Portugal - Dicionário
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AOS SENHORES ASSINANTES

 

Com o presente volume conclui-se hoje a publicação do dicionário Portugal -, que fica constando de sete volumes. Obras similares apresentam número muito maior de volumes, e não são infelizmente raros os exemplos das que não chegaram a concluir-se, causando avultados prejuízos materiais ás empresas editoras e não menos importantes prejuízos ao público, que durante algum tempo amparou tais publicações.

Sem outro auxilio mais do que os recursos próprios, sem o mínimo incentivo oficial, que numa obra desta ordem bem merecia, a publicação do - Portugal - viveu apenas do capital da empresa editora e do produto das assinaturas, com que foi distinguida. A obra prestar-se ia, é certo, a lucros especiais, se na sua publicação tivesse havido intuitos gananciosos.

Para um mercado literário tão restrito como o nosso, cada vez mais reduzido na sua expansão comercial, foi bastante lisonjeira a aceitação que recebeu a obra. Esse apreço público manteve-se decididamente. Nos doze anos, porém, que durou a publicação, sobrevieram tantas alternativas de tempo e de espaço, que a própria obra as fica demonstrando e que não deixaram de afectar a assinatura.

Na história portuguesa o período quê abrange a publicação do nosso dicionário foi tão fértil em factos notáveis, que com eles a obra foi talvez ganhando em extensão, mas isso a há de tornar digna de maior apreço, como trabalho histórico.

Com a mudança das instituições políticas em 5 de Outubro de 1910, que alcançou a obra já no fim do quarto volume, deu-se a extinção de direito dos privilégios e títulos de nobreza. É esta uma das mais interessantes divisões da obra, que assim está quase definitiva nos seus artigos heráldicos e genealógicos.

O dicionário Portugal fica sendo, como se ponderou no princípio do primeiro volume, uma obra não só de consulta como de vulgarização. Os dois redactores, que coligiram os materiais acumulados que constituem o dicionário, não pretenderam apresentar um trabalho de erudição, própria ou alheia. Coordenaram como puderam e souberam quanto julgaram de interesse e de utilidade histórica e literária. De forma alguma se teve a pretensão de que a obra fosse completa, sem lacunas.

Não foi possível obviar a alguns defeitos dos mais salientes. O maior é por sem dúvida a falta de uma justa proporção entre alguns dos artigos e o seu objecto. Assim, povoações de menor importância tem notícia mais extensa que algumas cidades ou vilas. Caso idêntico sucede com os artigos biográficos, mas a razão foi, para os mais reduzidos, a falta de elementos, para os mais extensos a abundância deles. Quando os elementos eram inéditos aproveitaram-se o mais possível. Quando, aliás, a abundância provinha de fontes conhecidas, procurou-se manter a proporção que deve ser inseparável da unidade.

Muitas confusões houve na redacção de vários artigos, mercê de numerosos elementos que se coligiram, ou consultaram, sobre os respectivos assuntos. A abundância traz dificuldades maiores que a relativa escassez

Se muitos elementos foram espontaneamente oferecidos por ilustrados colaboradores, outros houve que se alcançaram devido a uma insistência que só o desejo de tornar a obra interessante podia animar, em face de recusas terminantes, que mostravam talvez o receio de ser exigida remuneração pelos artigos publicados. A nossa iniciativa nem sempre foi bem compreendida.

O plano da obra não é perfeito e muito menos decorridos tantos anos depois de que foi elaborado e iniciados os trabalhos preliminares. Mas assente um plano, bom ou mau, tornou-se indispensável segui-lo. Parece-nos que os redactores se não afastaram dele, sempre que isso não foi impossível. Ao menos terá a obra esse mérito, embora não compense os defeitos que a critica lhe reconheça.

Conhecendo que a história só tem a lucrar com a ementa de todos os factos e personagens que nela tiveram lugar; mais ou menos merecido, acham-se incluídos no Portugal nomes que talvez o não devessem ser, mas que aí ficam estampados para a história os considerar como for de justiça.

Não nos cumpre encarecer, mas também não deixaremos de acentuar, o serviço que esta obra prestará ás gerações futuras, pois aqui se encontram numerosas notícias do passado que lhes hão de interessar com a sua disposição lexicográfica é sempre fácil a consulta. O leitor que, por simples curiosidade, folheie qualquer volume, pode decerto apreender sem esforço, e como que ao capricho da leitura de momento, mais do que desejava saber ou verificar.

A ideia de um Suplemento final, que actualizasse toda a obra, foi posta de parte porque esses apêndices teriam de suceder-se, tornando-se preferível que a obra fique tal como se encontra.

Muitos artigos há que são definitivos, apresentando dados seguros e completos.

Era sem dúvida esta obra uma empresa superior ás nossas forças, mas reunidas ás dos que connosco cooperaram tudo se venceu, e aqui temos o prazer de apresentar o sétimo e ultimo volume da obra, que decerto honra os seus autores e nos causa um legitimo orgulho.

Congratulando-nos com os senhores assinantes que até final nos acompanharam, sentimos a natural satisfação de haver cumprido mais uma vez os compromissos tomados pela nossa casa com esta publicação.

 

Lisboa, 12 de Março de 1915.

JOÃO ROMANO TORRES & Cª

 


Transcrito por Manuel Amaral

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume VII, pags. 1 a 3

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © Manuel Amaral 2000-2010