Portugal - Dicionário

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O Portal da História Dicionário > D. Jaime I, 4.º duque de Bragança
Duque D. Jaime
O duque D. Jaime, por Duprà

Bragança (D. Jaime I, 4.º duque de).

 

n.       1479
f.        20 de setembro de 1532.

 

Era filho do 3.º duque, D. Fernando II, e de sua mulher, a duquesa D. Isabel. 

Nasceu em 1479, faleceu a 20 do setembro de 1532.

Tinha apenas quatro anos de idade, quando seu pai foi decapitado em Évora, e sendo logo levado para Castela com seus irmãos e tios, só voltou a Portugal no reinado de D. Manuel, em 1497, quando este monarca chamou para junto de si os senhores de Bragança. Em Castela encontrara D. Jaime a maior protecção, especialmente da rainha D. Isabel, que lhe dera para aio Lopo de Sousa, fidalgo que descendia do nosso rei D. Afonso III. Na qualidade de legitimo herdeiro do duque; seu pai, por ter falecido em criança o filho primogénito D. Filipe, D. Jaime ficou com o título de duque de Bragança, e D. Manuel o nomeou fronteiro‑mor de todas as terras, que aquela nobre casa possuía, permitindo-lhe que tomasse posse das mercês concedidas aos seus antepassados, e em 1500 declarou nulos os efeitos do processo criminal do duque D. Fernando. Quando faleceu o príncipe D. João, filho e sucessor dos reis católicos, a legítima sucessão daqueles estados recaiu na rainha de Portugal, D. Isabel, que em Março de 1498 foi a Toledo com seu marido, el-rei D. Manuel, sendo ali jurados e declarados sucessores dos reinos de Castela, Leão e Aragão. Antes da partida, o monarca havia convocado cortes em Lisboa, declarando o fim da sua viagem, e nesta ocasião, como D. Manuel não tinha filhos, os povos suplicaram que fosse declarado sucessor presuntivo da coroa de Portugal duque de Bragança, D. Jaime, por ser o parente mais próximo das pessoas reais. 0 monarca acedeu de bom grado, e reunindo na sua câmara o duque, alguns oficiais do palácio, ministros e grandes do reino, declarou D. Jaime herdeiro do trono português, e todos que estavam presentes assim o juraram, beijando a mão ao duque.

D. Jaime casou em 1502 com D. Leonor de Mendonça, filha de D. .João de Gusmão, 3.º duque de Medina Sidónia, e de D. Isabel de Velasco. D. Jaime, segundo consta, era dotado dum carácter melancólico, sujeito a acessos maníacos, muito dado a práticas religiosas, e em tal excesso, que intentou meter-se a frade capucho, já depois de ter casado com D. Leonor. Passava muito tempo com os eremitas da Serra de Ossa; ainda se diz mais, que, persistindo na sua ideia de clausura, saiu secretamente do reino em direcção a Roma para obter as precisas licenças, e que o rei D. Manuel, sabendo por uma carta que o duque lhe deixara, a sua resolução, mandara em seu seguimento, por diferentes caminhos, sendo D. Jaime encontrado já em Aragão, donde regressou em obediência às ordens do monarca. Aquele seu carácter melancólico, ou talvez, como pretendem alguns historiadores, devido a um certo desarranjo nas faculdades mentais, se atribui a violência com que matou, num acesso de ciúme, sua mulher, D. Leonor, no próprio palácio de Vila Viçosa, em 2 de novembro de 1512, facto de que intentou justificar-se ordenando uma espécie de devassa, em que nada se provou, por serem testemunhas as pessoas de sua casa, que lhe eram afeiçoadas e o temiam, tornando-se suspeitas por esse motivo. (V. Bragança, D. Leonor de; Alcoforado, António) Este acontecimento causou a maior impressão na corte, e D. Manuel, como satisfação, mandou instaurar processo contra o duque, porém D. Jaime refugiou-se em Évora Monte. O processo fora simulado, porque, segundo se julga, o duque não foi perseguido, poucas ou nenhumas diligencias se fizeram para o encontrarem, e mais tarde voltou à corte. D. Jaime, sempre melancólico, perseguido pelos remorsos, que, muito o impressionavam, chegou a encerrar-se numa cisterna do palácio de Vila Viçosa, entregando-se às mais rigorosas penitências.

O seu estado aflitivo, a falsa posição em que se encontrava perante a nobreza e do próprio povo, porque todos consideravam inocente a esposa que sacrificara aos seus ciúmes, levaram D. Jaime a empreender um grandioso feito, que dalguma forma fizesse esquecer o acto cruel que praticara. Por este motivo, logo no ano seguinte pensou na expedição a Azamor, em África. D. Manuel conferiu-lhe a capitania-mor e geral da armada e exército, que deviam ir a essa expedição. A 3 de agosto de 1513 foi-lhe dada a patente daquele posto e comissão, com plenos e absolutos poderes. Fizeram-se grandes aprestos para esta empresa, diz Damião de Góis; entre todos os navios de diferentes espécies de que se compunha a armada não seriam menos de quatrocentas velas; e, além da gente do mar, iam na expedição 18.000. homens de guerra, sendo 15.000 a soldo do rei e os 3.000 do duque D. Jaime, que os havia alistado nas suas terras; depois tomou mais 1.000 homens em Lisboa, fardando à sua custa todos os 4.000, e 500 homens de cavalo, seus criados e vassalos. Como capitães da ordenança iam quatro esforçados cavaleiros que tinham tido larga prática nas guerras de Itália. Muitos fidalgos, já conhecidos nas empresas de África, iam na armada e no exército, e entre eles D. João de Meneses, em quem recairia a capitania-mor, na falta do duque; D. Vasco Coutinho, conde de Borba, etc. No dia 14 do referido mês e ano, D. Manuel foi ouvir missa à Sé, e depois de estar na igreja, entrou o duque D. Jaime, vestido de branco trazendo ao pescoço um colar de riquíssima pedraria, acompanhado por todos os oficiais da armada, e o seu alferes com o estandarte real, que o arcebispo de Lisboa benzeu. O rei recebeu então o estandarte, que logo entregou ao duque, ao qual recomendou tudo o que cumpria ao serviço de Deus e seu. O duque entregou o estandarte ao seu alferes. Nessa mesma tarde, D. Jaime, acompanhado de todos os fidalgos e mais pessoas distintas que partiram na armada, foi ao paço despedir-se do rei, embarcando em seguida, no intuito de seguir viagem logo no dia seguinte, porém só a 17 é que pôde largar ferro. No dia 28 surgiu na barra do rio de Azamor, fazendo-se o desembarque em Mazagão, indo dali no primeiro de Setembro o exército por terra para sitiar Azamor. Esta expedição foi muito feliz, porque depois de estabelecido o cerco e dalguns combates, de que não resultaram grandes perdas de parte a parte, a gente de Azamor abandonou a cidade, e o duque pôde nela entrar triunfante. Pouco depois regressou ao reino, chegando a Lisboa a 21 de novembro, indo logo a Almeirim, onde estava a corte. A tomada de Azamor foi pomposamente festejada, o papa Leão X enviou ao duque um breve congratulatório, e mandou celebrar em Roma uma soleníssima festa em acção de graças por mais este triunfo contra os infiéis. 

D. Jaime casou pela segunda vez, em 1520, com D. Joana de Mendonça, dama da rainha D. Leonor e filha de Diogo de Mendonça, alcaide-mor de Mourão e do conselho do rei. Do primeiro matrimónio teve dois filhos; D. Teodósio, que foi o 5.º duque de Bragança, e D. Isabel, que casou com o infante D. Duarte, filho do rei D. Manuel. Do segundo matrimónio houve nove filhos, dos quais se evidenciaram D. Constantino, que foi o 7.º vice-rei da Índia, D. Fulgêncio, dom prior de Guimarães, e D. Teotónio, arcebispo de Évora (V. estes três nomes). D. Jaime criou para si uma guarda de cem alabardeiros com seus capitães, a que depois juntou arautos e passavantes, e no serviço da sua Casa introduziu todos os empregos e lugares que existiam na Casa Real. A pedido do monarca, obteve do referido pontífice Leão X, a bula de 15 de janeiro de 1517, pela qual lhe era permitido erigir 15 igrejas em comendas, para gratificar os fidalgos da sua comitiva, comendas que perderiam, deixando o serviço da Casa de Bragança. Além disto, o duque nomeou um grande número de cónegos e de curas nas suas terras, gozando todos de privilégios superiores aos de todas as casas principescas da Europa.

Foi o duque D. Jaime quem, em 1501, começou o actual palácio e a tapada de Vila Viçosa, e quem mandou construir um rico mausoléu para o condestável D. Nuno Álvares Pereira. A duquesa D. Joana de Mendonça sobreviveu ainda quarenta e oito anos a seu marido; vindo a falecer em 1580.

 

 

 

 

Genealogia do 4.º duque de Bragança
Geneall.pt

 

 

 

 

 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume II, pág.
460-462

105Edição em papel © 1904-1915 João Romano Torres - Editor
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