|  |  |  | Noronha
            (D.
            Sebastião de Matos de).  
             n.     
            21 de dezembro de 1586.f.       1641 ou 1642.
   Clérigo
            secular, doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra, bispo de
            Elvas, arcebispo de Braga, etc.:  Nasceu
            em Madrid a 21 de dezembro de 1586, e faleceu em 1641 ou 1642.  Era
            filho de Rui de Matos de Noronha, e tendo estudado na universidade direito
            canónico, recebeu o grau de doutor nessa faculdade; foi inquisidor
            em Coimbra, deputado do conselho geral do Santo Ofício, e em 14 de
            julho de 1625 eleito bispo de Elvas, em cuja catedral havia sido cónego,
            sendo sagrado no convento beneditino de S. Martinho de Madrid, pelo
            cardeal Julio Zacheti, que naquele tempo era o núncio apostólico
            em Espanha. Fez pública entrada em Elvas a 7 de novembro de 1626.
            Foi ele quem celebrou o casamento do duque de Bragança, depois D.
            João IV, com D. Luísa Francisca de Gusmão, e não tendo este príncipe
            dado grandes mostras de atenção e reconhecimento pela magnifica
            hospedagem que o prelado lhe preparara no seu palácio, supuseram
            alguns que daí nasceu o ódio que D. Sebastião de .Matos de
            Noronha votou constantemente depois ao chefe da Casa de Bragança.  Elevado
            em 1635 à dignidade de arcebispo de Braga, foi um dedicado servidor
            de Filipe III, e por isso nos últimos anos do domínio espanhol em
            Portugal, quando a duquesa de Mântua exercia o cargo de vice-rainha
            e Miguel de Vasconcelos o de secretário de Estado, tinha o
            arcebispo de Braga a presidência do Desembargo do Paço. Era tão
            clara a afeição deste prelado ao governo espanhol, e tais provas
            dera dos seus sentimentos anti-patrióticos, que na reunião dos
            conspiradores nos últimos dias de novembro de 1640 se discutia a
            sua morte ao mesmo tempo que a do secretário de Estado, mas a
            respeito dele prevaleceram ideias de clemência, e quando no dia 1
            de dezembro os fidalgos subiam aos aposentos da duquesa de Mântua
            no paço da Ribeira, o arcebispo apareceu ao lado dessa princesa, e
            teve o arrojo de querer dirigir aos conspiradores algumas palavras
            de censura; mandaram-no calar asperamente, dizendo-lhe D. Miguel de
            Almada que lhe custara muito livrá-lo de sorte igual à de Miguel
            de Vasconcelos, e lembrando-lhe que não abusasse, porque lhe
            poderia ser fatal. D. Sebastião de Matos de Noronha retirou-se
            muito pálido de susto, e conquanto pareça extraordinário, era
            nomeado pouco depois membro do governo provisório do reino. Esta
            nomeação feita com o propósito de assegurar a vida do prelado e
            ao mesmo tempo dar um sinal de respeito pelo clero e de preparar os
            meios de reconciliação com a corte de Roma, não conseguiu apagar
            no ânimo do arcebispo o seu ódio contra a causa da pátria, e esse
            mais se exacerbou ainda quando depois da subida de D. João IV ao
            trono, viu que não era chamado para os primeiros cargos do Estado,
            e que o soberano se mostrava principalmente afecto ao arcebispo de
            Lisboa. Começou
            então logo a intrigar a favor de Filipe IV; escreveu para Madrid ao
            conde-duque de Olivares explicando o seu proceder, e como não teve
            resposta, entendeu que decaíra do antigo valimento, e pensou que,
            para o recuperar, devia tentar alguma grande empresa, que não
            poderia ser menos do que uma contra revolução que derrubasse do
            trono o duque de Bragança. Tratando de arranjar cúmplices falou ao
            marquês de Vila Real, que encontrou bem disposto, e resolvidos os
            dois a procurarem mais partidários, dirigiu-se o marquês a seu
            filho, D. Miguel de Noronha, duque de Caminha, e o, arcebispo e seu
            sobrinho Rui de Matos de Noronha, conde de Armamar, e ao inquisidor
            geral D. Francisco, aos quais depois se associaram D. Agostinho
            Manuel de Vasconcelos, os dois capitães Diogo de Brito Nabo e
            Belchior Correia da França, e um mercador rico chamado Pedro Baeça.
            Falaram por fim também a Luís Pereira de Barros, contador da
            fazenda, mas este, desconfiado das probabilidades do bom êxito da
            conspiração, tratou de colher todas as informações, e foi
            denunciar ao rei o que sabia. Não tardou em que as declarações de
            Luís Pereira fossem confirmadas pelas de outros indivíduos, e até
            pelas do conde de Vimioso que os conspiradores pretenderam chamar
            para o seu lado, e que ouvindo o que lhe diziam o arcebispo, o marquês
            de Vila Real e o inquisidor, foi tudo contar a D. João IV. O
            soberano tratou logo de prender os conspiradores, e com tanto
            segredo e dissimulação procedeu que todos sem a mais leve suspeita
            foram presos no domingo 28 de julho de 1641.  O
            arcebispo de Braga, sendo conduzido para a fortaleza de S. Julião
            da Barra, mostrando-se durante o processo completamente outro do que
            fora sempre antes, e tendo apelado em vão para o foro eclesiástico,
            invocou depois
            a piedade do rei declarando os motivos que o haviam levado a
            conspirar e as pessoas que tinha associado ao seu projecto. No dia
            29 de agosto foram executados num cadafalso erigido na praça do Rossio,
            o duque de Caminha, o marquês de Vila Real, o conde de Armamar, D.
            Agostinho Manuel, Diogo de Brito, Correia da França, Pedro Baeça e
            Manuel Valente. O bispo arrependido e humilhado morreu meses depois
            na Torre de S. Julião. 
            
             Escreveu:
            Constituições sinodais do bispado de Elvas, Lisboa, 1635; Catalogo
            dos varões ilustres de Portugal. Ficou inédita esta obra.  
              
              
             Entrada de Sebastião de Mattos de Noronha no norte do país:
            1618Repositório aberto da Universidade do Porto
 (nota: precisará do Adobe Acrobat Reader para ler a
            dissertação)
              
               |    
           |  |  |  |