A evolução das Milícias

16.ª parte

 

As Milícias na retaguarda do exército francês em Portugal 

 

Massena deixou em Coimbra cerca de três mil feridos e mil doentes, sob a proteção de um batalhão de infantaria de marinha, o 44e bataillon de la flotille, que tinha estado em Valladolid. A unidade tinha-lhe sido enviada porque seria boa para "lhe dar apoio na travessia dos rios e fundamentalmente na travessia em frente de Lisboa".

 

Napoleão e Foy
O general Foy apresenta a Napoleão
um relatório verbal sobre a situação
do exercito de Massena em Portugal

 

Trant tinha recuado para a linha do Vouga devido aos ataques da cavalaria de Sainte-Croix. Não tendo sido perseguido, decidiu-se a avançar ao encontro da retaguarda francesa, e fazer o maior número de prisioneiros. Em 6 de outubro já estava na Mealhada, onde soube que o exército de Massena tinha abandonado Coimbra. No dia seguinte, domingo, avançou em direção à cidade, conseguiu separar a guarnição, estabelecida na margem direita, dos feridos e doentes que estavam concentrados sobretudo na margem esquerda, no convento de Santa Clara, e conseguiu rapidamente a sua rendição. O ataque, segundo o próprio Trant, provocou uma reação violenta dos soldados do Regimento de Milícias de Coimbra.

Trant deixou uma brigada em Coimbra – formada pelos regimentos do Porto e de Penafiel – e acompanhou os mais de cinco mil prisioneiros até ao Porto, com os restantes três regimentos da sua divisão. Os quatro regimentos de Milícias do Minho, comandadas pelo brigadeiro Miller e o coronel Wilson, tinham chegado no dia 8 de outubro à cidade, vindas da Beira Alta, e substituíram as forças de Trant. O Regimento de Milícias de Vila do Conde, comandado pelo coronel Luís Carneiro de Sá Barbosa, sob o comando superior do coronel Wilson atravessou o Mondego e por Condeixa avançou até Redinha. Em 19 de novembro chegava a Leiria, tendo ordens de se dirigir para Tomar e Torres Novas.

O cordão de tropas na retaguarda do exército francês ia de Peniche, guarnecido desde inícios de Outubro pelo Regimento de Milícias de Tondela que substituíra o de Viseu, até Abrantes, onde estavam de guarnição os regimentos de Soure, Arouca e Trancoso. Para manter o cordão o mais hermético possível, algumas guardas do levantamento em massa devem ter sido organizadas, mesmo que só muito genericamente se consiga ler sobre a sua atuação.

Enquanto os dois exércitos se dirigiam pelo vale do Mondego até ao Buçaco e Coimbra e, posteriormente se observavam a norte de Lisboa nas posições defensivas construídas de Torres Vedras até Alhandra, as Milícias de Trás os Montes do marechal de campo Francisco da Silveira tinham saído de Bragança e do campo de Babe, a nordeste da cidade, e avançado em direção ao Douro. Silveira deixou o regimento de Milícias de Moncorvo em Bragança, colocou o regimento de Lamego em Freixo de Espada à Cinta e o de Miranda em Torre de Moncorvo, atravessou o Douro e colocou os dois regimentos de Chaves e Bragança em Cedovim, a norte de Trancoso, e o regimento de Vila Real na Guarda. Este regimento e o de Miranda, chamado de Torre de Moncorvo, estavam em Outubro em Celorico da Beira, e os dois estacionados a norte de Trancoso dirigiram-se para esta vila, sendo o regimento de Lamego enviado para Pinhel O general Silveira formou, assim, um apertado triângulo de controlo das estradas da Beira Alta, cortando a linha de comunicações do exército francês com Almeida e Cidade Rodrigo.

O posicionamento das Milícias de Trás-os-Montes, e as muitas guardas de defesa local espalhadas pelas províncias da Beira e da Estremadura, impediram, de facto, a chegada de informações do exército de Massena a Almeida e a Cidade Rodrigo. O que implicou a necessidade de abrir caminho para que alguém conseguisse levar notícias a Napoleão Bonaparte. Foi a célebre missão do general Foy. Em 8 de novembro, com a chegada do general a Cidade Rodrigo, na sua viagem até Paris para explicar a situação do exército de Massena ao imperador dos franceses, foi mandada avançar uma coluna de reforços para Portugal sob o comando do general Gardanne e em Valladolid, quando Foy encontrou o comandante do 9.º corpo do exército francês de Espanha, o general Drouet D’Erlon, transmitiu-lhe as ordens de Massena que o mandavam entrar em Portugal para apoiar a isolada força francesa que se encontrava naquele momento ao redor de Santarém

 

continuação

 

 

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