O Arquivo Militar

 

 

O «Arquivo Militar para a conservação das Cartas militares, geográficas e marítimas» foi criado em 4 de Setembro de 1802, na dependência da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, para centralizar as memórias, plantas e planos militares, tanto sobre Portugal como sobre os países estrangeiros, dispersas por várias instituições da monarquia.

O marquês de Marialva

O Marquês de Marialva


O seu primeiro Director, foi o coronel do Regimento de Cavalaria de Mecklemburgo, o marquês de Marialva, D. Pedro, antigo ajudante de ordens do comandante em chefe do Exército, o Duque de Lafões, e filho do Ajudante-general do Exército.

Em 1807 tinha três oficiais «empregados no Arquivo», o tenente coronel engenheiro Eusébio Dias Azedo, filho do defensor de Campo Maior na Guerra de 1801, o capitão engenheiro José Maria das Neves Costa, o conhecido autor das «Memórias sobre a Campanha do Alentejo de 1801», e auto-proclamado proponente original da construção das Linhas de Torres em 1810,  e o capitão engenheiro Joaquim Norberto Xavier de Brito. 

Um dos primeiros «oficiais engenheiros empregados no Desenho do Arquivo», foi Marino Miguel Franzini, oficial da Brigada Real de Marinha, transferido para o Exército com o posto de major de Engenharia, filho do Dr. Michele Franzini, de Veneza, antigo professor do Príncipe Regente, e um dos oficiais do círculo de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, ao tempo Secretário de Estado da Fazenda, e antigo Secretário da Marinha. Os outros três oficiais empregues no Desenho das cartas eram o major Inácio José Lopes, e os primeiros tenentes Luís Manuel de Serpa e Francisco Pedro Ambués Moreira.

A criação do «Arquivo» teve a sua origem no desenvolvimento da actividade da Sociedade Real Marítima, criada em 1798, e no aumento significativo da produção cartográfica que esta instituição provocou em Portugal, mas é fruto directo do estabelecimento do Estado-Maior da Inspecção das Fronteiras do Reino criado neste mesmo ano de 1802 sob a direcção do Quartel-Mestre General do Exército, o marquês de La Rosière, comandante do exército do Norte na Guerra de 1801. 

Mas de facto o Arquivo Militar não fazia mais do que instituir em Portugal o célebre Dêpot de la Guerre francês, criado em 1688 por Louvois, e que a partir de 1772 passou a arquivar as cartas e os relatórios criados pelos engenheiros geógrafos franceses. O aumento da sua importância, no exército francês durante a Guerra dos Sete Anos (1757-1763) não passou despercebido ao conde de Lippe que quando propôs a criação do Corpo de Engenheiros, nas Observações Militares dirigidas ao Conde de Oeiras ... em 5 de Setembro de 1764, defendeu a divisão destes oficiais  em duas classes, "de engenheiros propriamente ditos, e de engenheiros geógrafos." O marechal general defendia que estes oficiais deviam "entender os elementos de Euclides, a trigonometria, a aritmética e o desenho, e terem alguns princípios de fortificação," concluindo dizendo que "parte destes engenheiros geógrafos estarão em tempo de guerra junto ao quartel-mestre general." Foi de facto o que foi realizado, quase 40 anos depois.

Durante o período da guerra na Península o Arquivo não sofreu modificações, tendo sido nomeado o general Matias José Dias Azedo como novo responsável do Arquivo, com o título de Inspector, substituindo o marquês de Marialva, em França desde 1807. A grande mudança deu-se em 1814 com a criação, por proposta de Franzini, de uma Comissão de Estatística e Cadastro do Reino, que permitiu a realização das Instruções estatísticas que por ordem do Excelentíssimo e Reverendíssimo senhor o Principal Sousa compilou Marino Miguel Franzini ..., e que deu origem ás Reflexões sobre o actual regulamento do Exército de Portugal publicado em 1816; ou análise dos artigos essencialmente defeituosos e nocivos à nação: com um projecto de um plano de organização para o mesmo exército, ilustrados com mapas do estado da povoação do reino, e sua classificação segundo as idades, sexo, estudo e profissões, enviado para a corte do Rio de Janeiro em 1816,  obra que foi impressa em 1820.

Em 1822 o Arquivo foi colocado na dependência da Inspecção do Comando Geral do Corpo de Engenheiros, tendo perdido a sua Comissão de Estatísitica, mas, de acordo com o Almanach Portuguez de 1825, ainda existia nesse ano com o título de Real Arquivo Militar, tendo por director o marechal de campo Manuel de Sousa Ramos, e como encarregado do expediente o coronel Franzini, sendo composto de 9 oficiais empregados no Desenho. O regresso à situação anterior a 1822 comprova a aplicação da decisão tomada pelo governo de D. João VI após a Vila Francada de renegar todas as decisões tomadas durante o triénio liberal português, de 1820 a 1823.


 
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