Os Marechais

 

O comando do exército no tempo do marquês de Pombal

A política militar de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, secretário de estado dos Negócios estrangeiros desde 1750, tinha-se esgotado nas decisões de 1754, com a diminuição para metade dos efectivos do exército de D. João V, e com a mudança radical na estrutura de comando, aumentando a aristocratização do exército, numa reacção radical contra a popularização dos comandos militares acontecida a partir de 1735, com o aumento do exército em preparação para uma possível guerra contra a Espanha, que acabou por não ser desencadeada.

 

O Terreiro do Paço

Cortejo de Gala no Terreiro do Paço
de José Caetano Círiaco

Em 1762, a falta de preparação do exército para a guerra, devido ao estado diminuto dos efectivos e dos oficiais, fez com que o colocar o exército em pé de guerra em Fevereiro daquele ano se tivesse tornado um objectivo impossível de alcançar, mesmo com a ajuda material britânica. Sabe-se como o marquês se defendeu publicamente, já no reinado seguinte de D. Maria I, atirando as culpas para o estado do exército em fins do reinado de D. João V, aproveitando em seu favor o natural desconhecimento das elites do século XVIII sobre tais assuntos, e o esquecimento de que as medidas de diminuição do exército tinham sido tomadas em 1754 e não em 1755, como o marquês afirmará, tanto em 1762, quando explicou a situação do exército ao governo britânico e depois na sua defesa pública.

Em Abril de 1762 o barão conde, D. José Lobo da Silveira, foi nomeado marechal do exército, entregando-se-lhe o comando do exército.

A invasão espanhola de Trás-os-Montes primeiro, e mais tarde franco-espanhola na Beira, apanhou desprevenido o governo português. O exército não estava preparado para a guerra, tinha os seus efectivos com metade dos efectivos regulamentares e a preparação para a guerra, ligada a um aumento brutal dos  efectivos regulamentares, decidido no mês de Abril, para reforçar os regimentos portugueses, impôs um esforço de fardamento e armamento que as estruturas da época não conseguiram naturalmente fazer face.

Enquanto o novo marechal do exército concentrava o exército em Abrantes, tentando recrutá-lo, organizá-lo, fardá-lo e armá-lo, o na altura conde de Oeiras, o futuro marquês de Pombal, tentava conseguir o apoio britânico ao envio de tropas para Portugal. O governante português tentava também impedir que o embaixador britânico em Portugal tomasse o comando da força expedicionária britânica, o que o levaria a assumir o comando do exército de campanha conjunto.

De facto, Sebastião José de Carvalho conseguiu o afastamento de Lord ... da embaixada, e o envio de uma personagem não britânica para comandar o exército anglo-português. A escolha recaiu num príncipe alemão, o conde reinante de Schaumbourg-Lippe, soberano de uma dos mais insignificantes casas soberanas do Império alemão. Enquanto antigo comandante da artilharia do exército britânico na Alemanha, que sob o comando do general prussiano duque de Brunwisck tinha defendido a Alemanha ocidental das forças francesas desde praticamente o começo da Guerra dos Sete Anos, em 1757, era um oficial de reconhecida experiência militar, para além de ser parente da casa real britânica - e, segundo parece, filho natural do defunto rei da Grã-Bretanha Jorge II. Acompanhado do irmão mais novo da rainha Carlota da Grã-Bretanha, o duque Carlos de Mecklembourg-Strelitz, que reinará, devido à morte do irmão sem sucessão, a partir de 1796, a vinda do conde de Lipe permitiu a Portugal não perder a face, já que não se entregava o comando do exército conjunto a um oficial britânico, e a sua promoção a marechal general do exército português assegurava um comando «português» do exército de campanha conjunto.

Impedia-se, desta maneira, que o comandante da força expedicionária britânica dirigisse directamente o exército português.

A «Viradeira»

Esta política «pombalina» foi seguida até ao fim do reinado de D. José, mantendo-se o conde de Lipe como marechal-general até à sua morte em 1777. Preparando a sua morte, e a pedido do governo português, foi enviado para Portugal em ... o conde Carlos de Oyenhausen-Gravenburg, com intenção de vir a assumir o comando do exército português.

A morte no mesmo ano do rei D. José e do conde de Lipe, a subida ao trono de D. Maria I, e a demissão do marquês de Pombal, pôs em causa esta política. A política da «Viradeira» no exército seguiu várias tácticas, mas tinha a intenção final de conseguir a monopolização pela aristocracia portuguesa do comando do exército, afastando tanto quanto fosse possível os oficiais estrangeiros das posições dirigentes que tinham exercido durante o reinado de D. José.

A campanha começou quando o 2.º conde de Bobadela, José António Freire de Andrade, governador das armas do Partido do Porto, acusou o conde de Oyenhausen de ter modificado o regulamento de infantaria sem autorização, aplicando-o ao seu regimento, o 2.º regimento de infantaria do Porto (n.º 18). Seguiu-se pouco tempo depois, em 1778, a denúncia dos oficiais protestantes - quase todos escoceses - do regimento de artilharia do Porto, aquartelado naquele tempo em Valença. José Anastácio da Cunha foi apanhado no ataque, e teve de se apresentar na Inquisição, acusado dos crimes de libertino, deístaindiferentista. Outro exemplo de ataque aos oficiais estrangeiros é o da proposta de promoção de Santo António no Regimento de Infantaria de Tavira (n.º ...), preterindo um oficial inglês. O coronel Forbes, do regimento de cavalaria ..., oficial escocês que ao casar com uma portuguesa se tinha convertido ao catolicismo, e por isso passara a ser um súbdito português, foi transferido do seu regimento na Beira para um regimento em Trás-os-Montes, de facto exilando-o. Este movimento de oposição, ligado ao começo da Guerra da Independência dos Estados Unidos da América, e à necessidade de recrutamento de oficiais britânicos e estrangeiros para o exército britânico e para as forças auxiliares alemãs, fez com que no final da década de 80 do século XVIII, houvesse muito poucos oficiais estrangeiros no exército português.

 

Marechais generais

D. José António Francisco Lobo da Silveira, 1.º marquês e 10.º barão de Alvito, 4.º conde de Oriola, marechal general de 5 de Abril de 1762 a 1 de Junho de 1773;
Frederico Guilherme Ernesto, conde reinante de Schaumbourg-Lippe, de 3 Julho de 1762 a 1777.
D. João Carlos de Bragança, duque de Lafões, de 13 de Maio de 1791 a 1 de Julho de 1801;
Arthur Wellesley, conde, marquês e duque de Wellington, de 29 de Abril de 1809 a 1814;
William Carr Beresford, conde de Campo Maior, de 2 de Junho de 1816 a 1820.

Marechais do Exército

Christian August von Waldeck, de 19 de Abril de 1797 a 24 de Setembro de 1798;
Karl Alexander von der Goltz, de 1 de Julho de 1800 a 1 de Julho de 1806 (estando ausente desde Julho de 1802).
Charles-Joseph-Hyacinthe du Houx, conde de Vioménil, de 4 de Novembro de 1801 a ...;
William Carr Beresford, de 7 de Março de 1809 a 2 de Junho de 1816.

Modificado em 31 / 1 / 2205

continuação

 

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