Portugal - Dicionário

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Zambésia.

 

Região banhada pelo curso inferior do Zambese na província de Moçambique, África Oriental. 

Passou a ser assim denominado o território a que outrora se dava o nome de Rios de Sena. Por portaria de 4 de fevereiro de 1858 foi determinado que assim se ficasse chamando oficialmente a totalidade dos territórios sujeitos à soberania portuguesa no vale do Zambeze, desde as fozes deste rio até acima do antigo presídio do Zumbo. A extensão deste território até ao Zumbo pôde ser calculada em 1.000 km. A sua largura não está bem determinada, mas os limites são pelo lado do S os territórios do distrito de Sofala e pelo lado do N o sertão de Angoche. O relevo orográfico da Zambézia não é igual no interior ao do litoral. No litoral dominam as planícies, de modo que as cheias do Zambeze inundam grandes superfícies. A região do interior é notavelmente montanhosa. A Zambézia, como dissemos, é banhada pelo grande rio que lhe deu o nome e pelos afluentes que a ele correm na região. O solo é fertilíssimo: produz gergelim, amendoim, milho grosso e miúdo, mapira (painço) mexoeira, algodão, cana sacarina, etc. e nos terrenos incultos crescem árvores frondosas, muitas das quais dão madeira excelente para construção e carpintaria. Entre as árvores de que mais se utilizam os indígenas deve citar-se a palmeira brava, da qual tiram valiosos recursos; cobrem as palhotas com a sua folhagem, aproveitam-lhe a madeira para o fabrico de cordas, e da sua amêndoa fazem farinha com que se alimentam em tempos de escassez, e sura. A cultura das sementes oleaginosas tem-se desenvolvido muito, e é um dos artigos de exportação. 

Na baixa Zambézia habitam os macúas; no Massingire e no delta formado pelo Chire e pelo Ziué-Ziué e no território denominado Maganja, os maganjas; e na alta Zambézia, desde Sena, os munhais. São geralmente bem feitos, altos o robustos, de feições menos irregulares do que outros povos da raça negra, e pacíficos e pouco aguerridos. O casamento entre os indígenas assemelha-se a uma compra da mulher. O noivo paga ao pai da noiva uma porção de algodão, missanga ou outros géneros, e recebe a mulher. Em algumas povoações, os rapazes e as raparigas dormem promiscuamente na mesma casa, e é raro que esta promiscuidade dê maus resultados, porque são severas as penas aplicadas aos atentados ao pudor. As habitações dos indígenas são em geral palhotas, algumas elegantes, levanta das sobre estacas de pau ferro, com uma espécie de varanda em torno. Na alta Zambézia as palhotas são quase todas feitas com estacas e apresentam a forma quadrada ou redonda, tendo muitas um corredor em volta. Os mais abastados armam as palhotas com paus e canas e aplicam-lhes um revestimento de barro. As línguas faladas na Zambézia são o ichuabo ou língua de Quelimane, a língua de Sena, a de Tete, e a língua chinhanja. A primeira é um dialecto macúa, as outras duas pertencem à língua munhar, e a última é um dialecto especial. Em geral os povos da Zambézia pintam o corpo da cintura para cima, traçando várias riscas e desenhos. As mulheres furam o lábio superior e enfiam nele uma rodela. São muito supersticiosos, e por isso abundam entre eles os curandeiros, os feiticeiros e os adivinhos. São pouco industriosos os povos desta região. Contudo, em algumas partes fabricam taças, açucareiros e outros objectos de madeira, marfim e ponta de abada, bem como azagaias e machados e objectos de prata e ouro. As mulheres têm os panos com que se resguardam. O clima varia, conforme as regiões. 

A Zambézia forma hoje um distrito do seu nome, sendo a sua capital a vila de Quelimane, que anteriormente também foi a capital dum distrito do seu nome constituído por esta região da Zambézia. (V. Quelimane). No distrito há minas de chumbo, cobre e ouro, sendo estas últimas as que figuram em maior número; plantações de borracha, café, cana de açúcar e coqueiros, e uma fábrica de açúcar em Namacurra. Os prazos da coroa são numerosos, o na sua maior parte estão arrendados às companhias da Zambézia, do Boror, do Luabo, e à Société du Madal. Numerosas casas comerciais, Observatório meteorológico, Igreja do Coração de Jesus da missão Zambeziana, em Quelimane, agências de seguros, etc. Em 1903 publicou se o livro do Sr. J. C. D. de Sousa e Faro Júnior, oficial de marinha. A obra está dividida em 4 secções.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VII, pág. 720.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral