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João José António Frederico
João José António Frederico

 

Frederico (João José António).

 

n.      22 de setembro de 1799.
f.       20 de abril de 1846
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Director da alfândega de Bissau, advogado na ilha de S. Tiago, de Cabo Verde, delegado da Coroa, juiz de direito e juiz dos órfãos; cavaleiro da Ordem militar de N. S. Jesus Cristo. Nasceu a 22 de setembro de 1799 na Ribeira de S. Domingos, freguesia de S. Nicolau Tolentino, da ilha de S. Tiago, no lugar denominado Figueira Branca. Faleceu a 20 de abril de 1846, em viagem para Bissau. Foram seus pais João Frederico Hopffer, filho de Cristóvão Augusto Hopffer, e Sabina Francisca, da vila de Uffenheim, na Alemanha. 

Seu avô paterno foi João Frederico Erasmo de Hopffer, barão deste ultimo apelido por diploma de José II, imperador de Áustria. Seu pai, saindo da casa paterna, dirigiu-se a Holanda onde embarcou para Batávia, e, como o navio tocasse na ilha de S. Tiago, deliberou ficar aí. Instruído nas línguas e na ciência medica, a que se destinava, foi logo muito considerado. Em pouco tempo aprendeu a língua portuguesa, sendo feito secretario do governador-geral da província de Cabo Verde, que era o tenente-co­ronel António Machado Faria e Maia (1784). Casou com D. Maria Serafina dos Santos Ribeiro de Macedo, filha legítima do dr. Manuel Ribeiro de Macedo, descendente do célebre desembarga­dor da Suplicação Duarte Ribeiro de Macedo. Faleceu na referida ilha, na sua casa da Ribeira de S. Domingos, a 1 de fevereiro de 1801; e sua mulher faleceu a 28 de janeiro de 1808. João Frederico ficou então entregue aos cuida­dos do ilustrado cónego da sé Manuel Rodri­gues da Silva Fonseca, que muito cuidou da sua educação e instrução. Em 12 de fevereiro de 1820, casou com D. Maria dos Santos Monteiro. 

Dedicando-se ao estudo da jurisprudência, adquiriu grande cópia de conhecimentos e tornou-se um advogado distinto e triunfante, defendendo causas importantes e rendosas. Reconhecido como afecto à causa de D. Pedro IV foi muito perseguido pelos absolutistas, e, nas vésperas de ser preso, conseguiu embarcar para a América do Norte, a bordo da escuna Seline & Jane, no dia 13 de dezembro de 1831. Visitou vários países da América e passou depois a Goreia, Gâmbia, Serra Leoa, Rio Nuno e Bissau, sendo aqui novamente perseguido como liberal. Só em 1834, quando triunfou o liberalismo, é que voltou a S. Tiago. Desempenhou então os cargos acima indicados de delegado da Coroa, juiz de direito e dos órfãos, e no exercício destas funções recebeu o grau de cavaleiro de Cristo. Nesse ano de 1834, é que o batalhão Açoriano foi enviado por castigo para Cabo Verde, se insurreccionou e proclamou D. Miguel, fuzilou todos os oficiais liberais, saqueou a Vila da Praia, e não matou João Frederico que a tempo se retirou para a Figueira Branca, onde se organizou a força que marchou contra o regimento insurrecto, que teve de abandonar a terra, embarcar e seguir mar fora. Logo a seguir foi nomeado governador-geral o coronel Joaquim Pereira Marinho, em 1835, homem de caracter duro e disciplinador. Durante o seu governo descobriu-se a conspiração geral dos escravos para matarem os senhores. Procedeu-se a uma rigorosa devassa, que apurou quais os cabeças da conspiração, sendo representado o Ministério Publico por João José António Frederico. As cabeças foram condenadas à morte e o governador determinou que fossem fuzilados imediatamente. O delegado do ministério público pós embargos à execução imediata, alegando que a sentença não devia ser executada sem a sanção do poder moderador, em conformidade com o disposto na Carta Constitucional já em vigor. O governador não aceitou o embargo e os escravos foram fuzilados. O delegado protestou, e o seu protesto foi aceite e aplaudido pelo governo da metrópole, e o governador-geral demitido. 

Homem de clara percepção, dado ao estudo a que consagrava muitas horas por dia, possuindo uma farta livraria de notáveis autores latinos, franceses, ingleses e portugueses, deixou escritos que compro­vam sua inteligência, erudição e bom senso : 1.º Vida de João José António Frederico escrita por ele mesmo; 2.º Discursos de J. J. A. Frederico sobre a decadência das Ilhas de Cabo Verde; 3.º Noticias e informações sobre alguns países da América do Norte, sobre Goreia, Gâmbia, Serra Leoa, Rio Nuno, visitados por J. J. A. Frederico; 4.º Reflexões sobre Bissau, etc., etc. 

Desejando voltar para Bissau, onde esteve em 1833 e 1837, solicitou e obteve ser despachado segunda vez diretor da respetiva alfândega, cargo então de pingue rendimento. Na sua última viagem para Bissau, debaixo de um formidável temporal, estando no convés a observar o Oceano agitadíssimo, uma onda arrastou várias pessoas e entre elas João Frederico, que se achava envolvido em um grande capote, e ape­sar de ser um bom nadador foi logo para o fun­do e não mais tornou a aparecer. Isto sucedeu a 20 de abril de 1846, quando tinha apenas 46 anos de idade. O retrato que reproduzimos foi tirado na América inglesa no ano de 1832. Do seu casamento houve seis filhos, entre eles o dr. Hopffer. (V. este nome).

 

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume III, pág
s. 579-580.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral