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D. Manuel Caetano de Sousa

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D. Manuel Caetano de Sousa

Sousa (D. Manuel Caetano de).

 

n.    25 de dezembro de 1658.
f.     18 de novembro de 1734.

 

Clérigo secular teatino e célebre escritor. 

Nasceu em Lisboa a 25 de dezembro de 1658, faleceu a 18 de novembro de 1734. 

Era filho de D. Francisco de Sousa, capitão da guarda alemã. Seu pai o entregou aos cuidados de D. Leonor de Melo, sua avó, que se ocupou zelosamente da sua primeira educação. Estudou os rudimentos da gramática latina com o clérigo regular D. André da Costa Pinheiro, e para ser leccionado ia a casa da Divina Providência, onde entrou depois com o Padre António Fernandes de Barros; concluiu os seus estudos de latinidade e estudou poética e retórica no colégio de Santo Antão com o Padre António de Abreu. Nesse mesmo colégio lhe ensinou filosofia, em 1673, o padre Agostinho Lourenço. Quando frequentava o 2.° ano de filosofia, quis seu pai que ele partisse para a Universidade de Coimbra, mas D. Manuel Caetano de Sousa, sem comunicar a sua resolução ao pai, nem a nenhum dos seus parentes, e somente a sua avó, vestiu o hábito de clérigo secular a 1 de fevereiro de 1675. Nesse mesmo dia escreveu quatro cartas: uma a seu pai, outra a seu tio D. Luís de Sousa, bispo de Lamego, outra a seu tio D. João de Sousa, prior-mor do Crato, e outra, enfim, ao seu mestre, o padre Agostinho Lourenço. 

Foi encarregado de reger latim, e a 13 de junho de 1687 professou solenemente, e continuou a estudar retórica e filosofia, desistindo de seguir o curso da universidade, como seu pai desejava. Em 1685 subiu pela primeira vez ao púlpito; em 1686 e 1687 presidiu a conclusões públicas, e era 1689 foi mestre de teologia, em seguida nomeado examinador das três ordens militares e do priorado do Crato e teólogo da nunciatura apostólica, em 1698 consultor da Bula da Cruzada, e em 1701 deputado da bula. Estimado como um dos mais distintos oradores sagrados do seu tempo, sempre que algum acontecimento importante reclamava a sua eloquência, foi ele o escolhido para pregar nas solenes exéquias do Padre António Vieira, mandadas celebrar na igreja de S. Roque pelo conde da Ericeira D. Francisco Xavier de Meneses. Eleito pelos seus confrades vigário, e depois prepósito da casa da Divina Providência, foi a 1 de setembro de 1709 eleito para ir representar a província de Portugal no capítulo geral da ordem; que se devia celebrarem Roma, no ano imediato. Embarcou a 6 de outubro de 1709, esteve em Leorne, Pisa e Florença, chegando a Roma a 23 de janeiro de 1710, indo esperá-lo às portas da cidade o ministro português André de Melo e Castro, numa carruagem puxada a seis cavalos. Depois de visitar todas as curiosidades de Roma e de ter assistido ao capítulo geral da sua ordem, tendo se demorado dez meses, seguiu viagem para Nápoles, percorreu ainda uma parte da Itália central, visitando Assis, Perugia, etc. Voltou depois a Florença e seguiu para o norte da Itália, visitando Modena, Veneza, Vicencia, Milão, Turim, Génova, etc. Passou depois a Barcelona a bordo da nau inglesa Pembroke, que fazia parte da esquadra do almirante Jennings. Em Barcelona encontrou o exército português que então militava na Catalunha em defesa das pretensões do arquiduque Carlos à coroa de Espanha, que lhe era disputada pelo neto de Luís XIV, Filipe de Anjou. que veio a reinar com o nome de Filipe V. Comandava o exército o conde da Atalaia, e achava-se ali como embaixador de Portugal junto do rei de Espanha, que nós reconhecíamos, o conde de Assumar. Com eles se demorou muito tempo, até que, sabendo que se recolhiam a Portugal algumas tropas, foi autorizado a regressar com elas, atravessando a Espanha de nordeste a sudoeste sempre pelos sítios que as tropas de Filipe V não senhoriavam, entrou finalmente em Portugal, donde estivera ausente mais de três anos. A história desta viagem narrou-a ele numas Memórias, que ficaram manuscritas, mas de que por fortuna fez um resumo bastante largo o padre D. Tomás do Bem. 

Eleito de novo prelado da sua congregação, exerceu o governo durante um biénio, e depois entrou como sócio na academia do conde da Ericeira, onde ditou filosofia moral. D. Manuel Caetano de Sousa planeara uma vasta história eclesiástica de Portugal, a que tencionava dar o título de Pantheon Antistítum Lusitanorum, sive Lusitania Sacra, hoc est Chronicon virorum, qui in Lusitania Summo jure proefuere. Para isso organizou outro catálogo de arcebispos, bispos, capelães-mores, mestres, priores-mores, grão-priores, manuseara uma enorme colecção de livros e de documentos, e um dia comunicou a D. João V, com quem tinha confiança, o plano da sua obra. Agradou ao monarca essa ideia e desejou que se levasse por diante, mas, reconhecendo que as forças dum só homem não chegariam para tamanha empresa, encarregou D. Manuel Caetano de Sousa de lhe lembrar um meio de executar obra de tamanho alcance, e de plano em plano, chegou-se enfim ao acordo de que instituísse uma academia para se elaborar a história eclesiástica, a que se daria o nome de Lusitania sacra. Para se tratar de tudo o mais que dizia respeito a este assunto, encarregou o rei D. Manuel Caetano de Sousa de se entender com o marquês de Alegrete e com o conde da Ericeira, e das conferências desses três saiu o plano da Real Academia de História Portuguesa, que foi aprovado por D. João V, celebrando a academia a sua primeira sessão no dia 8 de dezembro de 1720 numa sala do paço dos duques de Bragança, que o rei mandara mobilar luxuosamente para esse efeito. A Academia devia ter um director e quatro censores. Foi o 1.º director D. Manuel Caetano de Sousa, e os quatro primeiros censores os marqueses de Alegrete, de Fronteira e de Abrantes, e o conde da Ericeira, sendo o 1.º secretário o conde de Vilar Maior. (V. Portugal, vol. I, pág. 41). Nessa sessão de 8 de dezembro de 1720 estiveram presentes trinta e um académicos, que eram os que até essa data se achavam eleitos. 

Nomeado pro-comissário da Bula da Cruzada, e depois conselheiro de Estado, D. Manuel Caetano de Sousa recusou a mitra do Funchal. que D. João V lhe mandara oferecer, preferindo entregar se aos estudos que tanto haviam de ilustrar o seu nome. Na Colecção de Documentos da Academia Real de Historia, publicou muitas das suas obras, discursos que pronunciou na referida academia, etc. No Dicionário bibliográfico, vol. V e no Dicionário Popular, vol. XII, págs. 121 e 125, encontra-se uma relação minuciosa das suas obras. Citaremos as seguintes: Hércules moral; é a selecção das lições de filosofia que ditou na Academia Portuguesa. instituída em 1717 pelo conde da Ericeira, e em que D. Manuel Caetano de Sousa tomara o nome de Academico Laborioso; De splendore illegitimerum; é um tratado em 6 livros, em que dá conta dos bastardos que foram ilustres na guerra, na igreja, nas letras, etc. D. Manuel Caetano de Sousa foi um escritor fecundissimo. São numerosas as suas obras tanto impressas como manuscritas. Conhecia a fundo o latim, o italiano e o francês; poetava e improvisava em latim coro a maior facilidade, mas a obra histórica mais importante que escreveu, na opinião de Barbosa Machado, foi a sua obra latina sobre a vinda de S. Tiago a Espanha, e isso bastava para mostrar o que era a sua ciência histórica. A essa ciência, contudo, prestou relevante serviço com a criação da Academia Real da História Portuguesa. O conde da Ericeira, D. Francisco Xavier de Meneses, amigo intimo de D. Manuel Caetano de Sousa, compôs de todas as suas obras impressas e manuscritas um catálogo intitulado Bibliotheca Sousana, que imprimiu em Lisboa em 1736. Consta esse catálogo de 289 obras.

 

 

 

 

 

 

 


Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VI, págs. 1059-1060.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral