A GUERRA EM MOÇAMBIQUE.

 

4. A invasão do território português

 

Moçambique 1917
Mocimboa do Rovuma - Abrindo trincheiras

 

O comando do Coronel Sousa Rosa

Em 12 de Setembro de 1917 assume o comando da expedição o coronel Sousa Rosa, oficial enérgico e disciplinador, mas sem experiência colonial. As instruções do Governo fixavam-lhe o Quartel-general em Chomba, num planalto a 140 quilómetros do litoral.

O coronel Sousa Rosa projectava uma ofensiva 1 para a qual não tinha elementos. Dispunha de 26 camiões, mas somente de 6 condutores 2. Entretanto um telegrama de Lisboa, datado de 14 de Outubro, determinava que o melhor serviço a prestar seria guarnecer a fronteira elo Rovuma, afirmando que o governo inglês reputava desastrosa, naquele momento, a ofensiva portuguesa.

Diz o coronel Sousa Rosa, no seu relatório, «os ingleses julgavam que às suas aspirações de grande ofensiva, não corresponderia da nossa parte grande acção». E assim, como o comandante da expedição anterior, ele atribuía aos nossos aliados, o possível propósito de tolher-nos a ofensiva pelo litoral, onde nos seria mais viável.

Coronel Sousa Rosa

O coronel Sousa Rosa com o seu Q.G. e o oficial inglês de ligação

A expedição de 1917 foi para Portugal um esforço muito maior do que o realizado com a expedição de 1916, porque então já tínhamos também tropas em França e maior foi portanto a improvisação. O Governador, Álvaro de Castro, também teve de dominar, em 191 7, uma revolta indígena no Barué, empregando nessa campanha algumas companhias indígenas.

Sucessivamente embarcaram na metrópole: no vapor Portugal, em 5 de Janeiro ele 191 7, um batalhão de infantaria n.º 29, de Braga; no Moçambique, em 15 de Fevereiro, quadros para a organização de 20 companhias indígenas e um esquadrão; no Moçamedes, em 19 de Março, um batalhão de infantaria n.º 30, de guarnição em Bragança; no Portugal, em 30 de Abril, um batalhão de infantaria n.º 31, do Porto; e no Moçambique, em 2 de Julho, a companhia de engenharia, duas baterias de artilharia de montanha, duas de metralhadoras, serviços de saúde e administração militar, num efectivo total de 209 oficiais e 5.058 praças 3.

Para reforços a incorporar nas tropas indígenas e da expedição anterior, ainda seguiram mais 40% dos efectivos, atingindo 108 oficiais e 4.401 praças, que embarcaram em quatro vapores até Outubro de 1917.

Além do material correspondente a este pessoal, embarcaram 55 camiões, 4 postos de telegrafia sem fios e uma esquadrilha de aviação.

O rendimento destas improvisadas forças foi desolador. Na aviação, aos primeiros voos incendiou-se o aparelho do tenente Gorgulho, que morreu logo; adoeceu o mecânico francês contratado e os aparelhos vieram para Lourenço Marques. O batalhão do 31, do Parto, sem sair da base marítima, foi aniquilado pelas doenças. 4.

Desembarque em Moçambiqye

Expedição de 1917 - Desembarque em Mocimboa da Praia

Pior que as outras, esta expedição não teve impulso nem alma. O comandante, enérgico e cheio de boa vontade, quis aplicar o regulamento disciplinar, mas esse esforço foi contraproducente porque se levantaram terríveis resistências 5.

Diz a Comissão de inquérito

«Nas condições em que o coronel Sousa Rosa assumiu o comando da expedição, já não seria fácil evitar que erros e deficiências anteriores viessem a ter uma perniciosa influência no prosseguimento das operações. E, se preciso for justificar esta nossa apreciação com outras opiniões, poderemos citar, ainda que com desgosto, a interessante e instrutiva obra do comandante breveté J. Buhrer, L'Afrique Orientale Allemande et Ia guerre de 1914-1918, onde a pág. 334 se lê o seguinte:

«Se nós observamos os portugueses, veremos tropas europeias fatigadas antes de haverem combatido... A fé e o entusiasmo faltam completamente nos graduados...»

E a Comissão diz mais:

«O estudo deste período da campanha na Africa Oriental mais uma vez demonstra que as estações superiores não puderam ou não souberam convenientemente preparar, nem superiormente orientar a nossa intervenção militar nesse teatro de operações. Em tudo se revela uma grande desorganização, a mais completa ausência de previsão e de uma conveniente preparação, e a carência de recursos em dinheiro e em material indispensável nas campanhas coloniais, factores estes aluda acrescidos com a falta de um plano de guerra previamente estabelecido, onde tivessem sido fixados os objectivos políticos e militares da nossa acção, como beligerantes, nesse teatro de operações. E, como se tudo isso não bastasse, foi ainda por vezes agravado com a intervenção, nem sempre oportuna, de poderes superiores aos Comandos das expedições na direcção das operações, e com o fraco apoio que, também por vezes, foi dado a estes Comandos pelo Governo central».


Combates de Negomano e da Serra Mecula

O posto de Negomano estava instalado à entrada do vale do Lugenda, faixa relativamente rica entre o Oceano e o Lago Niassa.

Em 21 de Novembro de 1917, o comandante von Lettow marcha de Nevala com 2.200 espingardas, 300 europeus e 3.000 carregadores, formando quinze companhias, seguindo para Oeste pela margem norte do Rovuma. 6 Em 25 encontra o posto português de Negomano sob o comando do major Teixeira Pinto, distinto oficial 7, com bastante experiência colonial, tendo-se distinguido na Guiné, onde lhe foi dedicado um monumento pelos seus serviços militares na pacificação dessa colónia.

Aos portugueses escasseavam em Negomano ferramentas e alimentação para indígenas e, se estavam prevenidos da marcha das forças alemãs, também estavam convencidos de que a campanha ia terminar. As nossas forças eram formadas por seis companhias indígenas e seis metralhadoras. Pormenor característico: - alguns oficiais entraram em combate vestidos de branco!

Ao meio dia foi estabelecido o contacto com os alemães na margem Norte do Rovuma e às 12 horas e 45 minutos abriam eles fogos com uma peça sobre o dispositivo português,  cujos entrincheiramentos insuficientes eram em semi-círculo apoiado no Lugenda, dispositivo que depois se tornou circular, apresentando um grande alvo ao adversário.

Primeiro avião em Moçambique

1917 - O primeiro vôo português em África - Tennte Jorge Gorgulho

Os alemães executaram uma manobra que obteve a decisão. Enquanto atacavam a nossa face voltada ao Norte, um destacamento de três companhias atravessava o Rovuma e o Lugenda a um quilómetro da sua confluência e, desfilando essas três companhias abrigadas pelo arvoredo, vinham atacar as nossas forças pelo sul, onde a 28.ª companhia indígena, recuando desmoralizada, deu ensejo ao assalto geral dos alemães, que com as suas doze companhias cercaram completamente as nossas seis, que entravam pela primeira vez em fogo defrontando tão aguerridos adversários.

Tivemos 5 oficiais mortos, entre eles o major Teixeira Pinto, 14 europeus e 208 indígenas; mais de 70 feridos graves e 550 prisioneiros entre os quais 31 oficiais.

Após o combate, em que do lado português se repetiram as mesmas faltas de ligação, além de pouca combatividade 8, os alemães não se demoraram, em consequência de não terem alimentação para      os indígenas e depois de se apossarem dos despojos formaram duas colunas, marchando cada uma pela sua margem do Lugenda. Todos os prisioneiros foram soltos. Dizem as memórias do General Lettow que ele ao iniciar o combate não sabia se tinha a defrontar ingleses ou portugueses, reconhecendo depois serem estes pelo som das espingardas e que se decidiu a combater para conseguir munições e abastecimentos. Já em 1916 os alemães tinham atacado, em 29 de Agosto, o pequeno posto de Negomano, sendo repelidos. Foi nessa ocasião que o alferes Marcos, saindo para fora da trincheira, recolheu aos ombros um cabo indígena ferido 9.

Curioso se torna observar, quanto às operações portuguesas, que este segundo combate de Negomano, em 25 de Novembro de 1917, parece suceder ao de Nevala, como se entre os dois não tivesse decorrido um ano 10. Nós supúnhamos a campanha a terminar, mas, se tivéssemos avançado, em ligação com os ingleses, talvez fossem cercados em Nevala os alemães. A manobra foi proposta, com duas companhias portuguesas que atravessariam o Rovuma, mas os ingleses consideraram essa força muito fraca, e a operação não se realizou.

Os alemães escapam-se de Nevala, onde estavam quase cercados pelos ingleses, batem-nos em Negomano e internam-se no território português, conseguindo prolongar a campanha até o Armistício.

Na grande circunscrição de Metarica, a poente do Rio Lugenda, a Serra Mecula, constituída por alturas pedregosas dalgumas centenas de metros, com uma frente favorável à ocupação duma companhia indígena e uma bateria de metralhadoras cobria os nossos abastecimentos concentrados em Nanguar, interceptando os caminhos para o Sul.

O capitão Curado, que comandava essa força, deixaria um oficial com instruções para destruir esses abastecimentos, se os alemães aparecessem, e ele próprio avançaria com as reduzidas forças para tentar deter o adversário.

Mapa de Negomano

Esquema do ataque dos alemães

Em 1 de Dezembro de 1917 começou a abrir os entrincheiramentos nas posições que dominavam os caminhos de acesso do adversário, apesar de serem poucas as ferramentas de que dispunha. 11

Às 5 horas da manhã de 3 de Dezembro deu-se o contacto, tendo pelo dia adiante os alemães reforçado as suas forças e sucessivamente varrido os nossos postos avançados de combate; mas após sete horas de fogo, retiravam com bastantes baixas, perante a resistência tenaz e persistente dos defensores, os quais, depois de refeitos, com energia melhoraram os seus entrincheiramentos durante os dias 4 e 5 de Dezembro.

No dia 6 os alemães voltaram ao ataque com maior número de metralhadoras e maiores efectivos, visando em especial as metralhadoras dos defensores da posição da Serra Mecula. No combate deste dia empregaram patrulhas e prolongaram o tiroteio até ao pôr-do-sol.

Aproveitando a noite conseguiram fazer avançar as suas patrulhas de modo que, ao romper novamente o fogo na manhã do dia 7, já se encontravam em estreito contacto com os defensores, mas a disciplina e o cruzamento dos nossos fogos conseguia detê-los mais um dia.

Finalmente, na manhã do dia 8 já traziam ao combate duas peças de artilharia, alvejando com as suas granadas as nossas trincheiras e, com maiores efectivos, conseguiam envolver as posições em que os portugueses se encontravam então encurralados. Com esse avanço conseguiam os alemães apoderar-se das fontes que abasteciam de água as nossas tropas e os refrigeradores das metralhadoras, que escaldavam pelo intenso fogo.

Ao meio-dia apoderam-se duma parte das nossas trincheiras. Mas ainda assim, a luta durou mais duma hora até que eles se lançaram ao assalto, decidindo o combate. Foi então que morreu um dos oficiais novos, que já tinha um nome prestigiado 12, o tenente Viriato de Lacerda, ferido mortalmente quando destruía a metralhadora que lhe restava, para que ela não caísse em poder dó inimigo. Ao ser enterrado este oficial, os alemães prestaram-lhe honras, dando um pelotão as descargas do estilo e sendo acompanhado pelos seus camaradas, amigos e inimigos até ao coval. O governador da colónia alemã Dr. Schnee, que acompanhou sempre as suas tropas em 1917 e 1918, assistiu ao funeral. Comandava o destacamento inimigo o general de reserva Wahle, figura típica do valor militar dos nossos adversários; visitava a colónia alemã quando rebentou a guerra e, voluntariamente, serviu em importantes comandos subordinados ao, então tenente-coronel, von Lettow.

Depois foi comunicado ao comandante das nossas forças, capitão Curado, que os alemães tinham resolvido dar a liberdade aos prisioneiros, mas como garantia exigiam aos oficiais o compromisso de honra de não voltarem a combater os impérios centrais e, aos outros graduados europeus, que não combatessem mais em África. Como os nossos se recusassem a tomar esse compromisso, a que se opõem os regulamentos, os alemães acataram com apreço essa resolução, dando-lhes liberdade incondicional.

O combate da Serra Mecula, essa resistência tenaz durante quatro dias, até que a companhia e a bateria de metralhadoras ficaram reduzidas a 36 indígenas, depois do assalto, foi uma das acções mais impressionantes da campanha, dando novo realce à figura prestigiosa do valoroso comandante, capitão Curado, a quem chamaram «o condestável do Rovuma» e que contudo só foi promovido por distinção mais de dois anos depois. 13

Os combates de Nhamacurra

O comunicado dos aliados, em 4 de Dezembro de 1917, dizia: «Uma pequena força alemã refugiou-se em território português, tendo já sido tomadas todas as providências para a sua perseguição». A este tempo o coronel Sousa Rosa recebia ordem para evacuar Porto Amélia, que constituiria uma nova base das forças inglesas, as quais, conquanto cooperando na defesa da nossa colónia, não ficariam subordinadas ao Comando português. 14

Conforme o relatório do general bóer Van Deventer, comandante em chefe dos Aliados, a situação era por ele interpretada, quanto aos alemães, supondo-se que os seus propósitos seriam prolongar a campanha, evitando empenhar-se a fundo, para poder durar por mais tempo, enquanto do lado dos aliados o plano de campanha a efectivar nos primeiros meses de 1918, após as chuvas que em regra calam em Março, seria cercar os alemães que se mantinham no centro dos territórios da Companhia do Niassa, entre os rios Rovuma e Lúrio.

A 13 de Dezembro de 1917 15 chegam os transportes ingleses a Porto Amélia e começa a morosa organização duma coluna inglesa, sob o comando do coronel Rose, enquanto o general Van Deventer vai a Lourenço Marques conferenciar com o governador geral interino da nossa colónia, porquanto o governador Álvaro de Castro retirara para a Metrópole. Em meados de Abril de 1918 todas as forças inglesas desembarcadas em Porto Amélia ficam sob o comando do general Edwards e tomam o contacto com os alemães, que combatem sucessivamente em todas as frentes com sensíveis perdas de ambos os lados, atingindo por vezes um décimo dos efectivos. No mês de Maio o cerco aos alemães é mais apertado; os portugueses continuam em Chomba e no Rio Lúrio, enquanto os generais Edwards e Hawthorn, este vindo do Niassa, estabelecem ligação entre si. Mas os alemães conseguem escapar-se para o Sul atravessando o Rio Lúrio em diversos vaus e abandonando duas ambulâncias carregadas de doentes e feridos, para tornar mais móveis as suas forças, e assim, em Junho surpreendem algumas forças portuguesas já no distrito de Quelimane, dizendo nas suas memórias o comandante - «que os oficiais estavam tomando café na varanda do posto» 16.

A ignorância do serviço de patrulhas foi a nossa maior deficiência táctica, deixando-nos surpreender com frequência e tolhendo-nos os movimentos. Semelhantemente os ingleses muito sofreram pela mesma falta das suas tropas.

Em vista da ameaça alemã sobre Quelimane, o dispositivo aliado desloca-se para o Sul. O coronel Sousa. Rosa muda o seu Quartel-general para Quelimane e o general Edwards transfere o seu para Moçambique. Os cruzadores «Adamastor» e «Thistle» protegem a vila de Quelimane, sendo ali os portugueses reforçados por um batalhão de três companhias indígenas inglesas.

Os alemães marchavam com um grupo de três companhias em guarda avançada seguida pelo grosso das forças a um dia de marcha e a guarda da retaguarda a duas etapas depois. As instruções de Von Lettow tinham por fim procurar munições.

Mapa de Namacurra

Esquema do ataque

 

O nosso serviço de segurança continuava entregue provisoriamente ao oficial inglês, o qual em 30 de Junho, véspera do combate de Nhamacurra, dizia: «Não há notícias do inimigo. O Rio Licungo não é vadeável». Pois no dia seguinte, 1 de Julho, os alemães da guarda avançada atravessavam a vau o Licungo; verdade é que os homens tinham água pelo pescoço e a operação da travessia do rio levou horas a executar.

Nhamacurra, 40 quilómetros a Norte de Quelimane, é um grande depósito duma Companhia Açucareira, estação do caminho-de-ferro de Quelimane, depósito também servi ido por um rio navegável; os depósitos tinham trezentas toneladas de açúcar e outros géneros.

O comando das forças aliadas pertencia a um major português, mas por fim coube a um tenente-coronel inglês Brown, promovido na ocasião 17. A posição das trincheiras, com três quilómetros de desenvolvimento, era cortada por uma difícil linha de água, tendo sido guarnecida por três companhias portuguesas e duas inglesas. Conforme o relatório do comandante em chefe Van Deventer, na tarde de 1 de Julho, o sector Oeste da posição foi surpreendido e torneado, e, apesar de os oficiais e sargentos portugueses terem combatido durante três horas com bravura 18, todo o sector, com duas peças de tiro rápido, caiu em poder do inimigo, tendo os portugueses dois oficiais e um sargento mortos, muitos feridos e onze oficiais prisioneiros. 19  

No dia 2 os alemães voltam a atacar, já com o grosso sob o comando de Von Lettow, mas são repelidos. Às 6 horas da manhã do dia 3, repetem o ataque com maior intensidade e às 15 horas abrem fogo com a artilharia 20, provocando desordem o aparecimento de civis nas trincheiras, e o pânico rebenta fugindo as tropas para o rio, onde morrem afogados o comandante inglês Brown e muitas praças, devido à forte corrente e à largura do rio avaliada em 80 metros. Dos europeus ficaram prisioneiros, quase todos feridos, 5 ingleses e 117 portugueses, conseguindo evadir-se de noite cerca de 55 portugueses. Além das duas peças desmanteladas, os alemães tomaram 7 metralhadoras pesadas e 350 espingardas portuguesas e inglesas.

Depois deste renhido combate de Nhamacurra, ainda apareceu subindo o rio um vapor com munições e abastecimentos, o qual foi também capturado pelos alemães, que já não tinham carregadores que pudessem transportar tão valiosas presas.

Os alemães fizeram depois correr o boato de que iam atacar Quelimane, tornando assim inquietante a situação da vila, onde foi logo dada ordem para o embarque nos cruzadores, das mulheres e crianças bem como dos valores do Banco, e se tomaram disposições de defesa, contra a possibilidade daquele ataque.

Comando brtânico

O general Van Deventer a bordo do cruzador ligeiro inglês em Porto Amélia

 

Em Nhamacurra verificou, o comandante Von Lettow que muitos soldados indígenas dos ingleses eram já recrutados na África Oriental Alemã, incluindo também bastantes antigos soldados alemães 21, donde se prova a facilidade com que um soldado indígena se pode alistar sob diferentes bandeiras, continuando a ser bom soldado.

Para nós, verificou-se neste combate a dificuldade de cooperação com os ingleses, resultante do nosso infeliz desconhecimento mútuo.

O combate de Nhamacurra foi a última acção importante dos portugueses no período do comando do coronel Sousa Rosa, que em 7 de Julho regressava à Metrópole. Foi nomeado comandante em sua substituição o general Gomes da Costa, meses antes regressado da França, o qual, porém, só chegou a assumir o comando em 21 de Dezembro, depois do armistício 22.

 

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Notas:

1. Este oficial era deputado e no Parlamento advogava a ofensiva nesta campanha.   (voltar ao texto)

2. Chauffeurs no original.   (voltar ao texto)

3. Revista Militar, 1918, pág. 129.   (voltar ao texto)

4. Quando descreve com o mais sincero e pungente realismo a situação sanitária das tropas em Mocimboa da Praia, nova base marítima, que arranjara a fama de Sintra do Niassa, o Dr. Américo Pires de Lima, no Seu já citado livro, diz:

«Se na enfermaria e na Cruz Vermelha a mortalidade era penosa, no quartel do 31 a situação chegou a ser verdadeiramente alarmante. Todas as manhãs faltavam vários soldados à chamada e o sargento de serviço, que ia abana-los à cama para os despertar, ia dar com eles mortos. Dias houve em que apareceram assim mortos dez soldados (3 de Julho)... Naquele ambiente era preciso ter a vontade bem temperada para não sucumbir, como sucumbiram os do 31, que diziam com fatalista resignação: «sou do 31, tenho de morrer.» E o certo é que indivíduos, hoje com aparência de boa saúde, no dia seguinte apareciam mortos nas tarimbas. O destino inexorável preparava assim para os médicos da expedirão de 1916 a mais estrondosa reabilitação e, para os áulicos de Lourenço Marques, a mais clamorosa derrota..A caluniada expedição de 1916, com as formidáveis marchas que executou, os combates que travou, as fadigas e privações de toda a ordem, não tinha, ao fim dum, ano, 6 % de mortos. O batalhão do 23 tinha perdido exactamente 5,6% dos seus homens. Pois o 31, sem dar um passo e sem dar um tiro, chegou a perder 10% ao mês e, no fim dum ano, daquele batalhão restavam uns míseros destroços». (Nota da Direcção).   (voltar ao texto)

5. O caso deu origem a um inquérito na metrópole, cujas conclusões se encontram na O. do Ex. (2.ª série) n.º 16 de 1926.  (voltar ao texto)

6. Foi na noite de a 21/22 que o Q. G. português foi alarmado pelo boato de que os alemães, entrando em território nosso, viriam atacar Chomba.

Estava o acampamento de Chomba coberto na frente pelos auxiliares, do capitão Neutel de Abreu, cuja posição dominava a estrada de Mocimboa do Rovuma. Não obstante a confiança que devia inspirar essa valiosa cobertura, o Comando resolveu retirar, nessa mesma noite, o Q. G. para Nacature.

Cabe aqui prestar a devida homenagem ao capitão Neutel – o «Mahon» na gíria indígena – oficial dos mais notáveis na nossa história colonial contemporânea. Ao serviço da colónia de Moçambique desde 1898, as suas qualidades militares, assinaladas em sucessivas acções de campanha na ocupação efectiva das regiões do norte da colónia ----ocupação que a ele principalmente se deve e ao não menos valoroso major José Augusto da Cunha-- criaram-lhe tal prestígio entre os indígenas que estes o consideravam e respeitavam como um semideus. Deve-se-lhes a pacificação dos macondes, indígenas que os alemães, segundo é de crer, revoltaram contra nós, e que Cunha e Neutel com as tropas auxiliares do seu comando, conseguiram dominar por completo, vindo estabelecer-se depois no planalto da Chomba, onde naquela noite, não davam noticia da aproximação dos alemães. De facto, estes, não se dirigiram sobre Chomba, mas sobre Negomano. A informação deste movimento do inimigo foi enviada a Negomano pelo oficial inglês de ligação, capitão Cohen, mas chegou tarde: pouco depois começava o ataque. (Nota da Direcção).   (voltar ao texto)

7. Buhrer (L'Afrique Orientale, 191 4-1918) diz: Teixeira Pinto, «excelente oficial português».   (voltar ao texto)

8. Revista Colonial, 1920, n.os 86 e 87.   (voltar ao texto)

9. Revista Militar, 1930, pág. 160.   (voltar ao texto)

10Livro de Ouro da Infantaria, 1922, pág. 89.   (voltar ao texto)

11Revista Militar, 1919. pág. 430.   (voltar ao texto)

12O tenente Viriato de Lacerda «que, num corpo franzino e doente, tinha uma energia férrea e serena» – diz o Dr. Pires de Lima (loc. cit.) - e que já se tinha distinguido na retirada de Nevala, «negou-se terminantemente a ser repatriado quando os médicos da expedição de 1916 verificaram o precário estado de saúde em que o pusera um ano de campanha. Ainda combateu mais dois anos, e não combateu mais porque uma bala o prostrou para sempre, no alto da Serra Mecula...»   (voltar ao texto)

13. Ordem do Exército, 2.ª' série de 1920. pág. 618.   (voltar ao texto)

14Sobre esta questão do comando, merece registo a resposta dada pelo nosso M.N.E., Sidónio Pais, em 8 de Janeiro de 1918 à proposta que em 6 recebera do Governo Britânico, por intermédio da sua Legação em Lisboa. Essa resposta, em que se faz a apologia da unidade do comando, termina por «concordar com a proposta do Governo de S. M. Britânica para que as forças portuguesas em operações na África Oriental cooperem com as forças aliadas sob o comando do chefe mais graduado, organizando-se todavia um quartel general misto.» (Nota da Direcção).   (voltar ao texto)

15É de 18 de Dez. a nota em que o M. N. E. Sidónio Pais, comunica ao Ministro de Portugal em Londres que, «recebidos os pedidos da Legação Britânica expressos em memorandum de 12 de Dez. pedindo autorização para o desembarque de tropas britânicas em Porto Amélia e outras providências julgadas indispensáveis, apressei-me a notificar a plena satisfação do pedido e promover a expedição de instruções terminantes para Moçambique no sentido desejado. Na nota que me dirigiu, anunciando estar autorizado a corresponder-se com o Governo a que presido (nota de 16 de Dez.), o Sr. Ministro de Inglaterra regista e agradece em nome do Governo Britânico o deferimento do pedido como prova concreta dos sentimentos amigáveis que lhe foram asseverados...» (Nota da Direcção).   (voltar ao texto)

16Memórias do general Lettow. Tradução. pág. 310.   (voltar ao texto)

17A Campanha da África Oriental. Descrita no jornal «Africano» de Lourenço Marques. 1919.   (voltar ao texto)

18Relatório do general Van Deventer.   (voltar ao texto)

19Foram estes oficiais que dirigiram em 1 4 de Julho de 1918, ao comando alemão, um protesto contra a forma desumana como eram tratados no cativeiro.   (voltar ao texto)

20A duzentos passos das trincheiras inglesas. Memórias, General Lettow. pág. 322.   (voltar ao texto)

21. Memórias, General Von Lettow, pág. 333.   (voltar ao texto)

22. Ordem final de ocupação da fronteira do Rovuma. Expedicionários, por Eduardo de Faria.
  (voltar ao texto)

Fonte:  

Coronel Eduardo Azambuja Martins, «A campanha de Moçambique»,
in General Ferreira Martins (dir.), Portugal na Grande Guerra, Vol. 2, Lisboa, Ática, 1934,
págs. 171 - 182

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