 
 
 
A GUERRA EM ANGOLA.
4. PRELIMINARES DAS OPERAÇÕES MILITARES EM 1915
 
Passagem improvisada no Cunene
| I. O novo comando De todas as campanhas coloniais do Exército Português, a de 1915, no Sul da nossa colónia de Angola, é, sem dúvida, a menos conhecida, a que menor interesse despertou na opinião pública nacional e nos próprios meios militares. Não tivemos, é certo, de directamente nos defrontar com os alemães. Estes tinham tido também graves perdas em Naulila (18 de Dezembro de 1914) e, em Março do ano seguinte, como o general Bota invadisse a Damaralandia com um corpo de cerca de 50.000 homens, as suas atenções propenderam principalmente para a parte Sul daquele território. Nada nos autorizava, porém, a pôr de lado a hipótese de uma nova incursão ou de uma futura cooperação com as forças daquele general, pois sugestões nesse sentido tinham sido feitas junto do general Pereira de Eça, após o seu desembarque em Luanda em a 1 de Março de 1915. Admitiam como provável uma futura incursão o Governador-geral Norton de Matos, o tenente-coronel Alves Roçadas, o general Pereira de Eça e o próprio Governo da metrópole. Nesse sentido foram estabelecidos todos os projectos de operações a realizar, formuladas as requisições de pessoal e material, e determinados os reconhecimentos, estudos e trabalhos necessários ao desenvolvimento daqueles projectos. O sucedido em 1914 fora, porém, de um grande ensinamento. A precipitação dos acontecimentos, resultante do incidente de Naulila (19 de Outubro de 1914), não dera tempo à concentração de todas as unidades, à organização da extensa linha de etapas e aos transportes de todo o material que operações ele tal natureza exigem. Não convinha, pois, que tais deficiências de novo se apresentassem. 
 
 E como os teatros de operações principais e previstos eram dois – vale do Cunene e vale do Cubango – houve que organizar, como adiante veremos, as necessárias linhas de comunicação na extensão de. cerca de 1.200 quilómetros, que exigiram para o seu regular funcionamento (serviço de etapas, serviço de transportes e tropas de segurança) 121 oficiais, 2.105 praças europeias, 468 praças indígenas, 155 auxiliares brancos e 3.530 indígenas, 916 solípedes, 108 viaturas hipomóveis, 82 camiões automóveis e 322 carros boers, ou sejam 6.379 homens, 855 solípedes e 512 viaturas. É certo que não foi um trabalho inteiramente novo a realizar. Mas foi um trabalho, ou antes uma série de trabalhos de preparação, uns a completar e a aperfeiçoar - os já iniciados durante o comando de Roçadas - e outros tendo por fim criar, por inexistentes, serviços necessários ao desenvolvimento ulterior das operações, todos eles morosos e cheios de imprevistos e dificuldades como acontece em trabalhos desta natureza e desta envergadura, levados a efeito em África, onde os recursos escasseiam e tudo, quase tudo, tem de ir da Metrópole. A 12 de Julho de 1915, cinco dias depois da reocupação do Humbe - primeira operação militar determinada pelo general Pereira de Eça - recebe este, nos Gambos, a notícia da rendição dos alemães às forças Sul-Africanas do comando do general Botha. Desaparecia assim o maior e principal inimigo com que nos tínhamos de defrontar, mas subsistiam, e talvez mais agravados ainda, os efeitos da perniciosa política alemã do Sul da colónia, dos insucessos sofridos em 1914 e da nossa inércia anterior: a revolta dos povos além Cunene sujeitos desde 1907 ao nosso domínio e a ocupação efectiva do Cuanhama, ou seja todo um território de cerca de 20.000 quilómetros quadrados de superfície (compreendido, de Norte a Sul, entre o paralelo de 16 º e o limite Sul de Angola, e de Oeste a Leste, entre o Cunene e a mulola Caundo) a submeter rápida e simultaneamente. 1 Adaptou-se, portanto, o projecto de operações à nova situação, e, porque no primeiro projecto estavam previstas a reconquista e ocupação dos territórios além Cunene, foram estas as operações que as forças do comando do general Pereira de Eça, constituindo quatro destacamentos, levaram a efeito - depois da reocupação do Humbe em 7 de Julho - no curto período de tempo que vai de 12 de Agosto - passagem do Cunene - a 4 de Setembro, dia em que o «destacamento da N'Giva» 2 atingiu a N'Giva, embala grande do Mandume. 
      
       Cuanhamas
          esquartejando um solípede abandonado Foi em 25
      de Janeiro de 1915, como vimos, que o tenente-coronel Alves Roçadas, ao
      enviar ao Ministério das Colónias o seu relatório-projecto sobre a
      futura acção das forças que se estavam concentrando no planalto,
      sugeria para o comando destas a nomeação de um chefe idóneo pela sua
      patente. A mudança
      do Governo Central, realizada no mesmo dia em Lisboa, trazendo como
      consequência uma nova orientação na política interna, favoreceu os
      desejos de Roçadas, já anteriormente expressos no seu telegrama do dia
      23. O general
      Pimenta de Castro, Presidente do Governo e Ministro da Guerra, convida o
      general Pereira de Eça para os cargos de comandante das forças
      expedicionárias e de Alto Comissário da República na Província de
      Angola, procurando assim reunir na mesma pessoa o poder civil e a
      autoridade militar superior na Província. 
      
       Um posto de socorros Não foi,
      por essa razão, nomeado o general Pereira de Eça Alto-comissário, mas
      simplesmente Governador-geral da Província. Após a
      aceitação do convite, e nomeado o pessoal do seu Quartel General,
      constituído, na sua quase totalidade, por oficiais também convidados,
      dedicou o general Pereira de Eça os dias que decorreram até 5 de Março,
      data do seu embarque para Luanda, ao estudo da situação em Angola, à
      verificação dos meios postos à sua disposição e à elaboração do
      seu primeiro projecto de operações. Notas: 1.
Relatório do general Pereira de Eça – pág. 23. 2.
Depois dos combates da Mongua, em 18, 19 e 20 de Agosto, o «destacamento do
Cuanhama» foi reconstituído, em 27 de Agosto, sob o nome de «destacamento
da N'Giva». 3.
0 autor exerceu as funções de subchefe do E. M. do general Pereira de Eça. 
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 Fonte: Coronel António Maria Freitas Soares, «A
      campanha de Angola» 
       A ver também: 
 
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