As Campanhas no Brasil

 

 

O Sul do Brasil, da criação da Colónia de Sacramento
ao Tratado de Santo Ildefonso

 

Em 1679, Portugal em paz com a Espanha desde 1668, com o fim da Guerra da Restauração, enviou uma frota para o Rio da Prata com o intuito de fundar um novo forte na América na margem esquerda do estuário mesmo em frente de Buenos Aires. O local, tendo por invocação o Santíssimo Sacramento, que deu origem à povoação que ficou conhecida por Colónia do Sacramento.

 

Colónia do Sacramento
© Teresa Santos/Oceanos

Portal da antiga muralha da colónia do Sacramento

O objectivo imediato da edificação do presídio era o de continuar a participar no comércio e contrabando da prata espanhola do Potosi, escoada por Buenos Aires, e em que Portugal tinha participado durante os quarenta anos que durou a União Ibérica. Abriu-se assim uma nova zona de confrontação entre a monarquia portuguesa e a castelhana. Mas, ao invés da Guerra da Restauração, que tinha acabado após quase 30 anos de luta, este conflito, não sendo nunca resolvido a contento das partes, perdurará até ao fim do domínio colonial dos dois países na região, sendo mesmo transmitida aos novos estados independentes, que a foram resolvendo violentamente por meio de guerras que foram eclodindo ao longo do século XIX. De facto, os conflitos fronteiriços entre Argentina, Uruguai e Brasil só terminaram em 5 de Fevereiro de 1895, com a mediação do presidente americano Cleveland, ao entregar ao Brasil o território das Missões Orientais do Uruguai.

Os objectivos a longo prazo do governo de D. Pedro II era defender o direito de Portugal à margem esquerda do rio da Prata e do rio Uruguai, rios que delimitavam um imenso território, que deu origem ao actual Uruguai, e ao Estado brasileiro do Rio Grande do Sul, e afirmar o direito ao hinterland de um determinado ponto costeiro - neste caso das margens do rio da Prata ao ponto mais meridional alcançado pela colonização portuguesa no Brasil, que nos fins do século XVII se situava na vila de Laguna, fundada em 1688 exactamente para defender essa pretensão, a quase 1.000 quilómetros de distância. O mesmo tipo de pretensão será apresentada por Portugal, dois séculos mais tarde, de novo infrutiferamente, quando, na preparação de uma negociação com a Grã-Bretanha sobre os territórios portugueses no Sul da África, afirmou o direito aos territórios no interior do continente africano, entre Angola e Moçambique, mesmo sem prévia ocupação efectiva de território, provocando o Ultimato de 1890.

A expedição vinda do Rio de Janeiro, chegou ao local de edificação em 1 de Janeiro de 1680, tendo começado rapidamente a construção da fortaleza. Logo que os espanhóis de Buenos Aires souberam da construção do presídio português atacaram-no imediatamente, a guarnição portuguesa rendeu-se em Agosto, e o seu comandante, o governador da capitania do Rio de Janeiro D. Manuel Lobo, foi preso. Quando a notícia chegou à Península, Carlos II, aquele que seria o último rei Habsburgo de Espanha, entrou rapidamente em conversações com Portugal, tendo a colónia sido entregue em 1683 ao novo governador do Rio de Janeiro, Duarte Teixeira Chaves. A vida na fortaleza não era fácil, devido ao isolamento e à permanente hostilidade dos espanhóis de Buenos Aires, e de facto em 1704, com o início da Guerra da Sucessão de Espanha, a colónia foi novamente atacada e conquistada. Com o fim desta guerra, e a assinatura do tratado de paz de Utrecht, entre Portugal e a Espanha, em 1715, a colónia regressou à posse da coroa portuguesa. O problema é que a povoação continuava completamente isolada, e por isso difícil de apoiar, em caso de ataque. A sua fraqueza era um magneto que atraía a hostilidade espanhola.

continuação


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