vizinhanças das fronteiras cristãs (no que gastou 8 anos).
Era de 1102: A 25 de Julho, 6.ª feira, na véspera de São Cristóvão o rei D. Fernando tomou Coimbra.
Era de 1103: O rei D. Fernando morreu e foi sepultado na cidade de Leão a 26 de Dezembro.
Era de 1103: A 26 de Novembro morreu Mendo Gonçalves, varão ilustre de grande autoridade em todo o Portugal, filho de Gonçalo Trastamariz.
Era de 1109: A 18 de Janeiro, os portugueses travaram batalha contra o rei D. Garcia, irmão do rei D. Fernando e naquela guerra eram chefiados pelo conde Nuno Mendes. Este morreu aí e todos os seus fugiram. O rei alcançou sobre eles uma vitória num lugar denominado Pertalini, entre Braga e o rio Cávado.
Era de 1110: Foi morto o rei Sancho, filho do rei D. Fernando, em frente da cidade de Zamora, depois de cuja morte seu irmão o rei D. Afonso ocupou o trono da Espanha. Este durante muitos anos moveu muitas guerras contra os Sarracenos, inimigos dos nossos Cristãos. A uns fazia guerra, de outros recebia tributos.
Era de 1115: No mês de Setembro o mesmo rei Afonso tomou a cidade de Cória.
Era de 1123: A 25 de Maio o rei D. Afonso tomou a cidade de Toledo, depois a de Talavera e todos os castelos que estão na Carpetânia, província de Cartago, ao sul da cidade régia de Toledo, que é a capital.
Era de 1125: O rei D. Afonso travou uma grande batalha com o rei dos Sarracenos luçufe Bennamarim, da outra banda do mar, em frente da cidade de Badajoz num lugar chamado Sacrálias, onde voluntariamente se vieram juntar com o nosso rei os Cristãos das partes dos Alpes e muitos Francos o vieram auxiliar, mas, por intervenção diabólica, um grande medo invadiu muitos dos nossos, e muitos milhares deles se puseram em fuga, sem que ninguém os perseguisse. O rei, porém, ignorando a sua fuga, confiadamente entrou na batalha em que se encontravam todas as tropas sarracenas da Espanha inteira. O próprio Iuçufe Bentaisafim, que tinham tomado por seu chefe, trouxera consigo muitos milhares de bárbaros de além-mar, Moabitas e Árabes, cujo número nem o seu chefe nem homem algum podia saber, senão Deus.

E assim o rei D. Afonso e os que com ele tinham ficado lutaram contra os Sarracenos até à noite e nenhum dos inimigos conseguiu aguentar o ataque dele, os Sarracenos, cerrando fileiras, matavam grande número de Cristãos. Tantas vezes, porém, o rei atacou o Castelo e os arraiais dos Sarracenos, matando-os e dispersando-os, que os repeliu para um e outro lado, até que chegou ao lugar onde estava levantada a tenda do rei Iuçufe e fortificada à volta com uma grande trincheira. Enquanto o rei atacava este lugar com toda a coragem e insistia no ataque chegou um dos seus e anunciou-lhe: «Sabes, Senhor meu rei, que, enquanto aqui combates, as ciladas dos Sarracenos invadem os teus castelos». Ouvido isto e tomando conselho com os seus, o Rei deixou o rei mouro e afastou-se da tenda dele. Pressuroso, por isso, com os seus que junto de si se encontravam, dirigiu-se para os Sarracenos que tinham atacado os seus castelos e matou muitos deles e valorosamente os expulsou dos castelos. Ali muitos Cristãos morreram e os que ficaram juntaram-se ao rei. Mas como o rei tinha sido ferido por uma lança e tinha muita sede por causa do fluxo de sangue que corria da ferida, deram-lhe vinho em vez de água, por não terem encontrado água, pelo que sofreu um desmaio e voltou para Cória com aqueles que os acompanhavam. Os Sarracenos também voltaram cada um para o seu lugar.

Era de 1129: A 25 de Agosto morreu o Alvazil D. Sisnando.
Era de 1131: A 29 de Abril, num sábado, às 9 horas, o rei D. Afonso tomou a cidade de Santarém no 6.° dia do mês do 28.° ano do seu reinado. E na mesma semana, a 6 de Maio, uma quinta-feira, tomou Lisboa. Três dias depois, a 8 de Maio tomou Sintra e entregou-a ao governo de seu genro o Conde D. Raimundo, marido de sua filha D. Urraca e sob a direcção deste Sueiro, Mendes. O próprio rei voltou para Toledo.
Era de 1147: A 29 de Junho morreu o rei D. Afonso, filho do rei D. Fernando.
Era de 1147: No mês de Julho novamente foi tomada Sintra pelo Conde D. Henrique, genro de D. Afonso, marido de sua filha, a rainha D. Teresa. Sabendo, porém, os Sarracenos da morte do rei D. Afonso recomeçaram a guerra. 6
Era de 1148: Aconteceu uma grande desgraça aos Cristãos que iam para Santarém num lugar denominado Vatalandi. 7 Quando os Cristãos queriam ali levantar as suas tendas e descansar, de repente, uma multidão de Sarracenos, de Moabitas e de Árabes, tendo-lhes chegado aos ouvidos o reduzido número daqueles, caem sobre eles e, encontrando-os despercebidos, mataram muitos deles, tendo ali ficado mortos Soeiro Fromariguiz, pai de D. Nuno Soeiro, que os comandava e Mido Cresconiz, pai de D. João Mido.
Era de 1149: O rei Cir tomou Santarém a 26 de Maio. 8
Era de 1151: Nasceu o infante D. Afonso, filho do Conde D. Henrique e da rainha D. Teresa e neto do rei D. Afonso. 9
Era de 1152: A 1 de Maio morreu o Conde D. Henrique.
Era de 1154: Foi tomado pelos Sarracenos o castelo de Miranda e feita nos Cristãos grande carnificina e aprisionamento.
Era de 1154: A 7 de Julho foi tomado pelos Sarracenos o castelo de S.ta Eulália, que está situado ao pé de Montemor, e aí capturado Diogo, por nome o Galinha, e o grande aprisionamento de Cristãos (aí feito) foi transferido dali para além-mar.
Era de 1155: O rei dos Sarracenos, Ali Ibn luçuf, vindo do outro lado do mar com um numeroso exército, cercou Coimbra, tendo-se-lhe juntado também todo o exército que aquém-mar estava, sendo o número dos seus soldados grande como o da areia do mar e só de Deus conhecido. Efectivamente cercou Coimbra, e durante vinte dias quotidianamente a atacava ardorosamente com todo o seu exército, mas, por vontade de Deus, não pôde fazer-lhe mal e a cidade ficou ilesa e os habitantes nela.
Era de 1160: Houve uma grande fome na cidade de Coimbra e em toda a região Portucalense, desde o Minho até ao Tejo.
Era de 1163: O ínclito infante D. Afonso, filho do Conde D. Henrique e da rainha D. Teresa e neto de D. Afonso, tendo cerca de catorze anos de idade, na praça de Zamora tomou por suas próprias mãos, do altar de S. Salvador, as armas militares e ali mesmo, no altar, as vestiu e cingiu, assim como os reis costumam fazer no santo dia do Pentecostes. Vestiu-se com a cota assim como Gigas, que era de grande corpulência, e cingiu-se com as suas armas de guerra. Nas batalhas tornou-se semelhante ao leão nas suas acções e tal qual o filho do leão rugindo diante dos caçadores.

Mas quem poderá falar dignamente de tão grande e tão ilustre varão?

Ninguém. Na verdade foi um homem valente na guerra, versado na língua, muito prudente nas suas acções, de inteligência esclarecida, formoso de corpo, belo de fisionomia, de olhar encantador, todo católico na fé de Cristo, respeitador dos ministros da Religião, muito benévolo e devoto, defendeu Portugal inteiro com a sua espada, alcançou o trono e, como senhor, dilatou as fronteiras dos Cristãos e alargou os territórios dos povos fiéis desde o rio Mondego, que corre junto dos muros de Coimbra, até ao rio Guadalquivir, que banha a cidade de Sevilha, e desde o Oceano Atlântico até ao Mediterrâneo.

Resumidamente anotaremos a maneira como conquistou o reino, os castelos e as fortalezas que aí construiu e também as cidades e os castelos que aos Sarracenos tomou, porque ninguém podia descrever as batalhas que travou, pois foram muitas e inumeráveis não só com pagãos, mas também com Cristãos que, demasiado cobiçosos, lhe queriam arrebatar e invadir o reino, a todos levando vantagem e sempre ficando vencedor, de todos triunfando sempre, ajudado da bondade divina.
Era de 1166: No mês de Junho, na festa de S. João Baptista, o ínclito infante D. Afonso, filho do Conde D. Henrique e da rainha D. Teresa, neto do grande imperador da Espanha, D. Afonso, com auxílio do Senhor, pela bondade divina, mais pela sua diligência e trabalho do que por auxílio ou vontade dos pais, tomou na sua mão forte o reino de Portugal. Porquanto, morto seu pai o Conde D. Henrique, como ele ainda fosse criança de dois ou três anos, alguns indignos estrangeiros usurpavam o governo de Portugal, com o consentimento de sua (dele) mãe, a rainha D. Teresa, querendo ela própria presunçosamente governar no lugar do seu marido, afastando o filho dos negócios do reino. Valente como era (tinha já bastantes anos e um bom carácter) de maneira nenhuma sofria esta afronta demasiadamente vergonhosa, tendo convocado os seus amigos e os mais nobres de Portugal, que sobremaneira preferiam o governo dele ao da mãe e dos indignos estrangeiros, travou com aqueles batalha no campo de S. Mamede, que fica próximo do castelo de Guimarães e foram destroçados e derrotado por ele, uns fugiram da sua vista e a outros mandou prendê-los. Ocupou ele o governo e a Monarquia do reino de Portugal.
Era de 1168: Morreu a rainha D. Teresa, mãe de D. Afonso, no dia 1 de Novembro no segundo ano do seu reinado.
Era de 1169: Bermudo Peres, cunhado da rainha D. Teresa, quis revoltar-se no castelo de Seia. Mas foi mal sucedido, porque o infante, tendo disto conhecimento, foi ao encontro dele com os seus soldados e expulsou-o do Castelo.
Era de 1170: O mesmo rei começou a construir o mosteiro de Santa Cruz nos subúrbios de Coimbra e uma ponte no rio junto da cidade no quarto ano do seu reinado.
Era de 1173: A 10 de Dezembro o supra-mencionado rei D. Afonso começou a construir o castelo de Leiria, no sétimo ano do seu reinado, pois via as frequentes incursões e depredações que se faziam pelos campos de Coimbra, e, querendo refreá-las com mão forte e braço extenso, procurou um lugar próprio e que servisse de defesa para o seu reino e apropriado para prejuízo dos seus inimigos. Encontrou, por isso, aquele monte num lugar de vasta solidão, situado nas proximidades de Santarém e de Coimbra, distante do castelo de Santarém umas quarenta milhas e cerca de cinquenta do de Coimbra. Primeiramente construiu aí um castelo e colocou nele habitantes; como chefe pôs-lhes um valente soldado, de nome Paio Guterres. Por isso a força e a audácia dos Sarracenos, por intermédio deste, começou a enfraquecer, porque na verdade viam outro Cipião Africano que os esmagaria, esfrangalharia e sujeitá-los-ia como a palha sob os malhos na eira.
Era de 1175: Aconteceu um infortúnio aos Cristãos em Tomar.
Era de 1177: A 25 de Julho na festa de S. Tiago Apóstolo, no undécimo ano do seu reinado, o mesmo rei D. Afonso travou uma grande batalha com o rei dos Sarracenos, de nome Esmar, num lugar que se chama Ourique. Efectivamente aquele rei dos Sarracenos, conhecendo a coragem e a audácia do rei D. Afonso, e vendo que ele frequentemente entrava na terra dos Sarracenos fazendo grandes depredações e vexava grandemente os seus domínios, quis; se fazê-lo pudesse, travar batalha com ele e encontrá-lo incauto e despercebido em qualquer parte. Por isso uma vez, quando o rei D. Afonso com o seu exército entrava por terra dos Sarracenos e estava no coração das suas terras, o rei sarraceno Esmar, tendo congregado grande número de Mouros de além-mar, que trouxera consigo e daqueles que moravam aquém-mar, no termo de Sevilha, de Badajoz, de Elvas, de Évora, de Beja e de todos os castelos até Santarém, veio ao encontro dele para o atacar, confiando no seu valor e no grande número do seu exército, pois mais numerosos era ainda pela presença aí das mulheres que combatiam à laia de amazonas, como depois se provou por aquelas que no fim se encontraram mortas. Como o rei D. Afonso estivesse com alguns dos seus acampado num promontório foi cercado e bloqueado de todos os lados pelos Sarracenos de manhã até à noite. Como estes quisessem atacar e invadir o acampamento dos cristãos, alguns soldados escolhidos destes investiram com eles (Sarracenos), combatendo valorosamente, expulsaram-nos do acampamento, fizeram neles grande carnificina e separaram-nos. Como o rei Esmar visse isto, isto é, o valor dos Cristãos, e porque estes estavam preparados mais para vencer ou morrer do que para fugir, ele próprio se pôs em fuga e todos os que estavam com ele, e toda aquela multidão de infiéis foi aniquilada e dispersa quer pela matança quer pela fuga. Também o rei deles fugiu vencido, tendo sido preso ali um seu sobrinho e neto do rei Ali, de nome Omar Atagor.

Com muitos homens mortos também da sua parte, D. Afonso, com a ajuda da graça de Deus, alcançou um grande triunfo dos seus inimigos, e, desde aquela ocasião, a força e a audácia dos Sarracenos enfraqueceu muitíssimo.

Era de 1178: No ano duodécimo do seu reinado, o rei Esmar, sabendo que o rei D. Afonso estava além de Guimarães, perto de Tui nas partes da Galiza, e estava ali muito ocupado em alguns negócios de que não podia facilmente desembaraçar-se, animado pelo conselho de um dos seus oficiais que estavam em Santarém, de nome Auzecri, tendo juntado grande número de gente de Badajoz, de Évora e de Santarém, veio de repente e atacou o castelo de Leiria e lançou-lhe o fogo, tendo matado aí alguns soldados e levando outros consigo em cativeiro. Também Paio Guterres, a cujo cuidado fora confiada a guarda do Castelo, foi aprisionado.

Ao mesmo tempo o Imperador D. Afonso, filho do conde Raimundo e da rainha D. Urraca, filha do grande Imperador D. Afonso, tendo reunido todo o seu exército de Castela e Galiza, quis entrar no reino de Portugal e vieram até um lugar que se chama Valdevez; mas o rei D. Afonso foi ao seu encontro com o seu exército e ocupou o caminho por onde aquele queria vir, e armou as suas tendas, uns de uma parte e outros de outra. E como alguém viesse do lado do Imperador para provocar uma escaramuça que os populares chamam Bufúrdio, imediatamente alguns saíam do lado do rei de Portugal, indo ao encontro deles e, com eles escaramuçando.

Estes prenderam Fernando Furtado, irmão do imperador e o cônsul Pôncio de Cabreira, Vermudo Peres e Varela, filho de Fernando Joanes, irmão de Paio Curvo, e Rodrigo Fernandes, pai de Fernando Rodrigo, e Martinho Cabra, sobrinho do cônsul D. Pôncio, e outros muitos que com eles vinham. Por isso vendo o imperador que tudo corria próspero ao rei de Portugal e que uma boa estrela o guiava e que Deus o ajudava e que a si tudo lhe corria ao contrário, e que, se quisesse continuar a luta, maiores seriam os seus prejuízos, mandou enviados à presença do arcebispo de Braga, D. João, e a outros homens bons e pediram-lhes que viessem ter com o rei de Portugal para que fizesse e firmasse uma boa paz e para sempre. Assim aconteceu e chegaram a um acordo. Efectivamente numa tenda tanto o Imperador como o rei de Portugal se beijaram mutuamente, comeram e beberam vinho, e falaram a sós secretamente e, assim, cada um deles retomou a sua paz.

Também na mesma ocasião, inesperadamente, vieram das partes das Gálias alguns navios cheios de guerreiros, no propósito de irem a Jerusalém. E, como tivessem chegado ao porto de Gaia e tivessem entrado no rio Douro, o rei ouviu esta notícia com que se regozijou. Efectivamente eram cerca de setenta, e com eles firmou o acordo de que aqueles se dirigiriam a Lisboa por mar, e ele com o seu exército por terra e lhe poriam cerco. Talvez aprouvesse ao Senhor entregá-la nas suas mãos. E assim, feito esse acordo, dirigiram-se todos a Lisboa, aqueles por mar e o rei com seu exército por terra, cercaram-na e atacaram-na, mas nada puderam contra ela, porque ainda não chegara a ocasião de ser entregue às mãos dos Cristãos, mas atacaram os arredores, destruíram muitas vinhas, incendiaram as casas e fizeram grande dano naquela terra. Vendo então que não era fácil a sua tomada nem durante longo espaço de tempo, embora permanentemente cercada, pois estava bem fornecida de provisões, era muito populosa e não lhe faltavam animosos defensores, deixaram-na. O rei voltou com o seu exército para a sua terra e aqueles marinheiros seguiram a sua rota para Jerusalém, para onde tencionavam ir.

Era de 1180: 

O mesmo rei dos Portugueses D. Afonso começou a construir o Castelo de Germanelo, no décimo quarto ano do seu reinado. Com efeito, vendo D. Afonso que os habitantes de Coimbra estavam aterrorizados e não ousavam sair para os seus trabalhos nos arredores - a vila de Germanelo, Alvor e Ateanha - por causa das frequentes incursões e depredações que, diariamente, ali faziam os Sarracenos, por tal motivo achou bem fazer aquele castelo no coração daquela terra, para segurança e defesa dos trabalhadores cristãos e para dano dos salteadores Sarracenos, colocou aí soldados que o guardassem e servissem de protecção e defesa aos Cristãos.

Pelo mesmo tempo levantaram-se os Ismaelitas contra os Moabitas, isto é, os Andaluzes contra os Árabes, e expulsaram-nos das suas cidades e castelos. Chegara já efectivamente o tempo em que o Senhor haveria compaixão do povo cristão e afastaria deles a sua ira que sobre eles lançara no tempo do rei Rodrigo, por causa dos seus pecados e mandara contra eles os Sarracenos, para que destruíssem os Cristãos e ocupassem a sua terra. Agora, porém, o Senhor amerceou-se e tornou-se propício ao seu povo cristão, afastou dele a sua ira e lançou a sua espada entre os Ismaelitas e Moabitas, isto é, Andaluzes e Árabes, para aniquilar o seu reino e destruir o seu poder e força, que contra os Cristãos prevaleciam.

Morto o rei Herico, que estimava mais os Árabes que os Andaluzes, que antepunha aqueles a estes, e àqueles entregava os comandos, os Andaluzes, não podendo aguentar o jugo dele, porque era demasiadamente pesado e insuportável, os Andaluzes, todos unanimemente se levantaram contra os Árabes e expulsaram-nos das cidades e dos castelos e, depois de expulsos, obrigaram-nos a sair da Espanha e a passar para além-mar. Isto, porém, operava-se por obra da bondade divina, para aliviar os Cristãos e dilatar as suas terras. Desde que, na verdade, os Árabes passaram para aquém-mar e vieram à Espanha por causa dos pecados dos Cristãos, estes passaram maus bocados. Mas o Senhor mandou a sua espada para o meio deles para destruir-lhes o seu reino e fortalecer o reino dos Cristãos que, até aqui, tinham sido espezinhados e humilhados. Depois que os tinham expulsado, o rei de Portugal, D. Afonso, fortemente os devastava e assolava a terra daqueles guerreiros, humilhando-os e aniquilando-os. Por isso, contra vontade, vieram ter com ele e, prestando-lhe homenagem, pagavam-lhe tributo e o censo das cidades e castelos de Santarém, de Lisboa e dos seus vizinhos, até que chegou o tempo de o Senhor entregar nas mãos dos Cristãos essas cidades e castelos.

Era de 1182: O rei de Portugal D. Afonso começou a reedificar o castelo de Leiria no mesmo lugar em que primeiramente fora construído no décimo sexto ano de seu reinado.
Era de 1183: O mesmo rei D. Afonso casou com D. Matilde, filha do conde Amadeu de Moriana e a esta se ligou em legítimo casamento no ano décimo sétimo do seu reinado e dela houve três filhos e três filhas, uma das quais D. Urraca - depois casou com o rei de Leão, D. Fernando; outra, porém, casou-a com o cônsul da Flandres, D... 10. Morreu na sua juventude; dois dos seus filhos morreram, apenas ficou um – D. Martinho, por sobrenome Sancho.
Era de 1185: O mesmo rei de Portugal D. Afonso, no décimo nono ano de seu reinado, revestido de audácia e valor, atacou corajosamente, com alguns poucos dos seus, o castelo de Santarém, confiado no auxílio divino e recuperou-o para si e para a Cristandade, tendo matado e expulsado dali os Sarracenos que nele habitavam. Por vontade de Deus se deu este acontecimento a 11 de Maio, ao cantar do galo, ao amanhecer de um sábado. E no mesmo ano, no mês de Julho cercou Lisboa. Em seu auxílio, e por obra da bondade divina que do alto céu a tudo provê, veio súbita e inesperadamente das partes das Gálias, e conduzido por mão divina, um grande número de navios. Grandemente confiado neste auxílio, cercou a cidade durante cinco meses, atacando-a e assaltando-a valentemente por terra e por mar, não permitindo que ninguém saísse ou entrasse. Finalmente, porém, a 24 de Outubro, numa sexta-feira, ao meio-dia, tomou a cidade na sua mão forte e extenso braço com o auxílio da piedade divina e ajuda do Senhor Jesus Cristo, tendo sido expulsos dali os Sarracenos.

E em épocas e anos diferentes tomou os fortíssimos castelos de Sintra, Almada e Palmela, e com os seus guerreiros conquistou-os para si e para a Cristandade.

Naquele tempo aconteceu por obra do Senhor o milagre mais extraordinário de todos os que Deus operou no mundo por meio dos reis antigos, seus servos. O rei D. Afonso, com 60 homens de armas de Santarém, sem armadura alguma a não ser apenas os escudos, as lanças e as espadas, sem couraças nem capacetes, nem sapatos de ferro, confiado no auxílio de Deus e ajudado da bondade divina, lutou com 500 soldados Sarracenos bem armados e cobertos de ferro e bem instruídos no serviço militar e com quarenta mil peões bem armados, nos campos de Alcácer e venceu-os, matou muitos deles e outros fugiram para dentro da fortaleza. Ele foi aí ferido pelos Sarracenos numa perna com uma lança. Em poucas palavras contarei como isso aconteceu.
Era de 1192: Nasceu o rei Sancho, filho do rei D. Afonso e da rainha D. Matilde na noite de S. Martinho, uma quinta-feira, e por isso no baptismo deram-lhe o nome de Martinho, e depois foi cognominado Sancho. Nasceu aos 26 anos de idade do pai.
Era de 1195: No mês de Setembro morreu o Imperador D. Afonso, filho do conde D. Raimundo e da rainha D. Urraca.
Era de 1196: A 3 de Dezembro, uma quarta-feira, às 9 horas, morreu a ilustríssima serva de Deus, rainha D. Matilde, de preclara e nobilíssima linhagem, filha do muito famoso conde Amadeu, esposa de D. Afonso, rei dos Portugueses, para a qual haja verdadeiro descanso, Amem, no trigésimo ano do reinado de D. Afonso.
Era de 1196: A 24 de Junho, segunda-feira, no dia de S. João Baptista foi tomado o castelo de Alcácer pelo rei D. Afonso. Já anteriormente lhe pusera cerco por duas vezes ajudado por grande número de navios que vieram das partes do Norte, isto é, da França e regiões vizinhas daquelas, mas (Deus) ainda não apartara deles (dos infiéis) 11 a sua comiseração. Agora, porém, já estava completa a sua maldade e iniquidade, afastou deles a sua face e entregou-os às mãos dos Cristãos. O rei D. Afonso cercou-o só com o seu exército, durante quase dois meses, atacando-o valorosamente todos os dias, e no dia de S. João Baptista o Senhor entregou-lho, sendo dali expulsos todos os Sarracenos, no ano 33 do seu reinado.
Era de 1200: A 30 de Novembro na noite de S.to André Apóstolo, a cidade de Pace, isto é, Beja, é assaltada de noite pelos homens do rei de Portugal, D. Afonso, certamente Fernando Gonçalves e alguns outros soldados plebeus, e corajosamente é tomada e ocupada pelos Cristãos no ano 35 daquele reinado.
Era de 1204: A cidade de Évora é tomada e saqueada de noite e ocupada por Geraldo, denominado Sem-Pavor, e pelos ladrões, seus companheiros, e entregou-a ao rei D. Afonso. Pouco tempo depois o próprio rei tomou Moura, Serpa, Alconchel e mandou reedificar o castelo de Coruche, no ano 35 do seu reinado.
Era de 1206: Aconteceu uma infelicidade ao rei D. Afonso e ao seu exército em Badajoz no ano 41 do seu reinado.
Era de 1209: No mês de Agosto nasceu o rei Afonso, filho do Rei Fernando e da rainha D. Urraca, neto do rei de Portugal D. Afonso.
Era de 1212: O rei Sancho casou com a filha de D. Raimundo, conde de Barcelona, D. Dulce, irmã do rei de Aragão, D. Afonso, no ano 48 do reinado de seu pai.
Era de 1216: O rei Sancho dirigiu-se a Sevilha com o seu exército e entrou em Triana, antiga cidade de Sevilha, destruiu as muralhas desta cidade e saqueou-a no ano 41 do reinado de seu pai.
Era de 1217: No mês de Outubro veio Iacube, filho de Elmunimo, imperador dos Sarracenos, e seu irmão Frocem, até junto do castelo de Abrantes, com um exército de tanta gente que ninguém podia contar. Cercaram o castelo e assaltaram-no. Retiraram-se porém dali 4 dias depois com grande prejuízo do seu exército, tendo sido mortos muitos dos seus soldados. Durante o cerco, por vontade de Deus, apenas nove Cristãos foram mortos. Aconteceu isto no ano 52 do reinado do rei D. Afonso.
Era de 1218: Vieram de novo subitamente sem serem esperados ao castelo de Coruche e ocupando o destruíram-no, tendo matado ou levado em cativeiro todos os habitantes dele, no ano 53. daquele reinado.
Era de 1222: No ano ... 12 do reinado do rei de Portugal D. Afonso Iusef Abeujacob Emir Elmunimo segundo, imperador dos Sarracenos, filho de Ali Abelmuine, que foi chamado rei do burro, porque, passeando sempre num burro era tido por todo o povo como profeta e santo, no ano 32 do seu reinado, depois que submetera os reinos da outra Banda e se apoderara das maiores regiões de além mar, por exemplo, Gafsa e Gumera, que pertenceram ao rei Ali, e de todo o reino de Marrocos, e, no aquém-mar, de todo o reino que pertencera ao rei Lobo, por exemplo, Valência, Múrcia, Granada e das restantes cidades e castelos, que ao rei Lobo foram pertencentes, vendo que ninguém havia que lhe pudesse resistir e porque o terror dele invadira todos os povos, até às partes orientais, encheu-se de orgulho e pensou vir à Espanha e reconquistar as cidades e castelos que outrora estiveram na posse dos Sarracenos, como Lisboa, Sintra, Santarém, Évora, Alcácer e muitos outros castelos, ou vir a Coimbra: e assim, subjugada finalmente toda a Lusitânia até ao Douro, subindo pela margem deste rio, vir até Toledo e não desistir deste feito, embora o rei da França, o de Inglaterra, o de Aragão, o de Castela, o da Galiza e o de Portugal entrassem em pacto e o combatessem. E enquanto pensava nisto e estudava este plano com seus amigos, conselheiros e príncipes junto de si, enviou mensageiros a todos os reis que havia além-mar e a todos os reinos ultramarinos para que todos viessem em seu auxílio e acorressem e ajudassem a congregar todos os esforços para destruir a cristandade e exaltar e glorificar os da sua fé, prometendo que daria abundante e suficientemente a todos, que a ele se juntassem, víveres e mantimentos e todas as coisas necessárias para um ano. Ouvindo isto todos, com excepção de todo o seu exército de Marrocos, juntaram-se-lhe o exército de Cúmia, o do Algarve, o de Guma, o de Cenhega, o de Umivener, o de Vinihuhialgar, o de Chinierne, o de Hela, o de Héscora, o de Henchega, o de Harga, o de Henchegar e de muitas outras terras e províncias que não posso enumerar. Ainda também um outro exército, grande e forte, e bem instruído, veio em seu auxílio, assim como muitos reis, o rei Auzchi de Abde Arrahmane, o rei Azum, irmão daquele, o rei Hecie Aben Musa, o rei Abuzach, o rei Ismael e Abenjusef, irmão daquele, Abde Arrahmane rei de Zuz e Zoleima e Aburabe, rei de Chedala e o rei de Búgia. Todos estes reis do ultramar prepararam também muitos navios de guerra e de carga trazendo armas, trigo e máquinas para escavar as muralhas e transpô-las. Mandou também cartas e mensageiros a seus filhos que estavam aquém-mar, isto é, a Abozac, que era rei de Sevilha e Abdacu Abvialne, que era rei de Córdova e Abdarrhama Abuzeide que era rei de Granada, e a Gamo, que era rei de Múrcia e de Valência, que todos se preparassem para a batalha e, no dia em que ele atravessasse o mar e chegasse a Sevilha, que todos igualmente se lhe juntassem, e marcou-lhes o tempo e o mês. Como tudo aquilo que havia de ser necessário a todo o exército estivesse pronto de um lado e do outro, os navios preparados e todo o exército dos que vinham de partes diversas estivesse já igualmente congregado, o próprio imperador dos Sarracenos Emirelmunimo lucef Abenjacob, subindo para os navios com todas as suas tropas passou o piar e chegou a Sevilha. Também Jacob, filho daquele Abenjucef, que depois dele havia de reinar, a quem ele deixaria todo o seu império depois da morte, veio com ele, e outro filho Abozabz, que era rei a quem fez senhor não só do Algarve, mas também de todos os Árabes, tendo-se juntado todos em Sevilha, isto é, os que vieram de além-mar e aqueles que se lhe tinham juntado de aquém-mar. Não se quis demorar aí mais tempo, mas imediatamente construiu o acampamento, temendo que os Cristãos, sabendo disto, preparassem agora as suas cidades e castelos para resistirem. Não quis por isso dar-lhes tempo para levantarem muros, aprovisionarem víveres, ou construírem máquinas, mas vinham com rapidez, vinham em tão grande número e tantos como as estrelas do céu e, como se julgava, mais que a areia do mar, que se não pode contar por ser tal a quantidade. O próprio imperador Emirelmumino passara vista nos livros das crónicas de todos os reis Sarracenos, que houve antes dele e vieram à Espanha desde o tempo em que primitivamente aí vieram e muitas vezes a assolavam, e tendo contado o maior exército daqueles que a tinham invadido até aos Alpes, ele julgava que tinha consigo um exército muito maior, trazendo com ele mais 78 mil homens. Efectivamente era enormíssimo e forte o seu exército, ocupando montes e vales e toda a superfície da terra, cujo número só Deus, que pode contar as gotas da chuva, poderia conhecer.

Notas:

1. Tradução do Professor Albino de Faria, cuja ortografia se respeita. (Nota dos editores)

2. O texto latino diz: Era septuagesima trigesima nona, que julgo ser gralha em vez de septingentesima trigesima nona, e por isso corrigi traduzindo 739 expressão que é justificada pela data seguinte. (Nota do tradutor)

3. Assim diz, erradamente, a Monarquia Lusitana Nos Portugaliae Monumenta Historica, Scriptores, pág. 9, col. 1, lê-se, porém: - «Ramiro, filho de Bermudo, reinou 7 anos». (Nota dos editores)

4. O texto latino diz 124, mas julgo ser gralha e por isso o corrigi para 1024. (Nota do tradutor)

5. 0 texto latino diz 1206, mas, julgando ser gralha, corrigi para 1026. (Nota do tradutor)  

6. Se é exacta a notícia que, noutro lugar, dá a mesma Crónica dos Godos,  em 8 de Maio de 1093, D. Afonso VI de Leão conquistou Sintra aos Mouros. Pelo visto, estes retomaram-na, não se sabe quando, para o Conde D. Henrique poder reconquistá-la em Julho de 1190. Voltou para o poder dos mouros, até que, talvez em fins de 1147, foi recuperada para os cristãos, por acção de D. Afonso I de Portugal. (nota de Alfredo Pimenta)

7. Não é possível identificar-se este lugar. (nota de Alfredo Pimenta)

8. este «Rei Ciro» é Sir Ibne Abu Bakr, comandante supremo do exército almorávida, e emir de Sevilha (Aben Abi Zara, Rud El Cartás, pág. 165 da trad. castelhana de A. Huici). Morreu em Sevilha, três anos depois. (nota de Alfredo Pimenta)

9. É uma das muitas datas em que se coloca o nascimento do primeiro Rei de Portugal. Nenhuma delas está comprovada documentalmente. Todas as que os historiadores têm fixado são conjenturais. Por mim inclino-me a que tivesse nascido à volta de 1106.  (nota de Alfredo Pimenta)

10. Não está expresso no texto original este nome. Em vez dele está um espaço em branco. (Nota do tradutor)

11. O itálico foi acrescentado pelo tradutor. (Nota dos editores)   

12. No original não indica o ano. (Nota do tradutor)

Fonte:

Frei António Brandão, Monarquia Lusitana, Parte Terceira, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1973, págs. 129-137.

A ver também:

  • Cronologia
    Secção da página sobre as «Ciências auxiliares da História».


Historiografia
Crónica dos Godos
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