Portugal - Dicionário

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O Portal da História Dicionário > Sebastião Francisco Severo Drago Valente de Brito Correia de Lacerda Green Cabreira

 

Nossa Senhora da Vitoria da Batalha (Sebastião Francisco Severo Drago Valente de Brito Correia de Lacerda Green Cabreira, barão de).

 

n.      4 de outubro de 1809.
f.       12 de novembro de 1868.

 

Do conselho da rainha D. Maria II, brigadeiro do exército, governador das praças de Abrantes e da Torre de S. Julião da Barra, deputado, etc. 

Nasceu em Faro a 4 de outubro de 1809, faleceu em Paris a 12 de novembro de 1868. Era filho do general Sebastião Drago Valente de Brito Cabreira, fidalgo cavaleiro da Casa Real, e de sua mulher, D. Maria Amélia Alves Pinheiro Correia de Lacerda Green. (V. Portugal, vol. II, pag. 574). 

Assentou praça no Regimento de Artilharia n.º 4, a 23 de agosto de 1820, reconhecido como cadete, foi ainda nesta posição nomeado ajudante de campo de seu pai, que então comandava o exército do sul organizado pela Junta. Promovido em 18 de setembro desse ano a 2.º tenente para o corpo em que já servia, foi nessa situação que entrou nos ataques de Santa Barbara e de Amarante, em 1823, contra as forças do general marquês de Chaves. Transferido no mês de Setembro de 1824 em alferes efectivo para infantaria n.º 11 e passado no principio do ano de 1827 para o regimento n.º 18, continuou a defender a causa da Liberdade, e sendo já tenente em 1828, depois de ter combatido em Coruche, Ponte do Prado, Barca Tebosa, Penafiel e Braga, emigrou com a divisão para a Galiza, donde embarcou para Inglaterra e dali para a ilha Terceira, onde já se encontravam seu pai e o seu tio, o general Diocleciano Leão Cabreira, depois barão de Faro. (V. Portugal, vol. III, pag. 301 e 302). 

Aí tomou parte no combate do Pico do Celeiro em outubro de 1828, no ataque da Vila da Praia em 11 de agosto do ano seguinte, e quando se intentou e realizou a conquista das  outras  ilhas do arquipélago dos Açores, o tenente Cabreira foi na expedição, e entrou nas acções de  S. Jorge, Calheta, Faial e Ladeira Velha. Acompanhando o exército de D. Pedro, como tenente de caçadores n.º 5, vem desembarcar nas praias do Mindelo em 8 de julho de 1832, e na defesa das linhas do Porto continuou a servir sempre com a maior dedicação e valentia. Logo no reconhecimento de Valongo e nos combates de Ponte Ferreira e de Souto Redondo, se comportou de modo que mereceu ser recomendado nas participações oficiais. Promovido a capitão em 6 de agosto seguinte, achava-se comandando a 5.ª companhia do Batalhão de Caçadores n.º 5, quando no dia 16 de setembro foi escolhido por D. Pedro para atacar de frente o reduto do Cotovelo. Recebida a ordem avançou ao ataque da posição, e apesar de gravemente ferido, conservou-se à frente dos seus soldados até que a 6.ª companhia lhe veio em auxílio. Levado ao hospital de sangue, logo que lhe fizeram os primeiros curativos voltou para o reduto e ali se conservou até à noite em que, sendo obrigado a retirar para o Porto, assumiu o comando da sua companhia no dia 14 de outubro, assistindo à sortida de Quebrantões e de Vila Nova de Gaia, sendo novamente ferido. Em recompensa de tão decidido valor e de tão grande desapego pela vida, foi-lhe então dado o hábito da Torre e Espada, e se já anteriormente era conhecido e respeitado o capitão Cabreira, nesse dia mais se confirmou entre os seus companheiros de armas a opinião lisonjeira que dele faziam. Na continuação do cerco do Porto, nos combates que se deram nas imediações de Lisboa, em Torres Novas, Leiria, Pernes e Almoster, mostrou sempre o distinto oficial as brilhantes qualidades de que desde o principio da luta dera evidentes provas e durante toda a campanha contra o absolutismo, o futuro barão da Batalha defendeu sempre com o maior ardor e a maior bravura a causa que servia. 

Fez parte da divisão auxiliar que foi enviada à Espanha, entrando em todas as acções e combates, sendo num deles gravemente ferido. Terminada a guerra civil alguns dos oficiais do exercito constitucional julgaram brandas e benévolas as condições impostas aos vencidos em Évora Monte, e não sabendo conter-se manifestaram claramente o seu desgosto, que hoje nos parece excessivamente bárbaro, mas que tinha em parte desculpa na exaltação daqueles tempos e nos trabalhos e fadigas sofridos em tantos anos de exílio e de combates. Sendo o capitão Cabreira um dos descontentes foi separado do seu batalhão e mandado para Valença, onde esteve exercendo as funções de major da praça, até que passados alguns meses foi de novo chamado a Lisboa e colocado em caçadores n.º 2. Em Julho de 1837 foi nomeado chefe do estado-maior da 2.ª divisão militar, mas pouco ou nenhum serviço fez nessa comissão, e com o conde de Bonfim entrou na acção do Chão da Feira, merecendo ser recomendado ao governo por esse general em atenção ao modo por que se comportou no referido combate. Promovido a major em maio de 1838 para caçadores n.º 2, comandou por vezes este corpo até que em agosto de 1840, a pedido seu, foi colocado na 5.ª secção. Exerceu depois as comissões de segundo comandante da Escola Normal e de curador do Supremo Conselho de Justiça Militar, e voltando mais tarde ao serviço dos corpos achava-se comandando o Batalhão de Caçadores n.º 8, aquartelado no castelo de S. Jorge, quando teve lugar o golpe de Estado de 6 outubro, 1846. Pelos serviços prestados nessa noite o propôs o duque de Saldanha para ser promovido ao posto imediato, mas o major Cabreira não quis aceitar essa graça, e só quando em 1848 viu que alguns dos seus camaradas não tinham tido iguais escrúpulos, pediu a antiguidade que lhe competia. Do Batalhão de Caçadores n.º 8 passou a comandar infantaria n.º 15, quando as operações militares se tornaram mais graves no norte, e depois foi transferido para o Batalhão de Caçadores n.º 5 com o qual expedicionou para os Açores em agosto de 1847. 

Promovido a coronel em fevereiro de 1850 para o mesmo batalhão, nele se conservava ainda em Abril do ano seguinte, quando o marechal Saldanha saiu de Lisboa na noite de 7 desse mês para se pôr à frente da revolta que devia aparecer contra o ministério do conde de Tomar. Caçadores n.º 1, comandado por Joaquim Bento, depois barão do Zêzere, levantou o grito da revolta em Setúbal na madrugada do dia 9 e caçadores n.º 5, aquartelado em Leiria, saiu no dia 10 dessa cidade para a Batalha marchando para Coimbra, onde entrou na noite do dia 12, e onde se reuniu com o marechal. Daí continuou a marchar para a Mealhada, Mortágua e Castro Daire, retrocedendo depois para Viseu e Tondela ao mesmo tempo que o batalhão n.º 1 marchando para o norte e passando duas vezes o Zêzere, para escapar ás tropas que o perseguiam, procurava reunir-se com o corpo do comando de Cabreira. Entretanto o marechal, vendo que outros corpos que se deviam sublevar não apareciam em campo, emigrou para Espanha e a situação de caçadores n.º 1 e 5 era bastante critica, quando rebentou no Porto a revolta que em breve se tornou geral. Foi então o coronel Cabreira promovido a brigadeiro, agraciado com o título de barão de Nossa Senhora da Vitória da Batalha por decreto de 2 de junho de 1851, e nomeado comandante da 2.ª Divisão Militar. Encarregado no ano seguinte do governo de S. Julião da Barra fez grandes melhoramentos nessa praça e a ele se deve o monumento, que hoje se vê no alto do Algueirão recordando a morte de Gomes Freire de Andrade. Transferido depois para o governo da praça de Abrantes, também fez obras importantes naquela praça de guerra, e sendo exonerado em julho de 1862 recebeu da câmara municipal e dos habitantes daquela vila provas inequívocas do sentimento (que tinham com a sua demissão. Tendo sido incumbido de inspeccionar o corpo de veteranos de marinha, o deposito disciplinar e o 1.º batalhão de veteranos, e tendo sido nomeado comandante interino do asilo de Runa, devia comandar em 1866 no campo de Tancos uma das brigadas de infantaria, mas o seu estado de saúde, já então bastante precário, fez com que o ministro o dispensasse dessa comissão. Em julho de 1867 foi nomeado presidente da comissão militar que foi visitar o campo de Chalons, e tendo-se-lhe agravado os seus padecimentos, quando os outros oficiais recolheram a Portugal, o barão da Batalha ficou em Paris, e nessa cidade continuou a residir até que faleceu. O barão da Batalha foi deputado na legislatura de 1818, eleito pelo circulo de Ponta Delgada, e nas câmaras votou contra a lei chamada “das rolhas”, contra as indemnizações do Contrato do Tabaco, etc. Em 1851 tornou a ser eleito deputado pelo mesmo circulo. 

Casou em 10 de janeiro de 1842 com D. Guilhermina Henriqueta Peixoto de Almeida, filha de António Peixoto de Almeida, bacharel formado em Medicina pela Universidade de Coimbra, e de sua mulher, D. Josefa Emília Peixoto Pessoa. Em 1862 foi nomeado vogal do Supremo Conselho de Justiça Militar. Era comendador das ordens da Torre e Espada e de S. Bento de Avis; cavaleiro da de Cristo; era também comendador da ordem espanhola de Isabel a Católica, e cavaleiro da de S. Fernando de 1.ª classe. 

O seu brasão de armas é o seguinte: Escudo esquartelado: no primeiro quartel as armas dos Farias: Em campo vermelho um castelo de prata com portas e frestas de preto, entre cinco flores de liz de prata, três em chefe e duas em faixa; no segundo as dos Alvelos: Em campo vermelho cinco estrelas de ouro de sete pontas em aspa; no terceiro as dos Dragos: Em campo vermelho dois dragos de prata passantes, com as cabeças viradas em fugida; o quarto as dos Cabreiras: Em campo de prata duas cabras de negro com arrue­las de ouro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume V, págs.
125-126.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
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