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Vitorino Dantas Pereira
Vitorino João Carlos Dantas Pereira

 

Dantas Pereira (Vitorino João Carlos).

 

n.      2 de agosto de 1801.
f.      
5 de setembro de 1867.

 

Fidalgo cavaleiro da Casa Real, comendador de Cristo, cavaleiro de S. Tiago, cavaleiro de Avis e cavaleiro de 1.ª classe da real Ordem militar de San Fernando, de Espanha.

Nasceu em Lisboa a 2 de agosto de 1801, sendo o filho primogénito de José Maria Dantas Pereira (V. este nome), e de D. Maria Eugénia da Cunha Pessoa.

Foi seu padrinho de baptismo o príncipe regente, e madrinha a princesa D. Carlota Joaquina. Com três anos, apenas, acompanhou seus pais para o Brasil na comitiva real, em 1807. Aí lhe foi por eles ministrada a primeira instrução e, depois, continuou os estudos na cidade do Rio de Janeiro, até que foi obrigado a interromper o primeiro ano da Academia Real Militar, para voltar com a família para Portugal, em 1820. Ainda no Brasil, lhe havia sido feita mercê, por D. João VI, do foro de fidalgo cavaleiro da sua real Casa, que por seu pai lhe pertencia. Em Lisboa, seguiu os estudos superiores da Real Academia de Marinha, da Real Academia de Fortificação e do Real Laboratório de Química e Física, com que completou o curso de artilharia em 1826. Foi promovido, de cadete de Artilharia 1 a segundo-tenente do mesmo regimento em 1825; a primeiro-tenente, em 1826. Em 1828, D. Miguel fez-lhe mercê da comenda de Cristo. Em 1830 foi promovido a capitão. Entrou nos combates que as forças miguelistas sustentaram nos Açores contra os constitucionais, e, quando estes conseguiram apoderar-se de todo o arquipélago, foi feito prisioneiro e, depois, deportado para a ilha de Santa Maria, onde esteve por quatro anos, cumprindo sentença, tendo sido também demitido. Logo que obteve a liberdade, seguiu para Paris, a fim de acompanhar seu pai, que para ali tinha emigrado, e se encontrava já velho, gravemente doente e só, carecendo muito, por isso, da companhia e dos carinhos do filho. Para aproveitar com a sua estada naquela capital, estudou as disciplinas que o habilitaram a alcançar o diploma de bacharel em letras. Agravando-se ainda mais a doença de seu pai, acompanhou-o a Montpellier e assistiu-lhe aí aos últimos momentos. Depois, vendo cortada a sua carreira militar em Portugal, resolveu oferecer os seus serviços a D. Carlos, em Espanha, onde lhe foi desde logo reconhecido o posto de capitão de artilharia, no Exército espanhol, empenhado então numa renhida guerra civil. Nessa campanha bateu-se valentemente, e em atenção ao seu brilhante procedimento na defesa de Irun, nos dias 16 e 17 de maio 1837, foi graduado em tenente-coronel e agraciado por D. Carlos com a cruz de 1.ª classe da real Ordem militar de San Fernando, por alvará (Real Cédula) de 5 de julho de 1837. Ferido, e depois feito prisioneiro, passou as maiores privações, sendo transportado de cadeia em cadeia e em risco contínuo de sofrer execução capital pois, frequentes vezes, eram quintados os prisioneiros carlistas para serem fuzilados, em represália dos prisioneiros cristinos que os carlistas mandavam também fuzilar. Mas, longe de sucumbir a esta fúnebre perspectiva, era ele quem na prisão se mostrava mais despreocupado, animando sempre os companheiros.

Em seguida à convenção de Vergara, de 31 de agosto de 1839, havendo nela sido compreendido como oficial do exército comandado por Don Rafael Maroto e pertencendo á guarnição de Estela, veio para Portugal, onde chegou em Novembro desse ano. Vendo-se impossibilitado de exercer a sua honrosa profissão em consequência da mudança das instituições políticas, teve de socorrer-se aos parcos proventos que lhe pudesse proporcionar o exercício do ensino particular. Entrou, pois, como professor e chefe de estudos em um dos colégios de Lisboa, conseguindo que, em paga do seu improbo trabalho, também fosse nele admitido, como aluno, seu irmão mais novo, Pedro Dantas (V. este nome). Em 22 de março de 1842 foi reintegrado no Exército, como primeiro-tenente; e em 3 de novembro de 1847, colocado na 3.ª secção. Por decreto de 19 de outubro de 1847 e por carta régia de 15 de novembro do mesmo ano, foi nomeado professor da escola principal de instrução primária da província de Cabo Verde “tendo em consideração as exuberantes provas com que o suplicante se mostrou habilitado para superiormente desempenhar as obrigações daquele emprego”. Ali foi fundar essa escola principal, que havia sido criada por decreto de 14 de agosto de 1845, e a regeu com muito zelo e bons resultados para a instrução o naquela província ultramarina, servindo cumulativamente outros cargos públicos para que foi nomeado pelos governadores-gerais. Ultrapassado o tempo da sua comissão, que era de seis anos, voltou para Portugal. Em 29 de abril de 1851, havia sido promovido pela segunda vez a capitão.

Pouco depois de haver voltado de Cabo Verde, foi escolhido, em 1855, por D. Pedro V, para instalador e director da escola de ensino primário que aquele rei benemérito instituiu no palácio real de Mafra. A excepcional competência com que Vitoriano Dantas Pereira correspondeu à confiança que nele depositaram D. Pedro V e D. Luís, consta dos interessantes relatórios que publicou sobre os trabalhos da Escola Real de Mafra e sessões solenes da distribuição dos prémios. Logo na primeira, que se realizou a 1 de novembro de 1856, disse D. Pedro V que: “A Escola tinha excedido a sua expectativa”. Na de 1865, o rei D. Luís, agradecendo ao professor Dantas Pereira o zelo com que havia desempenhado as funções do seu honroso ministério, e tomando uma venera da Ordem de S. Tiago com ela o condecorou, sendo esta condecoração motivada, no respectivo decreto de 15 de julho de 1865, com as seguintes palavras: “Em testemunho de satisfação pela perícia e louvável zelo com que tem servido a causa da educação e instrução popular”. No relatório sobre a inspecção extraordinária às escolas do distrito de Lisboa em 1863 a 1864, escreveu o comissário dos estudos, Mariano Ghira, a pág. 156: “Esta aula (a Escola Real de Mafra) é tão importante pelos bons resultados que tem produzido e pelo bom método e dedicação do seu inteligente professor, que deve ser considerada como uma escola modelo”. À força de repetidas instâncias, promoveu e conseguiu a vinda para a Escola Real de Mafra, de alunos africanos, que se habilitaram para professores das escolas nas colónias. Este importante serviço prestado à instrução ultramarina representava para Vitorino Dantas Pereira um grande ónus, por que tinha de os educar e instruir, hospedando-os também por insuficientíssima retribuição oficial. Em 22 de agosto de 1862 saiu capitão de 1.ª classe, e a 28 de março de 1863 obteve o hábito de Avis, sendo promovido a major em 1867, e, este mesmo ano alcançou a reforma em tenente-coronel. Ainda esse ano foi nomeado para inspeccionar as escolas de instrução primária dos concelhos de Mafra e Torres Vedras, a que procedeu com a maior solicitude, mas comprometendo sua saúde já arruinada.

Faleceu este prestantíssimo apóstolo da instrução, a quem tantos deveram os primeiros progressos intelectuais, em 5 de setembro de 1867. Publicou, além dos relatórios da Escola Real, uma tradução da Álgebra de Bourdon, e uma Selecta de leitura corrente. Como epistológrafo, foi muito notável; as suas cartas liam-se com o maior agrado, pela naturalidade, concisão e elegância do estilo. 

Casou com sua prima D. Maria da Penha Osório Correia, de quem enviuvou pouco depois. Deste casamento procede a senhora D. Maria das Dores Osório Dantas Pimenta, casada com seu primo José Maria Dantas Pimenta, residentes na vila de Torres Novas. A este cavalheiro devemos o presente artigo.

 

 

 

Genealogia de Vitorino João Carlos Dantas Pereira
Geneall.pt

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume III, págs.
19-20

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral