As Campanhas no Brasil - 10.ª parte

 

A ocupação dos territórios cedidos em 1761 

Os contra-ataques espanhóis e a tentativa de conquista do forte de Santa Teresa ( I )

 

Entretanto, enquanto Serro Largo era atacado e tomado, as forças do coronel Quintana deslocavam-se em direcção ao rio de Santa Maria. A força compunha-se de seis esquadrões de lanceiros, entre os quais se incluía uma força dos célebres Blandegues de la Frontera de Montevideo, regimento de lanceiros criado em Dezembro de 1796 no Rio da Prata. À sua frente estava uma pequena força de Dragões portugueses que guarnecia o posto de São Sebastião, a defesa do vau do Rosário, soldados que estavam sob o comando de Sebastião José de Oliveira, estacionado na guarda de Batovi. Logo que soube pelos seus batedores da aproximação das forças espanholas este oficial reforçou as defesas dos vaus, sobretudo o do Rosário, e avisou o tenente-coronel Correia da Câmara da aproximação das forças espanholas.

 

Forte de Santa Teresa

O Forte de Santa Teresa

O comandante do regimento acorreu rapidamente ao pedido com as poucas forças de que dispunha. No dia 5 de Novembro, as duas forças estavam em frente uma da outra, nas margens do rio de Santa Maria. Não conseguido ter informações precisas do que se passava do lado oposto, o coronel espanhol tentou reconhecer a margem direita em força, investindo várias vezes repentinamente através do rio, tentando que as forças portuguesas se mostrassem. Tentou esta acção várias vezes, mas sem efeito. Mandou disparar alguns tiros de obus contra a guarda, mas tudo de novo inutilmente. As forças portuguesas mantinham-se calmas, não reagindo às provocações do inimigo. O importante corpo espanhol observava cautelosamente as forças portuguesas, porque, o comandante  do regimento tinha decidido utilizar um estratagema só possível numa época em que não existiam meios de observação à distância de qualidade - colocou as suas forças numa única linha, e postou a sua cavalhada na segunda linha, o que ao longe fazia com que o comandante espanhol pensasse que tinha em frente de si uma força com efectivos semelhantes ao seus. O ardil resultou e os espanhóis, não tendo conseguindo saber claramente se estavam ou não perante uma força inferior em número, decidiram não atravessar o rio. 

No dia seguinte, após uma cautelosa vigília nocturna, em que o Regimento de Dragões se manteve em alerta máximo, preparado para entrar em combate, os piquetes portugueses que desde o raiar do dia tentavam descortinar as intenções inimigas, informaram o tenente-coronel Correia da Câmara de que os espanhóis tinham desaparecido. Cuidadosamente, pensando que podia estar perante uma tentativa de emboscada, que o terreno muito arborizado da margem ocidental permitia realizar, o comandante dos Dragões enviou para a margem esquerda algumas forças de reconhecimento, para tentar descobrir os verdadeiros motivos do desaparecimento das forças espanholas. 

As forças espanholas estavam a retirar precipitadamente porque tinham recebido notícias da rendição do forte de Serro Largo, tendo também tomado conhecimento da existência de forças de cavalaria portuguesa, o destacamento enviado pelo coronel Marques de Sousa, na sua retaguarda. A retirada espanhola acabou por estabilizar já que não foram perseguidos pelos Dragões do Rio Grande, porque o coronel Câmara decidira não atravessar o rio em força, continuando a manter a sua pequena força longe dos olhares do inimigo. As forças portuguesas mantiveram-se por isso, aqui como em São Gabriel, nos limites determinados pelo tratado de 1750.

continuação


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© Manuel Amaral