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O Portal da História Dicionário > D. Luís Manuel da Câmara, 3.º conde da Ribeira Grande
Brasão dos condes e marqueses da Ribeira Grande
Brasão dos condes e marqueses da Ribeira Grande

Ribeira Grande (D. Luís Manuel da Câmara, 3.º conde da).

 

n.      18 de janeiro de 1685.
f.       3 de outubro de 1723.

 

Comendador de S. Pedro de Torrados; alcaide-mor da Amieira, na Ordem de Cristo; 10.º donatário e capitão general da ilha de S. Miguel; 7.º alcaide-mor do castelo de S. Brás, etc.

Nasceu a 18 de janeiro de 1685, faleceu a 3 de outubro de 1723. Era filho do 2.º conde da Ribeira Grande, D. José Rodrigo da Câmara, e de sua mulher, a princesa Constança Emília de Rohan.

Serviu na guerra da Sucessão de Espanha, foi ferido em Almanza, ficando depois prisioneiro em 1707. Posteriormente, em 1712, achando-se nomeado comandante da artilharia do exército do Alentejo, cujo chefe era Pedro Mascarenhas, sabendo que o marquês de Bay fora pôr cerco a Campo Maior, pediu ao general que lhe desse o governo da praça sitiada, e com o brigadeiro Massé, que saíra de Elvas com o mesmo fim, procurou introduzir-se em Campo Maior, mas a vigilância dos sitiadores impediu-os a ambos de realizarem o seu intento. Entretanto os defensores da praça faziam uma primeira sortida com felicidade, e o conde, não podendo consolar-se de não entrar na vila, de tal modo instou com Pedro Mascarenhas, que este lhe deu trezentos granadeiros e setenta soldados de cavalaria com que buscasse romper o bloqueio. À frente desta pequena força o conde e o brigadeiro Massé aventuraram-se até às proximidades de Campo Maior, e sendo pressentidos pelo inimigo a cavalaria que patrulhava em torno da praça, correu sobre ele. Os granadeiros, que marchavam muito unidos, receberam os adversários nas pontas das baionetas, e o novo governador de Campo Maior entrou assim à viva força na praça, onde a guarnição o recebeu com entusiasmo. A trincheira fora já aberta, mas a guarnição incomodava tanto os espanhóis com frequentes sortidas, eram tão bons os nossos artilheiros e causavam com o seu fogo tantos prejuízos, que os trabalhos do assédio avançavam muito vagarosamente, e que ainda o brigadeiro inglês João Hogan conseguiu romper a linha do bloqueio com trezentos granadeiros e cinquenta soldados de cavalaria. A defesa continuava enérgica, mas o ataque era também vigoroso. O bombardeamento espalhava o terror na vila, as mulheres já se tinham refugiado nos conventos, muitos oficiais estavam doentes de cansaço, mas tudo se remediava com a energia dos restantes, a boa vontade da população, e as boas disposições dos engenheiros, dos comandantes da artilharia e do governador. As sortidas prosseguiram, nem sempre venturosas, mas impedindo que o inimigo completasse o bloqueio, porque sempre Campo Maior se conservou em comunicações mais ou menos fáceis com Elvas, donde o conde da Ribeira Grande chegou a receber uma vez quarenta bombas ardentes. Intentando uma sortida mais vigorosa com o fim de encravar as peças do inimigo, viram-se os sitiados obrigados a retirar sem conseguirem o seu intento com perdas, mas depois de terem penetrado até à segunda trincheira. Para não expor a guarnição a alguns desastres limitou-se o conde a segurar a defensiva repartindo com grande prudência pelos oficiais que tinha debaixo das suas ordens os postos mais arriscados, até que notando a 25 de outubro que o inimigo se preparava para o assalto, guarneceu com prontidão a brecha, distribuiu a guarnição, que apesar de ter sido reforçada, contava só mil e trezentos homens capazes de pegarem em armas, e mandou fazer junto da brecha uma grande fogueira para impedir qualquer surpresa nocturna. Assim precavido esteve o conde da Ribeira Grande até ao dia 27 de outubro, que fora efectivamente apresado pelos inimigos para o assalto, mas nesse dia houve uma coincidência notável. Pedro Mascarenhas resolvera introduzir na praça mais considerável reforço, e pela manhã chegavam perto da vila uns setentos homens comandados pelo conde da Ericeira D. Luís de Meneses e pelo general Paulo Caetano de Albuquerque. Atacados pelos espanhóis que se estavam formando para o assalto, receberam os nossos o combate com grande solidez e rompendo sempre através da nuvem dos contrários, entraram na praça a tempo que a infantaria espanhola começava a dar o assalto de modo que os novos e briosos defensores de Campo Maior, sem descanso foram logo repelir o inimigo da brecha. Os assaltantes travaram a luta com grande energia mas a lenha que ardia em frente da brecha, foi o primeiro obstáculo que eles encontraram, e depois a valorosa resistência dos portugueses e até o seu próprio número lhes foi prejudicial, porque as reservas que tinham avançado até à estrada coberta, ficaram assim expostas ao fogo terrível da praça. Além disso, três peças carregadas de metralha completaram por tal forma o destroço dos espanhóis, que tinham chegado à brecha, que depois de dois assaltos se viram obrigados a retirar precipitadamente com gravíssimas perdas, vendo-se obrigado o general D. Pedro de Zuniga, que comandara o assalto, a pedir um armistício para levantar os mortos e os feridos. Depois desta infrutífera tentativa, o marquês de Bay, vendo próximo o Inverno e sabendo que a praça fora socorrida e notando a constância dos sitiados, resolveu-se a levantar o cerco, que durara um mês. 

O conde viu partir com grande júbilo o numeroso exército que o sitiara, Pedro Mascarenhas entrou na praça para felicitar a guarnição e o comandante pela brilhantíssima defesa, o país todo soltou um grito de unânime admiração. D. João V, mandando gratificar todos os soldados que pelejaram na brecha, ordenou que os oficiais fossem preferidos nas promoções, e escreveu ao conde da Ribeira Grande e aos outros generais, congratulando-se com eles pelo seu admirável proceder. O conde da Ribeira Grande foi nomeado embaixador extraordinário à corte de França, assistiu como plenipotenciário ao congresso para a paz de Cambrai, permanecendo naquela corte durante sete anos. 

Casou a 11 de março de 1711, com D. Leonor Teresa Maria de Ataíde, filha de Jerónimo de Ataíde, 9.º conde de Atouguia. Faleceu ainda em vida de seu pai.

  

 

 

 

 

Genealogia do 3.º conde da Ribeira Grande
Geneall.pt

 

 

 

 


Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VI, pág. 230.

105Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral