Portugal - Dicionário

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Ocem (Martim).

 

n.      
f.       c. 1435.

 

Doutor em Leis, do conselho de D. João I e seu chanceler-mor, e igualmente do conselho do infante D. Duarte, seu filho, e governador da sua casa. 

Seu pai era o Dr. Gil de Ocem, chanceler-mor do Reino, que foi embaixador a Castela com Afonso Gomes da Silva em 1371, para confirmação das pazes feitas entre o rei Henrique II e D. Fernando I, de Portugal, e que seguindo primeiro o partido do rainha D. Leonor Teles, a quem acompanhou de Lisboa para Alenquer, passou depois ao serviço de D. João, Mestre de Avis, ajudando-o com o seu valor e conselho, e acompanhando-o na batalha de Aljubarrota. Sua mãe era D. Brites Anes Nogueira. Teve por irmão Pedro Gil de Ocem, a quem o referido Mestre de Avis, em agradecimento aos trabalhos no cerco de Lisboa, doou os direitos das quintas das suas chantas de Santarém. Chanta, termo antigo, era o terreno em que foram plantadas de pouco tempo, árvores de qualquer qualidade, ou vinhas. Estas chantas, de que se fala, eram certos olivais novos, plantados nuns terrenos dos arrabaldes de Santarém. 

Martim de Ocem era muito estimado por D. João I, como pessoa de muito saber e experiência, e o encarregava dos negócios mais importantes do reino. No ano de 1400 o enviou como embaixador a Henrique, de Castela, a fim de assentar tréguas, ou pazes, com ele, dando-lhe por companheiros a D. João Esteves de Azambuja, arcebispo de Lisboa, e a João Vasques da Cunha. Chegando todos a Segóvia no 1.º de Junho daquele ano, onde estava o rei castelhano, por motivo das condições propostas pelo cardeal de Avinhão, que respondia pelo dito rei, Martim de Ocem vem a Lisboa, e assistindo a alguns conselhos em que na sua presença se tomaram as resoluções, que pareceram convenientes, tornou a Segóvia, e se estabeleceram tréguas de dez anos. Pouco tempo depois; em 1404, tendo falecido Ricardo II, de Inglaterra, D. João I novamente o enviou como embaixador a Londres, com João Gomes da Silva, seu alferes-mor, a ratificar a confederação e aliança com Henrique IV, seu sucessor, a qual concluiu com brevidade e satisfação de ambas as coroas em 16 de fevereiro. No ano seguinte, 1405, pela segunda vez foi a Inglaterra, como embaixador, juntamente com Vaz de Almada, para tratar o casamento de D. Brites, filha bastarda de D. João I, com D. Tomás, conde de Arundel, o qual tratado se celebrou a 7 de fevereiro, e  se recolheram ambos a Portugal com os procuradores do conde. Depois de feito este casamento, em Abril, na presença do mesmo rei seu pai, e com a solenidade correspondente à grandeza do acto, Martim de Ocem tornou a Inglaterra, e fez as vezes de procurador de D. João I para se lavrar o instrumento deste casamento, e de haver recebido as bênçãos do arcebispo de Cantuária, primaz daquele reino; o qual se lavrou na presença do rei de Inglaterra, em 26 de novembro do mesmo ano. Em 1411 foi nomeado embaixador a Castela, com o mencionado João Gomes da Silva, alferes-mor, e Fernão Gonçalves Beliagua, deão da sé de Coimbra, para tratar pazes com a rainha D. Catarina, que governava na menoridade do rei D. João II, seu filho, as quais se estabeleceram e ratificaram em 31 de outubro do mesmo ano de 1411, para depois serem aprovadas pelo rei. Em 1418 quis o rei D. João, de Portugal, confirmar estas pazes, e foi mandado segunda vez Martim de Ocem com os mesmos João Gomes da Silva e Fernão Gonçalves Beliagua, mas recebendo a resposta que o rei ainda não tinha completado catorze anos, voltaram ao reino sem efeito. Em 1419, em que o monarca castelhano já chegara à referida idade de catorze anos, foi outra vez nomeado e com os mesmos companheiros, para o mesmo fim, e com o mesmo sucesso se recolheram a Portugal, só com as esperanças do que depois aconteceu, as guerras que os nossos cronistas nos contam. 

Martim de Ocem assistiu como testemunha ao casamento de el-rei D. Duarte, sendo ainda infante, com D. Leonor de Aragão, em Coimbra, a 4 de novembro de 1428; e também na confirmação que seu pai, D. João I, fez do mesmo contrato, em Estremoz, a 2 de dezembro do mesmo ano. Foi igualmente testemunha, em primeiro lugar, no instrumento que se passou dos desposórios da infanta D. Isabel, filha do citado monarca, com Filipe, duque de Borgonha, por seus procuradores, em Lisboa, 1429. E para prova do bem que serviu em todas estas coisas, o rei D. João I, em seu testamento o mostra e confirma, por estas palavras: 

«E semelhante achámos e soubémos do dr. Martim Docem, do conselho nosso e do infante meu filho e seu chanceller-mór, que, em desembargar as nossas non certas e fazer outras cousas per nosso serviço, assi ante que fosse em casa do dito infante, co­mo depois que em ella andou, que todo fez muyto bem e corno devia, com resguardo de nosso serviço». 

Martim de Ocem achava-se matriculado entre os moradores da Casa Real de D. João I, com a moradia de 15$600 reis. Faleceu em Santarém pelos anos de 1435, e foi sepultado na igreja do convento de S. Domingos, na capela de S. Pedro, no cruzeiro, num túmulo levantado, onde se, esculpiu a sua estátua de corpo inteiro, e deitada, tendo o escudo das suas armas. Esta igreja foi profanada depois de 1834, ficando em ruínas, assim como o edifício do convento.

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume V, págs.
171-172.

Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
Edição electrónica © 2000-2015 Manuel Amaral