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Ribeiro
(João
Carlos).
n. 1843.
f. 3 de março de 1882.
Major
de infantaria.
Nasceu
em Lisboa em 1843, faleceu em Luanda a 3 de março de 1882.
Foi
estudante do Colégio Militar, cujo curso terminou em 1861,
assentando logo praça a 5 de agosto no Batalhão de Caçadores n.º
5. Em 10 de janeiro de 1866 teve a promoção de alferes, e em 2 de
abril de 1872 a de tenente. Desenhando com desembaraço, e muito hábil
em ginástica, dedicava as horas de folga do serviço militar no
ensino destas artes em colégios e casas particulares, chegando a
ser professor no Colégio Militar. Quando apareceu em Lisboa a troupe
dos ocarinistas
italianos, Ribeiro obteve deles uma ou duas ocarinas, e
exercitando-se naquele instrumento, fez construir alguns sob sua
direcção, e conseguiu organizar uma banda de ocarinistas, que
instruiu e ensaiou, apresentando-a em público, que a recebeu com
muitos aplausos.
Desejoso
de empregar em mais larga escala a sua aptidão, conhecimentos e
actividade, quando em 1876 o Ministério da Marinha procurou
organizar as comissões de obras públicas para as províncias de África,
foi Ribeiro um dos primeiros que se ofereceu para esse serviço. Foi
promovido a capitão em 9 de agosto daquele ano, e algum tempo
depois partia para Moçambique, província onde lhe coube ir
desempenhar o seu serviço. Aí foi empregado em varias comissões
como condutor de 1.ª classe, tendo ido a Lourenço Marques e outros
pontos, onde o respectivo director das obras públicas julgou
conveniente enviá-lo. Tinha sido promovido a major em 25 de julho
de 1878, por lhe haver competido em Portugal o posto de capitão,
quando as febres de África o obrigaram a regressar ao reino para se
tratar. Restabelecendo a saúde, foi mandado concluir a sua comissão
na Guiné, para onde partiu em 1879, na qualidade de director
interino das obras públicas desta província Os seus males
agravaram-se, obrigando-o a tornar ao reino em 1880, depois de ter
prestado bons e activos serviços naquela província. Restabelecido,
mas não completamente, voltou outra vez à África Ocidental, e
chegando a Luanda em setembro do referido ano de 1880, foi mandado
para a comissão de Moçamedes, a melhor que lhe podia ser incumbida
pela bondade do clima, onde esteve como chefe daquela circunscrição
de obras. Entregava-se activamente aos seus trabalhos, quando, em
Dezembro, foi chamado a Luanda para tomar conta da direcção de
obras públicas da província, interinamente, em consequência de
haver regressado ao reino o director efectivo. Nessa posição se
conservou até março de 1881. Desde então continuou ao serviço
das obras públicas em Luanda. Sofrendo de quando em quando mais ou
menos, foi atacado duma febre biliosa que o reteve alguns dias na
cama. Chegando a Luanda a barraca que o governo mandara construir
para a missão civilizadora do Congo, o major Ribeiro, apesar de
estar ainda convalescente, foi nomeado para ir restabelecer a casa
da missão. Saiu de Luanda e chegou a Noki no dia 1.º de setembro
do mesmo ano, a bordo do vapor Bengo,
efectuando-se o desembarque de todo o material no dia 2 na
melhor ordem. Ficou tudo bem acondicionado, pela boa disposição da
feitoria portuguesa naquele ponto. Escrevendo logo ao chefe da missão
começou a cuidar no transporte, conseguindo angariar carregadores
das diversas povoações, que foram conduzindo as peças mais
pesadas. O tempo que lhe restava, aproveitava Ribeiro a levantar a
planta dos terrenos próximos, mas com a dificuldade que lhe davam
os muitos cursos de água cercados e cobertos por espesso arvoredo,
e os campos revestidos de capim de altura prodigiosa onde um homem
fica completamente sumido, tinha de mudar de estações
frequentemente. Tendo uma das vezes subido a um inbondeiro, para
conhecer da direcção que tomava um riacho, escachou o ramo e
Ribeiro caiu, obrigando-o esta queda a estar de cama uns dez dias
bastante mal. No dia 24 de setembro, estando ainda muito incomodado,
chegou o filho do rei do Congo, com a resposta do chefe da missão e
conduzindo cento e trinta e três carregadores. Nesse mesmo dia e
nos seguintes partiram esses e outros carregadores, e o major
Ribeiro, deixando tudo disposto para lhe ser enviado o resto do
material, prumos, telha, etc., partiu finalmente para S. Salvador do
Congo, acompanhado por oitenta carregadores. Sofreu muito durante a
jornada, porque os carregadores, em chegando a qualquer ponto, já,
não queriam caminhar, sendo preciso ameaçá-los com a espingarda,
de que eles tinham medo, para os resolver a marchar. Ribeiro viu-se
obrigado a pernoitar uma vez no meio do mato, outra noite no cemitério
dos pretos. Passou ainda muitas mais inclemências, sofrendo
perseguições de pretos, de que se livrava às vezes com custo.
Afinal chegou a S. Salvador às onze horas da manhã de 8 de outubro.
Ribeiro sofreu uma desilusão completa ao contemplar a residência
dos missionários. À vista daquela pobreza, mandou logo armar a
barraca que levava. No dia seguinte houve missa a que assistiu o rei
do Congo cercado dos missionários da sua tipóia. Finda a missa, o
rei mandou cumprimentar o major, por seu filho, e Ribeiro foi logo
no dia imediato pagar-lhe a visita à palhoça onde ele vivia. No
dia 11 começou a dispor tudo para a construção da casa da missão,
tendo que lutar com a maior dificuldade pela falta de pedreiros;
ainda assim lá foi começando a obra com uns rapazes que estavam ao
serviço da missão.
No
Occidente, de 1883, vêm minuciosamente descritos todos os
casos que se deram durante a permanência do major João Carlos
Ribeiro no Congo, donde saiu a 23 de novembro, depois de se despedir
do rei, dos príncipes seus filhos, missionários, etc. Durante a
jornada tiveram de descansar em alguns sítios, sofreram alguns
transtornos que lhe demoraram a jornada, vindo a chegar a Noki no
dia 29 do referido mês de setembro. Esperava Ribeiro encontrar aqui
a canhoneira que o devia reconduzira Luanda, sendo este um dos
motivos que o fez apressar a sua saída de S. Salvador do Congo,
porque lhe haviam prometido, que ela estaria ali no dia 23 à
espera. Demoraram-se três dias, e como a canhoneira não chegava,
Ribeiro foi aproveitando o tempo em levantar plantas dos terrenos
adjacentes, em completar alguns trabalhos começados, em tirar
fotografias, que levou depois para Luanda, em número superior a cem.
O tempo da permanência forçada naqueles pontos, onde apenas podia
entreter convivência com os indivíduos das feitorias e com missionários,
não foi perdido, porque Ribeiro observou tudo o que pôde e colheu
informações que constam do relatório, que apresentou.
A
canhoneira, que deveria ter chegado a Noki em 23 de novembro de
1881, só chegou em fevereiro de 1882. Ribeiro esteve esses dois
meses e meio pelas feitorias das duas margens do rio, tendo ido também
a Boma. Regressando então a Luanda, pouco tempo durou, não
chegando a voltar a Portugal. Ao ministério da marinha foram mais
tarde enviadas várias cartas levantadas pelo malogrado oficial.
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