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o 3.º conde de Castelo Melhor
O 3.º conde de Castelo Melhor

Castelo Melhor (Luís de Vasconcelos e Sousa 6.º conde da Calheta e 3.º conde de).

 

n.       1636.
f.        15 de agosto de 1720.

 

Reposteiro-mor da Casa Real, escrivão da puridade, conselheiro de Estado, primeiro-ministro e valido de D. Afonso VI, e depois do Conselho de Estado de D. João V, senhor de Valhelhas, Almendra e Mouta Santa, alcaide-mor e comendador de Pombal; senhor do condado da Calheta, de que foi o 6.° conde, etc.

Nasceu em 1636, faleceu a 15 de agosto de 1720. Era filho do 2.º conde de Castelo Melhor, D. João Rodrigues de Vasconcelos e de sua mulher D. Mariana de Lencastre e Vasconcelos.

Acompanhando seu pai durante a campanha de 1658, mostrou então grande bravura e intrepidez, mas os campos da batalha eram estreito recinto para quem, reconhecendo em si inteligência não vulgar, pensava em subir aos mais elevados cargos do estado, e por isso trocando a vida agitada dos acampamentos pela não menos difícil e espinhosa da câmara do palácio real, tratou de conquistar o valimento do jovem príncipe, que pela morte de D. João IV herdara a coroa portuguesa, mas que se conservava ainda sob o domínio da rainha regente, sua mãe. A grande dificuldade, porém, a vencer, não era só o assenhorear-se do ânimo do futuro monarca, mas em lhe dar força bastante para assumir o poder e em contrariar e desfazer os planos do marquês de Marialva e de outros áulicos, que, tendo grande importância no tempo da regência, se dispunham a conservá-la quando o novo soberano fosse aclamado. Aproveitando habilmente a prisão de António Conti, valido do príncipe, ordenada pela rainha, e valendo-se do auxilio do conde de Atouguia e de outros fidalgos que atraíra ao seu partido, o conde de Castelo Melhor conseguiu levar D. Afonso a um golpe de Estado, e entrando com ele numa liteira foi para a quinta de Alcântara onde o rei mandou chamar toda a nobreza, e expediu a todas as autoridades a comunicação de haver tomado posse do governo. A rainha tentou resistir por boas razões e bons conselhos, mas, reconhecendo as dificuldades da luta entregou definitivamente a seu filho o governo do reino a 29 de junho de 1662, e o conde de Castelo Melhor começou por assim dizer, a ser o verdadeiro rei de Portugal, embora só com o título de escrivão da puridade. Para melhor assegurar o seu domínio, procurou cercar o monarca de pessoas exclusivamente suas, introduzindo no palácio de Corte Real em que vivia o infante D. Pedro, homens da sua completa confiança, para o informarem da intriga que ali se urdia, e desconfiando que a rainha viúva ainda conservava alguma influencia no animo do rei, procurou afastá-la, fazendo com que fosse viver numa quinta no sítio do Grilo. 

Quando o conde de Castelo Melhor se viu senhor omnipotente da administração, eram bem críticas e desesperadas as circunstâncias do país. O tratado dos Pirenéus, pelo qual a França nos havia traiçoeiramente abandonado, permitia a Filipe IV voltar contra Portugal todas as forças disponíveis da sua vasta monarquia, e de facto D. João de Áustria, atravessando a fronteira do Alentejo com um grande exército, veio pôr cerco a Évora, tomou essa cidade, e cinco mil castelhanos chegaram até Alcácer do Sal, quase à vista de Lisboa. Em tão graves circunstâncias o novo ministro tornou-se incansável em reunir e organizar novas tropas, em vencer as rivalidades dos generais, e em empregar finalmente todos os elementos para afastar o perigo que ameaçava a nossa independência. Concentrando no Alentejo todos os recursos de que podia dispor, habilitou D. Sancho Manuel a ganhar a vitória do Ameixial, e sem descansar continuou a juntar novas forças e a prestar a maior atenção aos preparativos militares. O conde de Castelo Melhor buscava também o auxílio das cortes estrangeiras, e para estreitar as relações de Portugal e da França, e interessar esta nação nos nossos destinos, tratou de negociar o casamento de D. Afonso VI com uma princesa da família de Luís XIV. Aproveitando o sucesso obtido pelas nossas armas em Montes Claros e a vontade do soberano francês, que se apresentou como medianeiro para ir tratar da paz entre Portugal e Espanha, o conde de Castelo Melhor impôs condições duríssimas para o orgulho espanhol, que não chegaram a realizar-se, mas, enquanto elas duraram, mostrou uma firmeza e energia admiráveis, qualidades que também manifestou depois nas relações que teve com o representante de Luís XIV em Lisboa para se ajustar a liga ofensiva e defensiva entre Portugal e a França. Desejava sinceramente o soberano francês essa aliança, mas queria conservar para si a liberdade de acção e fazer o menor número possível de sacrifícios, ao mesmo tempo que Portugal se empenhasse na luta com todas as suas forças. O conde de Castelo Melhor não acedeu a estes princípios, e conseguiu afinal que se ajustasse a liga com perfeita e completa reciprocidade de direitos e deveres para os dois estados contratantes, embora um deles fosse a poderosa França e o outro a pequena nação cuja independência poucos anos antes estivera ainda em grave risco. O conde pensava, quando se tratasse da paz definitiva, obter alguma porção de Espanha, que anexando-se ao nosso país, alargasse o território de Portugal, ficando pertencendo a este toda a faixa ocidental da península, e tendo o mar por limites ao norte, ao sul e ao ocidente. 

O ministro não pôde realizar este grandioso projecto, porque as intrigas contínuas da corte e a vergonhosa trama que tirou a D. Afonso a esposa e o trono, fizeram cair do poder o homem que dirigia os negócios públicos e o governo com tanta fineza e inteligência. Enquanto viveu a rainha D. Leonor de Gusmão, as discórdias entre os dois irmãos conservaram-se quase na sombra, mas apenas faleceu as hostilidades romperam-se abertamente. O conde de Castelo Melhor, receando uma guerra civil que transtornasse os seus planos políticos e que num instante desfizesse as vantagens adquiridas à custa dos trabalhos e sacrifícios de uns poucos de anos, cedeu ás exigências de D. Pedro, mas longe de ficar serenada a tempestade nascente, esta redobrou de intensidade e fervor com a vinda da princesa D. Maria Francisca de Sabóia, escolhida para esposa de D. Afonso VI. Apenas chegou a Portugal, logo a rainha procurou por todos os meios possíveis insinuar-se no ânimo do monarca, seu marido, e como o escrivão da puridade, não só por ciúme mas porque não queria ver o país sujeito completamente à vontade de Luís XIV, tratou do estorvar esses desejos, donde se originou a decidida inimizade entre a soberana e o ministro, que ao princípio se conservou encoberta, mas que dentro em pouco se manifestou clara a abertamente, apesar do astuto diplomata evitar com a maior diligência, que a rainha tivesse motivo para se queixar do seu procedimento.

A injustificada exigência feita pela rainha a seu marido, para demitir o secretário de Estado António de Sousa de Macedo, exigência que não foi satisfeita por conselho do conde de Castelo Melhor, forma o primeiro acto do drama tristíssimo e indecoroso em que a rainha e o infante representaram os principais papéis. As intrigas prosseguiram, dando o resultado bem conhecido da deposição do monarca, da subida de D. Pedro ao trono, o casamento com sua cunhada, e a demissão do ministro. O conde de Castelo Melhor saiu então do reino, a depois de ter viajado pela França a pela Itália, fixou a sua residência em Londres em 1677, e tais serviços prestou à rainha D. Catarina de Bragança, mulher de Carlos II, e irmã de D. Pedro, que esta conseguiu que o conde regressasse ao reino em 1685, indo residir então para Pombal, onde permaneceu até 1687, ano em que lhe foi permitido voltar a Lisboa. Mais tarde, D. João V readmitiu-o no conselho do Estado.

O conde de Castelo Melhor era casado com D. Guiomar de Távora, viúva de D. .Jorge de Ataíde, 3.º conde de Castro de Aire, filha e herdeira de Bernardim de Távora, reposteiro-mor, senhor das ilhas do Fogo, Santo Antão e Santa Maria, comendador de Santa Maria de Cacela na ordem de Cristo, e de sua mulher, D. Leonor de Faro, filha do conde de Faro, D. Estêvão de Faro.

 

 

 

Genealogia do 3.º conde de Castelo Melhor
Geneall.pt

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume II, págs. 8
90-891

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2012 Manuel Amaral