RELATO DA TRAVESSIA DE ÁFRICA FEITA PELOS POMBEIROS,
de 1802 a 1811

Desde meados do século XVIII que Portugal tentou descobrir a ligação terrestre entre Angola e Moçambique. O objectivo era conseguir encontrar produtos que pudessem interessar os mercados asiáticos - sobretudo o da Índia e da China - que eram, na altura e até finais do séc. XIX, deficitários para todas as potências europeias. A primeira tentativa séria de realizar a travessia foi feita  por Francisco José Lacerda de Almeida, em 1798, mas este oficial de marinha morreu ao chegar ao Cazembe - a Noroeste do Niassa.

A nova tentativa, proposta logo em 1799 por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, ministro da Marinha e dos Domínios Ultramarinos, começará em 1802. A travessia terminou com êxito mas somente em 1811, nove longos anos depois, realizada pelos pombeiros Pedro João Baptista e Amaro José, escravos mercadores de Francisco Honorato da Costa, director da feira de Cassengue - posto fortificado a leste de Luanda onde se centralizava o comércio com o interior de Angola - mas não teve continuação devido aos problemas políticos que sacudiam o império português, mas permitiu conhecer melhor o território - «abrir o caminho» - entre Angola e Moçambique.

Este relato, traduzido para inglês no ano seguinte à sua publicação, serviu para Livingstone, o missionário escocês que explorou o território entre Angola e Moçambique, preparar as suas viagens.

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«DOCUMENTOS RELATIVOS À VIAGEM DE ANGOLA PARA RIOS DE SENA» - 1.ª Parte

 

O Negro

© Museu de Soares dos Reis

O Negro, quadro de João António Correia, de 1869

Ofício do Capitão-general de Angola José de Oliveira Barbosa para o marquês de Aguiar

«Ill.mo e Ex.mo Sr.

Tenho a honra de levar à Respeitável Presença de V. Ex.ª as Cartas que me foram remetidas de Tete pelo Governador dos Rios de Sena vindas por terra em consequências da descoberta da comunicação das duas Costas Oriental e Ocidental de África tanto desejada; e nesta ocasião vão, embarcados na Fragata Príncipe Dom Pedro os Pombeiros Pedro João Baptista e Amaro José, do Tenente Coronel Director da Feira do Mucary Francisco Honorato da Costa, a cujas diligências e fadigas se deve o êxito deste trabalho. e levam os Roteiros da jornada para serem apresentados na Secretaria de Estado desta Repartição.

Deus Guarde a V. Ex.ª

São Paulo de Assunção de Luanda, 25 de Janeiro de 1815

= José de  Oliveira Barbosa.

Ill.mo e Ex.mo Sr. Marquês de Aguiar»

*    

Ofício de Constantino Pereira de Azevedo, Governador dos Rios de Sena para o conde das Galveias

«Ill.mo e Ex.mo Sr. Conde das Galveias.

Tendo Sua Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor determinado no ano de 1799 ver se conseguia a abertura do caminho de Sua Capital de Angola para estes Rios de Sena, a fim de que os seus Povos tanto da África Ocidental como da Oriental, pudessem girar com o seu comércio com mais vantajosos lucros do que até agora o podiam fazer: assim como também pude­rem circular as noticias de uma Costa a outra com mais bre­vidade, do que se pudessem fazer pelos Navios, e tendo encarregado a dita abertura por este lado Oriental ao Governador que foi destes Rios Francisco José de Lacerda e pelo lado Ocidental ao Ex.mo D. Fernando de Noronha Capitão General de Angola, encarregando este ao Tenente Coronel Comandante e Director da Feira de Casange Francisco Honorato da Costa , sucedeu que desta parte Oriental faleceu o dito Governador Lacerda no sitio de Cazembe, tendo feito o seu descobrimento até o sitio donde faleceu, e da outra parte Ocidental , com efeito conseguiram os Escravos do dito Tenente Coronel acima mencionado, a dita abertura até o Cazembe; cujos Escravos tem estado ha quatro anos ano dito sitio sem que tivessem meios de se conduzirem a esta Vila para darem as  referidas noticias, e vendo eu que esta Vila se achava um pouco destituída de comércio por má inteligência que tem havido com alguns Régulos que a cercam; e querendo eu de alguma forma ampliar esta falta chamei ao Quartel da minha Residência em Maio de 1810 a Gonçalo Caetano Pereira homem muito antigo, e muito prático destes Sertões, e tratando com ele sobre o aumento que desejava que esta Capitania tivesse no seu comércio lhe pedi me descobrisse algum lugar para onde pudesse com vantagem comerciar; este me respondeu que antigamente vinham a esta Vila negociar os Vassalos do Rei de Cazembe, e que desde o tempo em que intentamos a abertura do caminho nunca mais aqui tinham vindo e que ignorava, o motivo; uns diziam ser pela desordens que os nossos fizeram no dito Cazembe depois da morte do Governador Lacerda, e outros diziam era por que aquela Nação andava em Guerra desde esse tempo com a Nação Muizes, e pedindo eu ao dito Gonçalo Caetano Pereira me desse três Escravos seus para eu mandar de Embaixada ao dito Rei Cazembe para ver se movia aquela Nação a tornar outra vez a esta Vila com o seu comércio como dantes faziam , este me facultou os seus Escravos, cujos mandei de Enviados ao dito Rei Cazembe, e vendo este lá chegar os ditos Escravos tomou a deliberação de me mandar uma Embaixada composta de um grande, e cinquenta homens seus vassalos, na qual me manda dizer que no seu Reino existiam há quatro anos aquelas duas Pessoas que tinham vindo da parta de Angola, cujos mandava entregar; os quais chegaram a esta Vila em 2 de Fevereiro do presente anho, trazendo-me uma Carta de seu Amo, cuja Carta tenho a honra de remeter a V. Ex.ª a Cópia, e perguntando eu aos sobreditos, se queriam voltar voluntariamente pelo mesmo caminho por onde tinham vindo, me responderam que sim, porém que era preciso eu dar-lhes as providências necessárias para o sobredito transporte, aos quais mandei dar setecentos panos de valor de duzentos e cinquenta reis fortes cada um, e dando de tudo parta ao meu Capitão General, assim como também saber dele se à Real Junta daquela Capital me levava em conta a. sobredita despesa, e quando não a pagaria dos meus soldos, de cujo ofício ainda não coube no tempo receber resposta.

Eu deveria fazer alguma ponderação a V. Ex.ª sobre este descobrimento, por que não acho maior inteligência nos ditos Descobridores, porém ao mesmo tempo conheço segundo a sua capacidade fizeram muito, e como estes agora tornam pelo mesmo caminho vão insinuados por mim o modo como devem fazer a sua derrota, e as averiguações que devem fazer, a inteligência em que acham aqueles Régulos; se com efeito nos deixarão. passar francamente por aqueles caminhos, e quais os mimos  que lhes deveremos oferecer; de tudo vão industriados por mim; e estes prometem dar um exacto cumprimento aos .referidos objectos com todas as clarezas necessárias, entregando ao Ex.mo Capitão General de Angola tudo quanto acharem tendente à dita abertura; o que tudo participo a V. Ex.ª para que V. Ex.ª se sirva de o pôr na presença de S. A. Real o Príncipe Regente Nosso Senhor.

Tenho também a honra de remeter a V. Ex.ª a Derrota que me ofereceram os Descobridores, a qual é N.º 1, assim como também um papel das perguntas que fiz aos referidos o qual é N.º 2, e a Carta que me dirigiu o Tenente Coronel Amo dos referidos Descobridores, a qual é N.º 3.

A Ilustríssima e Excelentíssima Pessoa de V. Ex.ª Deus Guarde por, muitos anos.

Quartel da Residência da Vila de Tete 20 de Maio de 1811.

Ill.mo e Ex.mo Sr. Conde das Galveias, do Conselho de S. A. Real, Ministro e Secretário dos. Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos.

Constantino Pereira de Azevedo, Governador dos rios de Sena»

 

Fonte: Maria Emília Madeira Santos, Viagens de Exploração Terrestre dos Portugueses em África, Lisboa, 1978

A viagem dos Pombeiros, de 1802 a 1811

 

N.º 1.

[CÓPIA DA DERROTA QUE FEZ PEDRO JOÃO BAPTISTA.]

– 1806. –  

«Em Nome de Deus Amen.

Derrota que eu Pedro João Baptista faço na minha viagem do Muropue para o Rei Cazembe Caquinhata, por ordem do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Capitão General do Reino Angola, da abertura do, caminho para a costa Oriental de África, dos Rios de Sena, e o encarregado ao Senhor Tenente Coronel Francisco Honorato da Costa, Director da Feira de Casangue com dois contos de fazendas para, despender com Reganos do caminho para a bem de poder conceder-nos licença da dita abertura do caminho até em Tete.»

1.º

Domingo 22 de Maio do dito ano saímos do sítio grande do Moropue e na casa do seu filho que estávamos agasalhados de nome da terra Capendo hianva , e como seu posto entre eles Soano Mutopo do Muropue , no qual levantamos às 6 horas da manhã passámos um rio chamado Ingeba de quatro braças de largura, e o segundo rio Luiza que ambos vão desembocar no rio Lunhua, e durante a viagem, viemos para o sítio do Guia que nos dava [o] dito Muropue para nos transportar em Cazembe de nome da terra Cutaqua seja, o quanto guia pagámos dez chuabos, e um copa de Bixega , chegámos ao dito sitio às Ave-Marias , encontrámos com bastante gente que vão do mesmo sítio do Muropue a trazerem farinha de mandioca para seus Senhores andámos com o sol às costas.

2.º

Quarta-feira 8 de Junho saímos do sítio do Guia em que [nos] levantámos às 7 horas da manhã passámos três riachos correntes de pequenas larguras que ignoramos os nomes, os quais vão desembocar no rio Zuiza, e viemos para um sítio do preto chamado Caquiza Muegi, escravo de Muropue e ao pé de um riacho que eles bebem água, e nos mandou agasalhar nas Casas do mesmo o qual demos dois chuabos, chegámos ao meio dia não [nos] encontrámos com ninguém, e nem tratámos coisa alguma, andámos com o sol da mestra forma.

3.º

Quinta-feira 9 do dito mês saímos do sítio do Caquiza Muegi, levantámo[-no]s às 2 horas da manhã passámos cinco riachos pequenos e durante a marcha viemos pousar no sítio do Quilolo do Muropue chamado Muene Cahuenda e no qual demos de presente seis chuabos, e dois copos brancos retorcidos de boca de sino, chegámos no referido pouso às 4 horas da tarde, e fabricámos ao pé do rio que eles bebem água chamado Izabuigi de pequena largura, e já andámos com o sol [do] lado esquerdo, não [nos] encontrámos com ninguém.

4.º

Sexta-feira 10 saímos do sítio de Muene Cahuenda, levantámo[-no]s à madrugada passámos quatro riachos que ignoramos os nomes e continuando-mos a viagem passámos um rio de três braças de largura chamado Mue-me, e viemos para o pouso deserto, e ao pé do rio chamado Canahia pela banda lá, e vai desembocar no mesmo rio Alue-me onde achamos coisas já feitas dos viajantes da terra chamada Canoguesa que vinham trazerem tributos a seu Muropue, chegámos às 3 horas de tarde, andámos com o sol da mesma forma, e encontrámo[-no]s com dez pretos que tinham ido a comprarem sal na salina.

5.°

Sábado 11 saímos do poiso deserto que levantámos às 5 horas da manhã passámos 3 rios de pequenas larguras caudalosos, no posar, e viemos para outro deserto, e ao pé do rio de pequena largura chamado Quipungo, ficando-nos o sítio de uns pretos povos de Muropue em pouca distância, os quais não falámos nada com eles, chegámos no dito pouso ao meio dia não encontrámos com ninguém andámos com o Sol [do] lado Esquerdo, e daí mesmo fizemos parada para procurar-mos mantimentos de sustento.

6.º

Domingo 12 saímos do pouso deserto no qual levantámo[-no]s ao cantar do galo passámos três rios de pequenas larguras que vão desembocar no rio chamado Calalimo, e cujos nós ignoramos os nomes, e viemos para outro pouso deserto de matos fixados de animais ferozes, e ao pé do mesmo rio CaIalimo, o qual poderá ter pouco mais ou menos dez braças de largura, chegando-mos no dito pouso ao meio dia com pequena chuva não [nos] encontrámos com ninguém.

7.º

Segunda-feira 13 saímos do deserto às 2 horas da manhã passámos onze rios de pequenas larguras, e vindo-mos subindo com o rio que acima dito Calalimo, e durante a viagem, viemos para o pouso deserto do pé de um rio chamado Camu sangagila  pela banda de lá do dito rio chegámos no mesmo pouso às Avé-Marias pernoitámos fora assim mesmo em tempo de chuva, andámos com o sol [do] lado Esquerdo -

8.º

Terça feira 14 saímos do poiso deserto e ao pé do rio Camusangagela em que [nos] levantámos às 8 horas da manhã passámos cinco riachos correntes e durante a viagem viemos para o sítio de um preto chamado Muene Cassa , e ao pé de um riacho que ignoramos o nome pela banda de Iá o qual preto tratámos com ele a nossa viagem que vamos para Cazembe mandados por Muropue, e ficando-nos sempre o sítio muito afastado do nosso pouco, e demos de presente um Espelho pequeno e um chuabo de serafina encarnada, chegámos às 3 horas de tarde andámos com o sol da mesma forma. -

9.º

Quarta-feira 15 saímos do sítio de Muene Cassa, em que levantámos às 7 horas de manhã, passámos os rios de pequenas larguras, e durante a viagem viemos para o poiso direito ao pé ainda do rio Calalimo chegámos no dito poiso às 2 horas da tarde e não encontrámos com ninguém, andámos com o Sol da mesma forma. -

10.º

Quinta-feira 16 saímos do deserto e levantámos em alvorada passámos três rios correntes de pontes de pequenas larguras, e viemos para outro poiso deserto e ao pé de um rio pequeno: chegámos ao meio dia fabricámos ao pé do mesmo rio e atrás de nós vinham gentes de Soana Mulopo mandados por dito Senhor a comprarem Sal, não [nos] encontrámos com ninguém. -

11.º

Sexta-feira 17 saímos do poiso que acima [fica] dito levantámos às 5 horas de manhã passámos um rio corrente a pé chamado Roando de duas braças de largura que vai desembocar no rio Lunheca, e durante a marcha passámos outro rio de pequena largura chamado Rova que terá pouco mais ou menos treze braças de largura o qual também desemboca no Lunheca , e ficando-nos o sítio muito Longe de um preto chamado Fumo Ahilombe do Muropue no qual não tivemos perturbação nenhuma, chegámos ao meio dia e fabricámos ao pé do dito rio, não [nos] encontrámos com ninguém. -

12.º

Sábado 18 saímos do sítio do Fumo Ahilombe que levantámos às 5 horas de manhã passámos seis riachos de pequenas larguras os quais vão desembocar no rio Rova, e durante a viagem viemos para o poiso deserto ao pé do rio chamado Cazale, pela banda de Iá que terá pouco mais ou menos vinte braças de largura, o qual nos deu água na cintura, e vai desembocar no rio Lunheca , e chegámos no dito perto das Ave-Marias, encontrámo[-no]s com bastante gente carregados de peixes seco a irem venderem no sítio do Muropue, andámos com o sol [do] lado esquerdo, e não vimos coisa alguma.

13.º

Domingo 19 saímos do poiso deserto que acima [ficou] dito levantámos às 6 horas da manhã não passámos rio nenhum, e continuando-nos a nossa viagem viemos para o Sítio do Luilolo do Muropue chamado Caponco Bumba Ajala , e falámos com ele a nossa viagem que vamos por mandado do seu Muropue para a terra do Cazembe e respondeu que estava bom; e logo nos mandou dar de Comer por parte do mesmo seu Senhor Muropue, e demos de presente para ele quatro xuabos, e um Espelho, chegámos no dito sítio às quatro horas da tarde, e ao pé de um rio chamado Muncum, e não [nos] encontrámos com ninguém. -

14.º

Segunda feira 20 saímos do sítio do Capomo, no qual [nos] levantámos às 2 horas da manhã passámos um riacho e durante a marcha passámos um rio chamado Caginregi, em Canoa, e fazendo-nos passar os pilotos do Quilolo Muene Mene que é Senhor do mesmo porto, e terá [o] dito rio pouco mais ou menos catorze braças de largura e vai desembocar no Lunheca, e viemos para o sítio do mesmo Quilolo Muene Mene e tratámos com ele a nossa viagem que vamos para Cazembe mandados por Muropue também respondeu que estava  muito bonito, e que o Caminho estava bem aberto e demos para o mesmo um muzenzo de cem bagos de pedras azuis e cinco xuabos de serafins sortidos, e mais quarenta bages de pedras brancas, e, para os pelotos dois xuabos de fazenda da Índia, e fizemos nosso cerco afastado do sítio afim de fugirmos dos Ladrões que furtam de noite, chegámos às 3 horas da tarde, não [nos] encontrámos com ninguém, e daí mesmo fitemos parada seis dias para procurar-mos mantimentos para seguirmos com ele para diante.-

15.º

Terça feira 5 de Julho salmos do sítio de Muene Mene levantámo[-no]s ao primeiro cantar de galo passámos quatro rios de pequenas larguras que vão desembocar no rio Cagenrige, e viemos para o sítio do preto conhecido do nosso Guia chamado Soaria Ganga, e falámos com ele [d]a nossa viagem que vamos para Cazembe chegámos às 2 horas de tarde não [nos] encontrámos com ninguém, e não tratámos nada com ele de presente andámos com o Sol [do] Lado Esquerdo.

16.º

Quarta feira 6 do dito mês saímos do sítio do Soana Ganga levantámo[-no]s às 7 horas de manhã passámos dois rios correntes de pequenas Larguras que vão desembocar no mesmo rio Cagenrige, e viemos para o sítio de Quilolo da Mai de Muropue chamado Luncongucha, e o Quilolo chama-se Muene Camatanga falámos com ele [d]a nossa viagem que vamos dirigidos ao Cazembe , o qual nos respondeu que podia ir quantas quiserem viajar, o qual demos de presente cinco chuabos e um Espelho pequeno e mais cinquenta bagos de pedras de Leite chegámos [ao] rio dito ao meio-dia andámos com o Sol da mesma forma não [nos] encontrámos com ninguém.

17.º

Quinta feira 7 saímos do sítio do Muene Camatanga e que levantámos às 6 horas da manhã passámos três riachos que vão desembocar no mesmo rio Caginrige e durante a viagem viemos para o sítio do Quilolo do mesmo que acima dito chamado Muene Casamba, onde nos mandou dirigir o mesmo Camatanga para seu vassalo nos socorrer com mantimentos necessários para nosso transporte para Cazembe por ordem de Muropue que tinha trazido o guia e daí do mesmo sitio invernámos um mês para nos preparar dito mantimento de ficar seca a farinha que mandava por na agua não [nos] encontrámos com ninguem, e para o mesmo demos dois chuabos de fazenda de lá.

18.º

Sexta feira 9 de Agosto saímos do Muene Casamba levantámo[-no]s ?as três horas da manhã passámos outra vez, o rio Cagiringe, e durante a marcha passámos mais outro rio de pequena largura que ignoramos o nome que também vai desembocar no mesmo rio Cagiringe e viemos para o pouso deserto e ao pé de outro rio de pequena largura chegámos no dito pouso às 4  horas da tarde e fabricámos o nosso cerco com chuva e não [nos] encontrámos com ninguem. -

19.º

sábado 10 saímos do pouso deserto que levantámos às 5 horas e meia de manhã passámos um rio corrente de pequena Largura de pedras que ignoramos o nome, e viemos para outro deserto chamado Canpueje e ao pé do riacho corrente onde achámos Casas já feitas dos viajantes Arúndas chegámos às 2 horas da tarde, e não vimos nada.-

20.º

Domingo 11 saímos do pouso deserto e que levantámos às duas horas de manhã passámos três rios de pequenas larguras, e durante a viagem viemos para outro pouso deserto e ao pé de um riacho que ignoramos o nome chegámos no dito pouso às 4 horas de tarde não [nos] encontrámos com ninguém. -

21.º

Segunda feira 12 saímos do deserto que levantámos às 6 horas de manhã passámos um rio corrente de pequena Largura chamado Maconde e durante a marcha viemos para outro deserto chamado Luncaja, e ficando-nos o sítio de Quilolo chamado Anbulita Quisosa o qual não falámos com ele [d]a nossa viagem chegámos no dito ao meio dia não [nos] encontrámos com ninguém andámos com o Sol Lado Esquerdo.-

22.º

Terça feira 13 saímos do sítio, e pouso deserto levantámo[-no]s às 5 horas de manhã não passámos rio e viemos [a]o Sítio do filho do Quilolo Cutaganda, e ao pé do rio chamado Réu falámos com ele [d]a nossa viagem que vamos para Cazembe e demos de presente ao dito Quilolo dois chuabos do Serafna azul, e duzentos cauris, chegámos no mesmo sítio às 3 horas de tarde, andámos com o sol da mesma forma. -

23.º

Quarta feira 14 saímos do filho de Cutaganda e que levantámos às 7 horas de manhã passámos o rio Reu a pé que terá pouco mais ou menos vinte braças de largura, e viemos para o pouso deserto, e ao pé de um riacho que ignoramos o nome chegámos às 2 horas de tarde não [nos] encontrámos com vinguem.

24.º

Quinta feira 15 saímos do pouso deserto, levantámo[-no]s às 6 horas de manhã passámos três rios de pequenas larguras que vão desembocar no rio Reu que acima dito, e viemos para outro deserto, e ao pé de um rio chamado Qusbela que também vai desembocar no mesmo rio Reu, e ficando-nos o Sítio do preto chamado Munconcota maior de Muropue muito Longe, e assim mesmo veio no noso pouso para que lhe desse-mos alguma coisa de presente, e demos sete chuabos de Serafina de várias qualidades, chegámos às 3 horas de tarde, andámos com o Sol da mesma forma, não [nos] encontrámos com ninguém.

25 º

Sexta feira 16 saímos do pouso deserto no qual [nos] levantámos às 5 horas de manhã, passámos quatro rios de pequenas larguras que vão desembocar no rio Qusbela, e durante a viagem viemos para deserto, e ao pé do riacho corrente chamado Capaca Melemo chegámos no dito deserto ao meio dia sem chuva, e vindo-nos em nossa companhia uns pretos para virem comprar Sal na Salina não [nos] encontrámos com ninguém.

26.º

Sábado 17 saímos do deserto e ao pé do riacho Capaca Melemo, levantámos às 6 horas de manhã passámos quatro rios de pequenas larguras a pé e continuando-nos a viagem, pisámos mais um rio chamado Ropoeja, a pé que terá pouco mais ou menos trinta braças de largura, e vai desembocar no rio chamado Lubilaje, e viemos para outro deserto e ao pé do mesmo rio Lubilaje pela banda de lá chegámos no mesmo pouso às 3 horas de tarde sem chuva, andámos com o Sol da mesma forma, não [nos] encontrámos com ninguém.

27.º

Domingo 18 fizemos parada do sítio de um preto chamado Quiabela Mucanda, o qual que ficava, ao pé do rio Ropuege que acima dito nos impedir a viagem para que nos desse alguma coisa, por que era potentado do Muropue, e além disso nos dar de comer por parte do mesmo Muropue, e nos trouxe para bem nos largar uma Corça morta, e três quicapos de farinha de mandioca verde para nosso sustento e demos de presente dez chuabos, e um Espelho pequeno, nos respondeu, que podemos seguir a nossa viagem, e na falta não darmos alguma cousa a ele; tinha outro exemplo para nos fazer que tirar-nos as fazendas à força de armas. -

28.º

Quinta feira 31 de Agosto saímos do sítio do Quiabela Mucanda, que levantámos ao Cantar de galo, passámos dois riachos correntes que vão desembocar no mesmo rio Rapueja, e durante a marcha viemos para o pouso, deserto chamado Cancaco e ao pé de um riacho pela banda de lá, chegámos no mesmo pouso, ao meio dia sem perturbação de qualquer Regano como acima dito, andámos com o Sol [do] lado Esquerdo, não [nos] encontrámos com ninguém. -

29.º

Sexta feira 1.º de Setembro parada por estar doente o Guia que estava com a mão inchada por pancadas do seu Escravo do mesmo Guia.

Sábado 2 do dito mês saímos no pouso deserto levantámo[-no]s às 2 horas de manhã, passámos um rio chamado Quipaca Anguengua de pequena largura e durante a viagem viemos para outro deserto e ao pé de um rio chamado Rupele de quatro braças de largura que vai desembocar no rio Lubile chegámos às 3 horas de tarde, andámos com o Sol da mesma forma, não [nos] encontrámos com ninguém.

30.º

Domingo 3 saímos do pouso deserto no qual levantámos às 5 horas de manhã não passámos rio, e viemos para outro deserto, e ao pé de um rio chamado branco por ter Areia branca e vai desembocar no rio Lububuri de pequena largura a pé, chegámos no dito pouso deserto ao meio dia, fabricámos nosso cerco pela batida de lá do mesmo rio, e não encontrámos ninguém.

31.º  

Segunda feira 4 saímos do deserto levantámo[-no]s às 7 horas de manhã não passámos rio nenhum, e durante a marcha viemos para outro deserto e ao pé do mesmo rio Lububure, o qual não passámos, chegámos às duas horas de tarde, andámos com o Sol da mesma forma; e não [nos] encontrámos com ninguém.

32.º

Terça feira 5 saímos do pouso deserto em que levantámos, e ao pé do rio Lububuri às 6 horas de manhã não passámos rio nenhum e viemos para o rio Lububuri o qual passámos a pé que nos deu àgua na Cintura, que terá pouco mais ou menos quarenta braças de largura e de pedras por dentro, onde achámos gente Escravos do potentado chamado Cha Muginga Mucenda, e a mesma gente falavam a língua inclinada à da povoação do Cazembe, Chegámos no mesmo Sítio às duas horas de tarde, e não tratámos nada da nossa pretensão e fabricámos nossas Barracas ao pé do mesmo rio, pela banda de lá, e afastado do Cítio; não [nos] encontrámos com ninguém.

33 º

Quarta feira 6 saímos ao pé do rio Luburi levantámo[-no]s às 7 horas de manhã, não passámos rio, e durante a viagem viemos para o Sítio do mesmo Cha Mugenga Mucenda tratámos com ele a nossa pretensão que vamos para o Rei Cazembe, a procurar-mos a um branco Irmão de EI Rei que viajara por mar, e se achar nas terras do mesmo Rei Cazembe, por ser este mesmo potentado Maior do mesmo Cazembe, que rende a obediência em duas partes de Muropue, e Cazembe, por o ter deixado o mesmo Cazembe para cultivar todas qualidades de Mantimentos para socorrer todos os viajantes que do Muropue vem para Cazembe a tomar tributos que eles chamam Mulambo, assim como os que do mesmo Cazembe vem para o Muropue a irem trazer tributos mandados por mesmo Cazembe ao seu Rei Muropue, e no dia que chegámos, nos deu de presente um murondo de poube e ser deste sítio do Cha Muginga Mucenda, fim das terras do Muropue pela banda de lá, e pela banda de cá já são terras pertencentes ao Cazembe, ao qual demos de presente dez chuabos, e dois Espelhos pequenos, e nos respondeu que ele de sua parte nos preparava mantimentos, para seguir-mos com ele para Cazemhe, por que no meio de Caminho até chegar na Salina não há de Comer, e daí mesmo fizemos parada seis dias afim de termos mantimentos de sobresselente, chegámos no mesmo sítio ao meio dia fabricámos afastado do mesmo sítio, e ao pé de um rio chamado Camonqueje pela banda de lá não [nos]  encontrámos com ninguem.-

34.º

Quinta feira 7 saímos do sítio do Chá Muginga Mucenda e levantámo[-no]s às 6 horas de manhã trespassámos três pousos, e não passámos rio, e durante a marcha viemos para o pouso deserto chamado Musula Aponpo chegámos no dito pouso às duas horas de tarde, fabricámos nossas Barracas ao Nascente do mesmo rio Lubury, andámos com o Sol [do] lado Esquerdo, e depois das fábricas feitas nos achou no dito pouso Escravos do mesmo Chá Muginga Mucenga vindos na Salina com Sal, andámos com o Sol da mesma forma e não [nos] encontrámos com ninguém.

35.º

Sexta feita 8 saímos do pouso deserto Musula Aponpue, levantámo[-no]s às 5  horas de manhã, passámos um rio corrente de pequena largura chamado filho do rio Lunfupa, e durante a viagem passámos dito [o] rio Lunfupa que nos deu  àgua na Cintura, o qual poderá ter pouco mais ou menos quinze braças de Largura, e vai desembocar no rio Luaba, chegámos no dito ao meio-dia não vimos nada de perturbação, e fabricámos nossas Barracas ao pé do mesmo rio pela banda de lá não [nos] encontrámos com pinguem.

36.º

Sábado 9 saímos do pouso deserto e ao pé dó rio Lunfupa, em que levantámos às duas horas de manhã, passámos um rio corrente de pequena Largura que ignoramos o nome, e viemos para o outro pouso deserto no pé de  uma varja grande chamada Quebonda, e com riacho pequeno ao pé da mesma varja onde achámos pretos caçadores com sua Caras que tinha frechado, e a irem por mesmo Caminho à Salina comprarem Sal, e não nos participaram de donde vieram, nem [nos] encontrámos com ninguém.

37.º

Domingo 14 saímos do pé da varja Quibonda levantámos ao primeiro cantar de galo, e a qual varja gastou no passar até o meio dia, e durante a viagem viemos para o pouso dezerto em sima de oiteiro chamado Inpume, e ao pé do rio chamado Camoa de duas braças de largura e vai dezembocar no Lualaba, chegamos no dito pouzo as 3 oras de tarde e fabricamos nosas barracas, e em sima do mesmo oiteiro pela banda de Ia sem chuva, encontramos com uns pretos do Cha Muginga Mucenda vindos na Salina, e nos derão noticia que o potentado Quebule Parente do Cazembe Governador da Salina estava com Saude.

38.°

Segunda feira 11 salmos do pouzo dezerto e em sima de oiteiro Inpume no qual levantamos as 5 oras de menhaã não pasamos rio, e durante a marcha viemos para outro pouzo dezerto, e ao pé do riaxo chamado Catomta e o pouzo chamado tambem Muary Agoia , e sendo as terras do Cazembe e ja andamos com o Sol a Cara, chegamos no mesmo pouzo ao meio dia, incontramos compretos que vinhão na Salina, e não vimos coiza alguma.

39.°

Terça feira 12 saimos do pouzo dezerto Catomta , levantamos as 6 oras de menhaã, pasamos hum riaxo corrente, de pequena largura, e durante a viagem viemos para outro pouzo dezerto , ê ao pé do rio currente de duas braças de largura chamado Huita Amatete que vai dezembocar no rio Lualaba e no dito pouzo dezerto achamos muito longe hum citio de 6m preto, chamado Muire potentado de Cazembe o qual veio no noso pouzo as Ave Marias, e falamos com elle a nosa viagem que vamos dirigidos ao Rey Cazembe mandados por Muropue , elle respondeo que o mesmo Cazembe estava com saude , e mais seu Parente potentado Queburi Senhor da Salina,  não nos offereceo nada de mantimentos chegamos no pouzo as 3 oras de tarde sem chuva andamos com o Sol á Cara não encontramos com ninguem, e não vimos raridade de qualidade.

40 °

Quarta feira 13 salmos do citio de Muire, levantamos as 5 oras de menhaã, pasamos hum riexo chamado Mulonga Ancula de piquena largura que vai dezembocar no Lualaba, e no levantarmos no mesmo obrigou-nos o dito Muire que dessemos alguma coiza, e demos hum xuabo de fazenda da India e vinte bagos de Missanga de Canádo, e foi-se embora contente e continuando-nos a nosa viagem viemos para o pouzo dezerto chamado Luiana Acananga e ao pé de hum riaxo currente chamado filho do mesmo rio Abulonga Ancula, e chegamos no dito pouzo as 2 oras de tarde, andamos com o Sol da forma encontramos com bastante gente compradores de Sal a irem para o Muropue, fabricamos o cerco ao pé do mesmo riaxo o que assima dito sem chuva, e não encontramos com ninguém.

41.º

Quinta feira 14 saimos do pouzo dezerto Luiana Acananga levantamos as 4 oras de menhaã, e durante a viagem pasamos um riaxo de piquena largura do nasente chamado Luigila, o qual riaxo e que fez huma varja grande onde foi dezembucar no rio Lualaba , e nesta mesma onde elles tirão o Sal, o qual Sal cortão a palha que dentro da mesma varja está e vão queimando a mesma palha, e depois dequeimada botão a cinza no umas panelas pequenas que elles fazem e vão cuzinhando agoa luada, e fazem huma medida de huma panelazinha pequena todos geral onde medem o dito Sal para venderem que vem ser dez panelinhas val xuabo, e viemos para o pé da mesma varja, chegamos as 3 oras de tarde andamos com o sol da mesma forma, fabricamos nosas Barracas ao pé pela banda de lá sem chuva e não incontramos com ninguem, e não vimos raridade de qualidade.-

42.º

Sesta feira 15 parada por estar duente o Guia.
Sabado 16 saimos do pé da varja, e que levantamos as 7 oras de menhaã, e vindo-nos desendo com a outra varja, e não pasamos rio, e durante a viagem viemos no pé da dita varja, chegamos no ditto pouzo ao meia, entramos nas Casas ja feitas do Compradores de Sal não incontramos com ninguém, e ficando-nos muito distante o rio Lualaba onde ficava o potentado Quibury pela banda de Ia do mesmo rio, e não tramos nada com seus Maiores que estavam pela banda de lá, e nem vimos nada de novidade.

43.°

Domingo 17 saimos ao pé da varja levantamos as 5 oras de menhaã, e vindo-nos desendo com a mesma varja e não pasamos rio, e durante a marcha pasamos Em Canoa o tal rio Lualaba, que terá pouco mais ou menos sincoenta e tantas braças da largura , e vai dezembocar no rio Lunheca , e viemos para outro grande do mesmo potentado Quibury do Cazembe, e mandou dar parte o Guia a nosa chegada, e nos mandou agazalhar ao pé dos seus muros, sem falar-mos nada com elle, chegamos no dito citio ao meio dia sem chuva andamos com o Sol a Cara não encontramos com ninguem.

44.º

Segunda feira 18 padara do dito titio do potentado Quibury, e sendo as seis oras de dia nos mandou chamar e tratamos com elle o nosa pertenção que viemos de Angola mandado por EIRey seu amigo que elles chamão Mueneputo ter com seu Superior Rey Cazembe asim como tambem sermos despachados por Muropue, e com ordem para dito Rey Cazembe nos trartar sem malicia, e ir-mos a procurar o Irmão do mesmo EIRey que viajara por mar, e se achar nas terras do mesmo Rey Cazembe, e conceder-nos licença de ir-mos para a Villa de Tete para ver-mos se lá está, e para o que o Muropue nos entregou este seu Guia Cutaqua-seja para dar o recado que o mesmo Muropue manda dizer, ao mesmo Rey Cazembe, e praticamos deste modo por conhecer-mos todos os Reganos não deixar pasar viajante com fazendas para as terras de outrem que se não estar o viajante no seu citio para com elle fazer negocio e entrar a miudo a decipar-lhe as fazendas com modo e geito, de ladrueiras, e crimes fingidos, e respondeu o potentado Quibury que em Cazembe se achavão brancos que vem. da hi anegociarem, e que a terra onde sairão os ditos brancos não sabia, e tem por noticia de se achar, um branco Soldado que tenha deixado ditos brancos, e que com o mesmo Rey Cazembe a vista melhor tratarão com elle, e nos deu de prezente duas mãos de Carne de mato fresca, e para tratar-mos tudo isto estivemos com elle empatados oito dias, e demos de prezente vinte chuabos, com pedras de leite um Espelho pequeno, e ama arma portugueza e nos deixou seguir-mos a viagem.

45.°

Terça feira 19 salmos do citio do potentado Quibury parente do Cazembe no qual Levantamos as 7 oras de menhaã não pasamos rio, vindo-nos decendo com o mesmo rio Lualaba, e durante a viemos para o pouzo dezerto , e ao pé de úm riaxo chamado chafim o qual vai dezembocar no dito Lualaba chegamos no dito pouzo ao meio dia, andamos com o Sol a Cara, fabricamos ao pé do mesmo riaxo pela banda de cá, encontramos com bastantes animaes comuns e não vimos mais raridade de qualidade.

46.º

Quarta feira 20 saímos do pouzo dezerto, e ao pé do riaxo chafim em que levantamos as 5 oras de menhaã, pasamos o mesmo riaxo chafim , e durante a marcha viemos para outro pouzo dezerto, e ao, pé de hum riaxo chamado. Bacasacala, chegamos no dito pouzo as duas oras de tarde sem chuva, fabricamos noso cerco ao nasente do mesmo riaxo andamos com o Sol da mesma forma, e não encontramos com ninguem.

47.º

Quinta feira 21 saimos do pouzo dezerto, e ao pé do riaxo Becasala levantamos as 6 oras de menhaã pasamos um riaxo corrente de pequena Largura , e viemos para em cima de um oiteiro, e citio dos Escravos do potentado, Quibury chegamos no mesmo pouzo as duas oras de tarde, fabricamos noso Cerco, ao pé de hum riaxo pequeno pela banda de lá sem chuva , não encontramos ninguem.

48.°

Sesta feira 22 saimos do citio dos Escravos de Quibury, no qual Levantamos as 5 oras de menhaã pasamos tres riaxos de pequena Largura que ignoramos os nomes, e durante a viagem viemos para o Citio do Maior do Quibury chamado Camungo, o qual não achamos no citio e somente achamos seus filhos por ter hido o dito t preto a Caça, e nos mandou entrar nas Cazas os mesmos filhos, e demos de prezente aos ditos filhos dois xuabos de fazenda de India, e falamos com elles a nossa viagem que vamos para Cazembe a nossa dependencia, chegamos no mesmo Citio ao meio dia sem chuva, andamos com o Sol a Cara, não encontramos com ninguem.

49.°

Sabado 23 saimos do citio do preto Camungo levantamos em alvorado pasamos um riaxo pequeno e viemos para o pouzo dezerto, e no principiar-mos as fabricas cahio a chuva e com ella mesmo fizemos o noso cerco, e ao pé de um riaxo currente de pequeno que ignoramos o nome chegamos no dito pouzo as 2 oras de tarde andamos com o Sol da mesma forma e sendo a meia noite veio no poso pouzo dois Lioens Berrando os quaes nos fez perder sono toda a noite, e com ajuda de DEos não fizerão dano, não incontramos com ninguem , e não vimos nada de raridade.

50.°

Domingo 24 saimos do pouzo dezerto, levantamos as 5 oras e meia de menhaã pasamos tres rios de pequenas Larguras, e viemos para outro pouzo dezerto, e 'ficando-nos a meia Legua o Citio do potentado Anpala, chegamos no dito pouzo as 2 oras de tarde, fabricamos ao pé de um rio chamado Ancula pela banda de cá, sem chuva, encontramos com pretos negociantes de Sal que hião procurar mantimentos no citio do dito potentado Anpala, andamos com o Sol da mesma forma.

51.°

 Segunda feira 25 saimos do pé do rio Ancula em que. levantamos ao Cantar de galo, vindo-nos Subindo com o mesmo rio Ancula , pasamos um riacho de pequena Largura, e durante a marcha viemos para outro pouzo dezerto, e ao pé do dito rio Ancula, pela banda de cá, e entramos, no cerco dos Casadores, chegamos ao meio dia sem chuva, e andamos com o Sol a cara, não incontramos com ninguem.

52.°

Terça feira 26 saimos do rio Anonla, levantamos as 6 oras de menhaã pasamos dois rios de pequenas larguras que ignoramos os nomes, e durante a viagem viemos para o Citio de hum preto chamado filho do potentado Pande de nome Muana Auta o qual não fallamos com elle por ter hido para o citio de Pay, e nos mandarão entrar nas cazas dos Povos do mesmo Potentado Pande, chegamos ao meio dia, e ao pé de hum rio chamado RiLomba, e demos de prezente dois xuabos, e cem cauris, e sendo a tarde fui a caça e matei hum viado a tiro, e os Escravos de noso Guia apanharam huma Bufra morta , que tinha matado o Lião. não incontramos com ninguém.

53.°

Quarta feira 27 saimos do citio chamado Muana Auta Levantamos as 2 oras de menhaã, pasamos hum riaxo chamado Quimane, e durante a viagem, viemos para o citio de potentado chamado Pande, o qual não avistamos com elle no dia que chegamos, e somente mandou ospedar o Guia que vinha-mos com hum garrafão de bebida chamada ponbe, e trazendo recado o portador delle dito que estava ocupado com portadores do Rey Cazembe, e que com mais sucego nos avistava com elle, chegamos no dito citio as 2 oras de tarde, fabricamos noso cerco ao pé de um rio chamado Murucuxy pela banda de lá, andamos com o Sol a Cara, não incontramos com ninguem.

54.°

Quinta feira 28 parados cauzado do dito potentado, assim como tambem sesta feira, Sabado, e Domingo, para tratarmos com elle a nossa viagem por ser Maior do Rey Cazembe, que viemos derigidos ao Muropue para o Rei Cazembe, nos despachar com seo Guia que achar Capaz para nos Levar para a vila de Tete a entregarmos huma Carta para o Illustrissimo Senhor Governador da dita vila mandado por EIRey que elles nomeão Musneputo , e demos de prezente vinte chuabos de boa qualidade de fazenda de lãa , e elles nos ofereceo dois quicapos de milho muido e trinta postas de Carne de Bufra seca, e respondeu que podia-mos seguir a nosa viagem, e ir tratar a nosa pertenção.

55.°

Segunda-feira 1.º de Outubro, saímos no sítio do potentado Pande, levantamos as 6 oras de manhã passámos dois riachos de pequenas larguras, e durante a viagem, viemos para o sítio de um preto chamado Cahiumbo Câmara, o qual, não falámos com ele no dia da chegada, e só vieram no nosso pouso, dois pretos que vinham nos ver, e não demos nada de presente, chegámos no mesmo às duas horas da tarde, e não tivemos perseguição de dívidas, entrámos nas casas dos viajantes que vão em Cazembe, andámos com o Sol à Cara, e não encontrámos ninguém.

56.°

Terça-feira 2 de Outubro saímos do sítio do preto Cahiumbo Câmara, levantámos ao Contar do galo, passámos um rio que tinha-mos pernoitado, e durante a viagem viemos para o pouso deserto chamado Quidano, e ao pé de um rio que ignoramos o nome, chegámos no dito ao, meio dia, fabricámos nosso cerco com chuva pela banda de cá, não encontrámos com ninguém, e passando-nos uma várzea grande achámos bastantes azebras [sic] a pastarem na dita várzea, e quando nos viram, fugiram.  

57.º

Quarta-feira 3 saímos do pouso deserto Quidano, e levantámos às 2 horas da manhã, passámos um rio de pequena Largura, e durante a viagem viemos para o sítio antigo de um preto chamado Luncongi já despovoado. Chegámos no mesmo pouso às 4 horas de tarde sem chuva, fabricámos nosso cerco ao pé cio riacho pequeno que ignoramos o nome, andámos com o Sol na Cara, e não [nos] encontrámos com ninguém.

 58.°

Quinta-feira 4 saímos do sítio despovoado do Lunconge, levantámos às 7 horas de manhã, não passámos rio, e durante a viagem viemos para o sítio novo do mesmo potentado Lucongi pela banda de lá de um rio chamado Luvire o qual passámos em Canoa que poderá ter pouco mais ou menos doze Braças da Largura, e vai desembocar no rio Luapula, e entrámos nas casas do mesmo sítio falámos com o dito preto Luncongi a nossa viagem que vamos para Cazembe, e demos de presente hum chuabo, e respondeu que o Rei Cazembe estava com Saúde, e que ele ficava pronto para procurar de Comer para o Guia que nos trouxe e com isto invernámos um dia Sexta feira, e trouxe vinte e quatro postas de Carne fresca para o dito Guia, e para nós outras vinte postas de Carne, e dizendo que no seu sítio se achava faminto de fome.

59.°

Sexta-feira 5 saímos do sítio de Lunconge, e levantámos ás 6 horas de manhã, passámos dois rios que ignoramos os nomes, os quais vão desembocar no rio Luvire, e durante a marcha viemos para o pouso deserto; e ao pé do mesmo rio Luvire vindo-nos descendo com o dito rio chegámos no mesmo pouso às 3 horas de tarde, fabricámos nosso cerco com bastante chuva, andámos com o Sol na Cara não [nos] encontrámos com ninguém.

60.º

Sábado 6 saímos do pouso deserto, e que levantámos ao cantar de galo, sem chuva, não passámos rio e durante a viagem, viemos para o sítio do menor potentado chamado Muene Majamo Amuaxi falámos com ele a nossa viagem, que vamos para o Rei Cazembe, e não demos nada de presente chegámos no dito sítio às duas horas de tarde, fabricámos nossas Barracas ao pé do rio chamado Musumbe pela banda de lá, não [nos] encontrámos com ninguém, e não vimos raridade de qualidade.

61.°

Domingo 7 saímos do sítio do preto Muene Majano, e levantámos as 7 horas de manhã, não passámos rio, e viemos para o sítio de potentado chamado Muaxy, falámos com ele a nossa viagem que somos dirigidos ao Rei Cazembe por ordem do Muropue, e respondeu que o herdeiro do Estado de Cazembe estava com saúde e que ele de sua parte nos hospedava por parte do mesmo Rei Cazembe, e invernámos um dia para nos, dar mantimentos, chegámos no dito sítio ao meio dia e nos mandou entrar nas Casas de seus Escravos, andámos com o Sol à Cara e não encontrámos com ninguém, e demos de presente Sete Chuabos e um Espelho pequeno e ele nos deu cinco quicapos de milho Moído, e sessenta postas de Carne, e nos disse que sigam a sua viagem.

62.º

Segunda-feira 8 saímos do sítio do potentado Muaxy, levantámos às 5 horas da manhã, passámos um riacho de pequena largura que ignoramos o nome, e durante a viagem viemos para o pouso deserto, e ao pé de um rio de pequena largura de pedra por dentro que ignoramos o nome, chegámos no dito deserto às 4 horas de tarde sem chuva, fabricámos nosso Cerco ao pé do mesmo rio pela banda de cá, encontrámos com três pretos que iam comprar Sal no Sítio de Muaxy que acima dito, e terem vindo no Corte do Rei Cazembe, andámos com o Sol à Cara, e não vimos nada de raridade.

63.°

Terça-feira 9 saímos do pouso deserto, em que levantámos às 2 horas de manhã passámos cinco riachos que ignoramos os nomes, e vindo-nos subindo com outeiro chamado Cunde Irugo, e durante a viagem, passámos um rio chamado Cavulancango, e levantámos às 6 horas de manhã digo Cavulancango o qual poderá ter pouco mais ou menos sete braças de Largura que nos deu água na Cintura no passar, e vai desembocar no Rio Luapula, chegamos no dito pouso ao meio dia, fabricamos nosso Cerco ao pé do mesmo Rio pela Banda de Lá , encontrámos com seis pretos Escravos do Cazembe, que iam para o Sítio do Muaxy, não tratámos nada com eles, andámos com o Sol da mesma forma.

64.º

Quarta-feira 10 saímos ao pé do rio Cavulancango, levantámos às 6 horas de manhã, não passámos rio, subindo com o mesmo outeiro Conde Irugo, e durante a marcha viemos para outro pouso deserto, e ao pé de um rio de pequena Largura chamado filho de Cavulacango, em cima  do mesmo outeiro, chegámos no dito pouso, às 2 horas de tarde sem, chuva, e entrámos no Cerco dos viajantes pela banda de Lá de mesmo rio, andámos com o Sol da mesma forma.

65.º

Quinta-feira 11 saímos do pouso deserto, e em cima do outeiro levantámos às 2 horas de manhã, passámos dois riachos correntes, e durante a Marcha viemos para outro deserto em cima do mesmo outeiro, chegámos às 6 horas de tarde com chuva, fabricámos nosso Cerco, não encontrámos com ninguém.

66.°

Sexta-feira 12 saímos em cima do outeiro, levantámos às 7 horas de manhã, passámos 7 riachos de pequenas Larguras e desembocam no rio Luapula, e viemos para outro deserto, e ao pé de um rio de pequena Largura, onde achámos Cerco feito não encontrámos com ninguém andámos com o Sol à Cara.

67.°

Sábado 13, saímos do pouso deserto, levantámos às 2 horas de manhã, passámos dois riachos, e a bom andar passámos um rio chamado Lutipuca de cinco braças de Largura, e vai desembocar no Luapula, e durante a viagem viemos para um sítio do maior de Cazembe chamado Souta, e o qual não achámos no sítio por ter ido levar tributo ao Cazembe chegámos às 2 horas de tarde sem chuva, não encontrámos com ninguém, e não tratámos nada de dádivas.

68.°

Domingo 14 saímos do sítio do Souta levantámos à madrugada passámos segunda vez o Rio Lutipuca a pé, e durante a viagem, viemos para o pouso deserto, e ao pé de um riacho que ignoramos o nome chegámos ao meio dia, no dito pouso, e já andámos com o Sol ao Lado direito, não encontrámos com ninguém.

69.°

Segunda-feira 15 saímos do pouso deserto, no qual levantámos às 5 horas de manhã, não passámos rio, e durante a viagem, viemos para outro deserto e ao pé do Rio Lutipuca o qual viemos descendo com ele dito rio chegámos no mesmo ao meio dia sem chuva, andámos com o Sol ao Lado direito, não encontrámos com ninguém, e não vimos raridade.

70.°

Terça-feira 16 saímos do pouso deserto levantámos às 6 horas de manhã não passámos rio, e durante a viagem viemos para o Sítio de um potentado menor de Cazembe chamado Munxaqueta, falámos com ele a nossa viagem que vamos ter com o Rei Cazembe, e nos mandou agasalhar e nas Casas dos seus povos, e chegámos no mesmo Sítio às 2 horas da tarde, demos de presente quatro xuabos de Serafina, e nos respondeu que estimou o seu presente, e nos ensinou o Caminho, e não tratámos mais nada.

71.º

Quarta-feira 17 saímos do sitio do Munxaqueta, e levantámos ao Cantar de galo, vindo-nos passando uma grandiosa varja com pequena água, a qual poderá ter pouco mais ou menos dez léguas de comprimento, e cheia animais, azebres, bufras, veados, corsas e mais outros animais que não sabemos os nomes e viemos, para o sítio de outro potentado chamado Muaxies, e com seu Irmão também chamado Quiocola falámos com eles a nossa viagem que vamos dirigidos ao Rei Cazembe, chegámos no mesmo sítio às 4 horas de tarde, e demos de presente aos dois potentados doze chuabos, e responderam que o Rei Cazembe se achava com Saúde; não encontrámos com ninguém, e andámos com o Sol da mesma forma.

72.º

Quinta-feira 18 saímos do sítio do Munxaqueta: levantámos às cinco horas de manhã, sem chuva, vindo-nos, cortámos dita varja ao poente dela passámos em Canoa o rio Luapula, e demos aos pilotos dois chuabos de fazenda de lãs, e viemos para o sítio de um preto chamado Tambo Aquilata, falámos com ele a nossa viagem que viemos do Muropue ter com Rei Cazembe, e tratarmos noras dependências, chegamos no dito sítio às 4 horas de tarde, e fabricámos ao pé do mesmo sítio, o mesmo rio Luapula poderá ter pouco mais ou menos cinquenta e sete braças de largura, o qual não sabemos onde vai desembocar. Não encontrámos com ninguém.

73.°

Sexta-feira 19 saímos do sítio do Tambo Aquilata, levantámos às 6 horas de manhã não passámos rio, e vindo nós descendo com o mesmo rio Luapula, e viemos para o sítio da Irmã do mesmo Cazembe chamada Pomba ao pé do mesmo rio,  e logo nas mandou agasalhar nas Casas dos seus povos, e no mesmo dia da chegada não falámos com ela, chegámos no mesmo sítio às 2 horas de tarde não encontrámos com ninguém.

74.º

Sábado 20 Parada no dito sítio da Irmã do Cazembe por ordem dela mesma, e sendo as duas horas de manhã nos mandou chamar e fomos dentro dos seus muros, e nos perguntou de donde vínhamos respondemos que viemos de Angola, e chegámos na Corte de Muropue, o qual nos entregou este nosso Guia, e virmos ter com o Rei Cazembe vosso Irmão para nos conceder Licença irmos a Vila de Tete, a qual respondeu que estava muito bonito o seu Muropue mandar brancos ter com seu Irmão, o, que nunca fizeram os antepassados Muropues, e que era grande fortuna do Herdeiro do Estado de Cazembe seu Irmão, e nos ofereceu uma Cabra grande e quarenta peixes frescos, e duas garrafas de bebida chamada pombe, e seis quicapos de farinha de mandioca seca, e demos de presente trinta e dois xuabos, um Copo azul, um Mozenze de cem pedras brancas, respondeu que ficava obrigada da sua dádiva, e invernámos para a dita mandar dar parte ao Rei Cazembe da nossa chegada como se obrigação dela aparecer todo o viajante mandar participar ao Irmão, e com isto estivemos à espera seis dias no sítio dela, e vieram os portadores em busca de nós.

75.°

Sábado 27 saímos do sítio da Irmã do Cazembe levantámos às 7 horas de manhã sem chuva , vindo nós descendo com o rio Luapula, passámos um rio de duas braças de largura , que ignoramos o nome, e vai desembocar no mesmo Luapula, e durante a viagem viemos para o sítio de um preto chamado Murumbo, chegámos no dito sítio ao meio dia, não encontrámos com ninguém andámos com o Sol ao Lado direito, e entrámos nas Casas dos do sítio e não vimos nada de raridade.

76.°

Domingo 28 saímos do sítio do Murumbo, levantámos às 2 horas de manhã, e vindo nós descendo com o rio que assim dito ao Lado Esquerdo, passámos dois rios Lufubo, e Capueje que vão desembocar no mesmo rio, e durante a viagem viemos para o sítio de um preto chamado Gando e ao pé de um rio chamado Gona, no qual sítio tratámos nada de dádivas, chegámos às 6 horas de tarde, andámos com o Sol da mesma forma.

77.°

Segunda-feira 29 saímos do sítio do Gando, e ao pé do rio Gona levantámos às 5 horas de manhã passámos dois rios Belenje, e outro ignoramos o nome, e durante a viagem viemos para o sítio de um preto chamado Canpungue, e chegámos no dito sítio às 3 horas de tarde, encontrámos com bastante gente do Rei Cazembe carregados de Lenha, e demos de presente ao dito preto Canpungue um chuabo de Zuarte, e nos disse que sigam a viagem que o Cazembe estava à espera de nós.

78,°

Terça-feira 30 saímos do sítio do preto Canpungue, levantámos às 7 horas de manhã sem chuva, não passámos rio, e durante a viagem viemos para o sítio de um preto chamado Luiagamra do Cazembe, chegámos no mesmo sítio às 4 horas de tarde, entrámos nas Casas dos mesmos; e ao pé de um rio chamado Canengua de pequena largura que vai desembocar no rio chamado Mouva que se acha situado o mesmo Rei Cazembe, e não demos nada de presente ao dono do sítio, e daí mesmo fizemos parada a mandar-nos dar parte por nossa chegada um dia e fazendo-nos um pouco de tempo veio o portador do mesmo Rei Cazembe; e trazendo-nos de hospedagem, quatro Murondos de bebida chamada poube, e cem postas de carne fresca juntamente com farinha de mandioca para nossa alimentação, e além disso com recado que o Rei Cazembe nos mandava por ora parar, no mesmo sítio, e que ele mesmo nos mandava recolher com mais vagar: Amanhecendo-nos logo sendo às duas horas de manhã nos mandou chamar por seu maior e com ordem para que em chegando ao pé dos muros dos seus maiores, atirássemos tiros que pudesse tirar que é para sinal de nós Viajantes chegarmos na sua Corte, e nos mandou agasalhar em Casa do seu Porteiro das suas portas chamado Fumo Aquibery, e nesse dia não tratámos nada sobre a nossa viagem que se não ele dito Rei Cazembe nos mandar mantimentos de farinha, peixe, carne fresca, e pombos, cabras, e comeres já feitos para nossa gente, e com grande alegria nos ver e sendo manhã nos mandou chamar que viéssemos dizer o que nos traz; e o achámos assentado na sua rua Pública onde Costuma dar suas Sentenças a seus Povos, e com todos os seus Potentados Maiores dos seus Conselhos, ele todo vestido de seus panos de seda , veludo, missanga de várias qualidades nos Braços, e pés rodeado do seu Povo e com todos seus instrumentos de grandeza de Barbaridade, e mandou dizer, que falasse o Guia que com ele viemos do seu Muropue: Falou o Guia que aí lhe, trago brancos de El-Rei que eles chamam Muenuputo, vir comunicar com vós Rei Cazembe, e os tratar bem sem malícia, executando os desejos que eles vêm encarregados, conceder-vos Rei Cazembe Licença juntamente com seu Protector que vos achar capaz para os Levar na Vila de Tete a entregar uma Carta ao Ilustríssimo Senhor Governador da dita vila, recomendados com esta ordem de donde vieram que é Angola, e nisto também manda recomendar bastantemente o seu Muropue fazer todo o necessário para despachar ditos viajantes onde desejam e os tornar a mandar-lhes para o dito Muropue os mandar entregar de donde vieram. Respondeu o Rei Cazembe que estimava muito e não pouco o seu Muropue mandar-lhe viajantes que vieram Longe, e que a muito tempo ele também anda com intentos de abrir o caminho de Sena , assim como ficar tão alegre de ver viajantes de Muropue, o que nunca fizeram os anteparados Muropues, e que há de executar tudo que for no possível e não só dar guia que se não ele mesmo pessoalmente levantar para o arraial de Guerra, a ir combatendo os Salteadores Ladrões que no Caminho se acham que impedem o Caminho para os viajantes que querem vir comunicar com ele Rei Cazembe, tinha-mos partido com o mesmo Rei Cazembe até em um sítio dos seus Povos que ficava coisa de meia Légua do referido Rei com bastante Guerra para nos vir fazer passar no dito Caminho, e depois houve perturbação dos seus Povos não quererem guerrear, e ficou a deligência frustrada, e voltámos com ele para o sítio contra a sua vontade, e entrou a mandar botar fora os Potentados, e outros a cortarem as orelhas, e outros foram pagando Cabeças, e manilhas e no segundo mês nos entregou o seu mais Potentado chamado Muenepanda para nos vir trazer com mais Povos, e chegando-nos num Pouso deserto chamado Quipire voltou para trás, e dizendo que na Vila de Tete era muito Longe, e a guerra que ele dito Muenepanda levava para combater os Potentados que no Caminho se achavam eram poucos e que não quer se meter em risco, e voltámos com ele, e fazendo-nos meio Mês nos apareceu o Preto de Gonçalo Caetano Pereira de nome Nharugue, partimos com ele até que chegámos nesta vila de Tete. Dito Rei Cazembe é um Preto muito tinto e rapagão barba razarena olhos vermelhos muito conversário com brancos negociadores que na sua Corte vem a Negociar, coisa de semente farinha de mandioca milho curro , milho moído, feijão , canas bastante, peixe que pescam seus Povos no Rio que ao pé dele está chamado Muova as pontas de marfim; vem na outra banda do Rio Luapula que vem tributar seus Povos, e as pedras verdes vem na terra chamada catanga, negociadores vem á nação Muizas, a comprar marfim a troco de fazenda, e outra nação chamada Tungalagazas que trazem cativos, e manilhas de Latão, cauris , e azeite de palma, e alguma fazenda que dito Rei Cazembe tem, vem no Cola terra de Muropue, e missanga grossa vistosa no dito território bastante Sal, que tiram na mesma terra , e tem também outra qualidade de Sal de pedras que vem em tributos na Salina que está no Caminho da terra do Mulopue chamada, Luigila, onde se acha um seu potentado, e Parente chamado Quibery a tomar sentido da dita Sa!ina, assim como mandar tributos ao seu Muropue do mesmo sal, e fazendo que ele compra com os viajantes que do Muropue vem. Não assentei os dias de Inverno que passámos no Caminho precedido de moléstias, e não vi mais nada na Gorte do Rei Cazembe, que me esquecesse a escrever que senão o que está declarado.

 

 

Fonte:

«Explorações dos Portugueses no Interior da África Meridional», Anais Marítimos e Coloniais, n.º 5, 3.ª série, Parte não-oficial, Lisboa, Imprensa Nacional, 1843, págs. 163-190.

A ler:
  • R. J. Hammond, Portugal and Africa 1815-1910: A Study in Uneconomic Imperialism. Stanford, Stanford University Press, 1966;
  • Maria Emília Madeira Santos, Viagens de exploração Terrestre dos Portugueses em África, Lisboa, Centro de Estudos de Cartografia Antiga, 1978;
  • Gervase Clarence-Smith, The Third Portuguese Impire, 1825-1975. A Study in Economic Imperialism. Manchester: Manchester University Press, 1985;
  • Valentim Alexandre e Jill Dias, O império Africano,1825-1930, vols. 10 e 11 da Nova História da Expansão Portuguesa, dir. por Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, Lisboa, Editorial Estampa,  1998-2001.

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