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Joaquim Tomás Lobo de Ávila
Joaquim Tomás Lobo de Ávila

Valbom (Joaquim Tomás Lobo de Ávila, conde de).

 

n.      15 de novembro de 1819-
f.       1 de fevereiro de 1901.

 

Fidalgo da Casa Real, comendador da Ordem de Cristo, cavaleiro da de Avis, grã-cruz da de S. Maurício e S. Lázaro, de Itália, e da Rosa do Brasil; coronel de engenheiros honorário, conselheiro de Estado efetivo, ministro de Estado, par do Reino, diplomata, vice governador da Companhia do Crédito Predial e do Conselho Superior de Obras Públicas e Minas, grande proprietário, sócio efetivo da Academia Real das Ciências, inspetor geral das obras públicas, etc. Nasceu em Santarém a 15 de novembro de 1819, faleceu em Lisboa no dia 1 de fevereiro de 1901. Era filho do capitão de infantaria, proprietário e lavrador em Santarém, Joaquim Anastácio Lobo de Ávila, e de sua mulher, D. Mariana Vitória de Mendonça Pessanha Mascarenhas. 

Educado no Colégio Militar, concluiu o respetivo curso aos 17 anos de idade, tendo sido laureado com os primeiros prémios, e gozado dois anos da ambicionada honra de comandar o batalhão escolar; matriculou-se em seguida na Escola Politécnica, assentou praça na arma de infantaria, sendo promovido a alferes a 26 de novembro de 1840. Anos depois, em 1844, rebentou a revolta de Torres Novas. Educado nas ideias liberais, tendo assistido ainda na infância á luta tremenda que finalizara triunfando o constitucionalismo e a liberdade, o jovem oficial não podia ficar tranquilo, e a revolução encontrou o de espada desembainhada, abandonadas as lides escolares, ao lado de José Estevão. A inteligência e a bravura do jovem revolucionário deram-lhe nessa ocasião um posto arriscado e invejável, o de ajudante de ordens do general César do Vasconcelos. O movimento, porém, malogrou-se, e Lobo de Ávila teve de emigrar para Espanha com as tropas sublevadas. Dali seguiu para Paris, onde fez o curso da Escola de Pontes e Calçadas, praticando também nos trabalhos públicos da França Concluiu o curso de engenharia, em que obteve classificações distintas, a formatura nos cursos de economia e direito administrativo. 

Já antes da sua partida para França, se assinalara como orador e homem de letras. Sendo um dos fundadores da Sociedade Escolástico Filomática, que teve por presidente Rodrigo da Fonseca, Lobo de Ávila conquistou duma vez lugar proeminente com as suas memórias sobre a influência das cruzadas na civilização e sobre a pena de morte. Regressando a Portugal depois de assinada a convenção de 1849, constituiu a sua cruzada literária fundando primeiro o Cosmorama e depois o Ateneu, jornais em que se discutiam as mais altas questões sociais e económicas. A 15 de novembro do citado ano de 1849 foi admitido ao serviço das obras públicas, entrando justamente quando se iniciavam os melhoramentos materiais. Em 15 de fevereiro de 1851 foi encarregado da regência da 5.ª cadeira auxiliar (estradas de caminhos de ferro) da Escola do Exercito, serviço de que pediu a exoneração em 1856. Fez parte da comissão nomeada em 1851 para estudar uma proposta de Hardy Hislop para a construção de linhas férreas em Portugal. Foram as bases apresentadas por esta comissão, que serviram de programa ao concurso aberto no ano de 1852 para a construção da linha do Lisboa à fronteira de Espanha por Santarém. Em 30 de agosto de 1852 criou-se o ministério das Obras Públicas, para que muito contribuiu Lobo de Ávila, sendo Fontes Pereira de Melo encarregado do gerir a nova pasta, e em outubro desse ano foi Lobo de Ávila nomeado secretário do conselho de obras públicas, lugar que desempenhou até 24 de abril de 1861, data em que passou a exercer o cargo de inspetor de obras públicas. 

Filiado no partido regenerador, que se formara com o movimento da Regeneração em 1851, Lobo de Ávila iniciou a sua vida de estadista, sendo sucessivamente eleito deputado por vários círculos, e assinalando-se desde logo na tribuna parlamentar por triunfos de primeira ordem. Na câmara foi relator das comissões mais importantes, como por exemplo, das de resposta ao discurso da coroa, fazenda e obras públicas. No seu lugar de secretário do conselho das obras públicas deixou assinalada a sua iniciativa com muitos trabalhos importantes, constituindo-se no parlamento e fora dele um dos mais enérgicos propugnadores do estabelecimento dos caminhos-de-ferro em Portugal e publicando muitos artigos em diferentes jornais e vários opúsculos sobre diversas questões referentes à viação acelerada. Em 1853 escreveu um folheto intitulado: Reflexões sobre o contrato para a construção do caminho-de-ferro de leste, no qual, respondendo a três extensos artigos da Imprensa, defendia, com os seus conhecimentos do engenheiro e grande vigor de polemista, a proposta que o governo ia apresentar à câmara para aprovar o contrato da construção daquela linha com a companhia central peninsular dos caminhes de ferro em Portugal, representada por Hardy Hislop. Em 21 de fevereiro de 1862 foi chamado pela primeira vez aos conselhos da coroa, numa larga recomposição concedida ao gabinete Loulé Sá da Bandeira. Lobo d'Avila sucedia na pasta da fazenda a António José de Ávila, e entrava com Braamcamp e Mendes Leal para um notável ministério onde ele foi figura preponderante. Entre as suas providências se contam a extinção dos morgados, a abolição do monopólio dos tabacos, a abertura da linha de leste até à fronteira (24 de setembro de 1863) e da linha do norte até Gaia (7 de julho de Í864) e, como privativas da pasta da fazenda, a consolidação do credito no estrangeiro, a instituição do credito predial e a reforma dos serviços aduaneiros. Deixou o poder a 5 de março de 1865. Em 1868 redigiu e assinou com João Crisóstomo de Abreu e Sousa a exposição, que corre impressa, dirigida ao marquês de Sá da Bandeira, presidente do conselho de ministros, em nome dos engenheiros civis. 

Na carreira militar, Lobo de Ávila foi promovido a tenente em 1847 e a capitão em 1864 No ano de 1870 obteve a sua demissão de oficial, o que solicitou porque o marechal Saldanha o mandara arregimentar por motivos políticos. No mesmo ano foi graduado capitão de engenheiros, segundo as disposições da legislação de 1868; depois foi sucessivamente graduado nos diversos postos, até que no ano de 1883 atingiu a graduação de coronel. Em 1886 foi classificado engenheiro de 1.ª classe do ministério das obras públicas na situação de inatividade; em 1892 inspetor de 1.ª classe, e em 1899 recebeu a categoria de inspetor geral. Lobo de Ávila no dia 5 de março de 1869, voltou ao ministério, no gabinete presidido pelo duque de Loulé, sendo-lhe confiada a pasta das obras públicas, onde reformou o serviço técnico das obras públicas, os serviços geodésicos e geológicos, e o ensino industrial e agrícola; e mais tarde também a pasta da guerra que ocupava em 19 de maio de 1870, quando se deu a sublevação comandada pelo marechal Saldanha, que derrubou o ministério. A propósito deste acontecimento pronunciou Lobo de Ávila um notável discurso na câmara dos deputados, em 12 de dezembro, em que explicou os motivos porque o gabinete Loulé não pôde evitar que o revoltado marechal fosse ao paço da Ajuda. Depois da morte do duque de Loulé, Lobo de Ávila retraiu-se do campo partidário propriamente dito. Em 1874 escreveu os Estudos de administração, livro quo lhe conquistou o lugar de sócio efetivo da Academia Real das Ciências. Esta obra goza de subida reputação no meio cientifica português, na qual o seu autor faz de um modo geral a história da administração pública em Portugal; aprecia as cortes de 1820, como mais declamatórias que reformadoras, ocupando-se mais de controvérsias políticas do que de questões económicas; estabelece que as reformas de 1832, obra do génio de Mousinho da Silveira, constituem a principal força moral do exército libertador; condena o Código Administrativo de 1842, e exalta o princípio da descentralização. A 16 de maio do referido ano de 1874 subiu ao pariato, tomando posse na respetiva câmara na sessão de 5 do janeiro de 1875; por decreto de 5 de abril deste ano foi agraciado com o título de conde do Valbom. Em novembro de 1876 iniciou a sua carreira diplomática, sendo nomeado ministro plenipotenciário em Madrid; em novembro de 1878 conselheiro de Estado efetivo, e em 1882 recebeu a mercê da grã-cruz da ordem de Cristo. Em 1886 foi nomeado ministro plenipotenciário em Paris, onde esteve até 1890. Neste ano tomou parte no ministério que se formou depois do ultimato da Inglaterra de janeiro, presidido pelo general João Crisóstomo de Abreu e Sousa, encarregando-se da pasta dos estrangeiros. Exerceu muitas comissões no ministério das obras públicas, cujo serviço por largo período interrompeu para ocupar os elevados cargos públicos, já referidos. Citaremos as nomeações de vogal da junta consultiva de obras públicas e minas em 1875, da comissão de inquérito industrial de 1881, da comissão encarregada de examinaras reclamações dos empreiteiros do porto de Lisboa em 1892, neste mesmo ano inspetor dos ofícios públicos, vice-presidente do conselho de obras e minas em 1895, e de presidente do conselho técnico de obras públicas em 1899. 

Quando faleceu, era o decano dos engenheiros de obras públicas. Em diferentes circunstâncias políticas, tomou parte ativa na imprensa militante, ora ajudando a fundação de jornais diários, como a Política Liberal, e a Gazeta do Povo, o Comercio de Lisboa, e Diário de Lisboa, ora colaborando mais ou menos seguidamente, na Revolução de Setembro, Civilização, e outros. Também colaborou em jornais literários e científicos, como o Ateneu, Revista Universal, Revista de obras públicas e minas, etc. O conde de Valbom casou em 19 de setembro de 1857 com D. Maria Francisca de Paula Orta, condecorada com a banda da ordem de Maria Luísa, de Espanha, e filha dos 1.os viscondes de Orta.

 

 

 

Joaquim Tomás Lobo de Ávila, 1.º conde de Valbom
Genealogy (Geni.com)

Ávila, Joaquim Tomás de Lobo de (1822-1901)
José Adelino Maltez (Maltez.info)

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume VII, págs. 251-253.

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