Portugal - Dicionário

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D. Maria Amélia
D. Maria Amélia

 

Maria (D.). Princesa do Brasil

 

n.      1 de dezembro de 1831.
f.       1 de fevereiro de 1853.

 

Princesa, filha do imperador D. Pedro e de sua segunda mulher, imperatriz D. Maria Amélia Augusta de Beauharnais. 

Nasceu em Paris a 1 de dezembro de 1831, faleceu no Funchal em 1 de fevereiro de 1853. 

Foi baptizada poucas horas depois de nascer, na presença dum grande número de personagens convidadas, para naquela corte estrangeira serem testemunhas do seu nascimento. Passados alguns dias recebeu os santos óleos na capela real do palácio das Tulherias, tendo por padrinho o rei dos franceses Luís Filipe, e por madrinha a rainha Maria Amélia. Dias depois partiu seu pai para a ilha Terceira, seguindo-se as lutas da liberdade. Tendo entrado vitoriosamente em Lisboa no dia 24 de julho de 1833 o general duque da Terceira, D. Pedro mandou regressar de Paris sua esposa e filhas. Tinha a princesa D. Maria Amélia apenas dez anos e quase oito meses de idade, quando chegou a Lisboa a 22 de setembro do mesmo ano, com sua mãe e sua irmã mais velha. 

Tendo a princesa completado seis anos, foi com a imperatriz para a corte de Baviera, onde se demorou desde 1838 até 1850, na companhia de sua avó materna, a duquesa de Leuchtenberg. Ali começou a desenvolver-se a sua elevada inteligência e bondade, adquirindo uma educação e instrução esmeradas, sendo a imperatriz a primeira mestra que lhe ensinou os rudimentos da fé, dando-lhe as primeiras noções das línguas portuguesa, francesa e alemã, exercitando-a muito neste idioma uma criada que a servia desde que ela nascera, e a quem a princesa consagrava a maior afeição. O Dr. Francisco Kunstmann depois lente de Teologia da universidade, e sócio da Academia Real das Ciências de Munique, a iniciou nos mistérios da religião, dando-lhe também sucessivamente noções elementares de gramática, retórica, filosofia racional e moral, literatura alemã, geografia e história universal, estudo em que a princesa fez grandes progressos. De Mr. Everill aprendeu a língua inglesa, que falava e escrevia com facilidade e perfeição, rematando a instrução científica que recebeu na Alemanha com o curso completo de ciências físico-matemáticas que seguiu, e por sua vontade repetiu sob a direcção do Dr. Sieber, um dos mais distintos professores daquela disciplina. Do aproveitamento neste estudo deu uma brilhante prova num exame que fez no gabinete de física na Universidade de Munique. Nesse tempo também se dedicou por alguns meses com muito gosto à astronomia. Tinha vocação especial para a música e para a pintura, em que apresentou alguns trabalhos de valor. Era para ela uma distracção nas horas em que as outras lições a deixavam livre. A princesa era a admiração das cortes de Baviera, Inglaterra Rússia, Saxónia e Suécia, por onde em diferentes anos percorreu na companhia de sua mãe. 

Em 1850 regressou a Lisboa, e logo a imperatriz lhe deu por mestre de história e literatura portuguesa o conselheiro Francisco Freire de Carvalho. No outono de 1851, estando em Caxias, foi a princesa acometida duma febre intermitente, de que se curou, ficando, porém, muito abatida. Meses depois foi atacada por uma escarlatina e com violenta inflamação de garganta, mas felizmente a moléstia cedeu aos maiores cuidados, e a princesa restabeleceu-se. Algum tempo mais tarde, andando a passear no jardim do paço das Necessidades, sentiu um resfriamento que foi a origem da fatal enfermidade que a vitimou. Era no princípio da primavera de 1852, que naquele ano foi áspera e desabrida, o que obstou a que a augusta doente passasse logo, como os médicos assistentes aconselhavam, a mudar de ares. Essa circunstância e a de não poder achar-se no sítio que os médicos haviam indicado, fez que só em meados de Maio a imperatriz e sua filha pudessem ir habitar numa casa de campo em Calhariz de Benfica, oferecida afectuosamente pelo seu proprietário. A ciência empregou em vão todos os seus esforços para debelar a fatal doença, que degenerara em tuberculose, e em 2 de julho chegou a tal ponto de gravidade que a piedosa princesa pediu com instância os sacramentos da igreja que nesse mesmo dia lhe foram administrados na presença da imperatriz, da rainha D. Maria II, e do rei D. Fernando. Os médicos reuniram-se em conferência na manhã seguinte, e verificaram que a doença tomara um carácter gravíssimo, sendo todos de parecer da conveniência da princesa ir com a possível brevidade respirar os ares benéficos da ilha da Madeira, para onde as majestades e altezas só puderam partir nos fins de agosto. 

A princesa chegou ao Funchal a 29 de agosto desfalecida, desembarcando no dia seguinte, e dirigindo-se para a quinta Lambert, que fica situada num sitio sobranceiro, próximo do cemitério das Angústias, na rua que tem hoje o titulo da Princesa D. Amélia. A pobre doente ainda viveu cinco meses, piorando cada vez mais. Nos primeiros dias de janeiro de 1858 apresentaram-se sintomas aterradores, e a princesa quis confessar-se e tomar os sacramentos; escreveu com mão trémula, por despedida, aos seus parentes, fazendo uma lista das pessoas que particularmente honrava com a sua estima, legando a cada uma delas uma prenda para lembrança. No dia 4 de fevereiro faleceu. O seu corpo conservou-se na capela da referida quinta Lambert até que foi trasladado para Lisboa para o panteão real de S. Vicente de Fora.

 

 

 

Genealogia da princesa D. Amélia
Geneall.pt  

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume IV, págs.
829-830.

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Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral