D. Pedro III

© PNQ

D. Pedro III 

 

 

DISCURSO DE FERNANDO TELES DA SILVA, MARQUÊS DE PENALVA

Oração panegírica aos anos do rei nosso Senhor que no dia 5 de Julho de 1785 recitou no paço o marquês de Penalva como académico da Academia Real da História Portuguesa

 

 

O discurso do marquês de Penalva é um discurso típico de circunstância, não muito especialmente elogioso para o rei consorte, que não tinha sido muito generoso para com a Academia da História Portuguesa, quando, logo em 1777, D. João de Almeida Portugal, 2.º marquês de Alorna, lhe tinha pedido o patrocínio.

 

"«À Real Academia da História Portuguesa ...  a cujo cargo estão os elogios das acções dos nossos Príncipes ... por este motivo lhe pertence de justiça celebrar também os seus nascimentos, como origem das suas virtudes, e das nossas felicidades».

 

Muito alto e muito poderoso rei Fidelíssimo senhor nosso.

A incomparável honra, que nesta ocasião se permite à Real Academia da História Portuguesa, é bem digna de um Corpo científico, a cujo cargo estão os elogios das acções dos nossos Príncipes, que por este motivo lhe pertence de justiça celebrar também os seus nascimentos, como origem das suas virtudes, e das nossas felicidades. Nesta certeza venho eu agora mais aparelhado para receber, que para dar parabéns a V. Majestade, pela repetição deste plausível Dia, que desejamos se renove por dilatados anos. Se na conservação da sua preciosa vida consiste a maior fortuna da nossa amada soberana, e por consequência a de todos os Povos dos seus dilatados Domínios; com muita propriedade devo eu ser especialmente felicitado, pois o venho anunciar a todos os que me acompanham neste dita, e me invejam este emprego, pelo qual se me concede imprimir antecipadamente nos ouvidos da mais respeitável Assembleia os louvores, que a nossa Academia há de transmitir com maior extensão à posteridade nos seus escritos; formados sim com mais elegantes, e discretas frases, porém não compostos de mais sinceros aspectos de amor, de gratidão e de respeito. A verdadeira eloquência consiste em dar a conhecer com acertadas expressões as ideias que se formam dentro do coração humano, sempre agitado pela força da imaginação, e pela viveza do discurso pondo-as na sua verdadeira luz pelas regras que prescreve a prudência e que dita o entendimento. Sendo pois muito árdua empresa a maiores talentos, que o meu, praticar esta doutrina na presente ocasião; verá V. Majestade em meu socorro sair dos nossos peitos torrentes de júbilo, que transbordam nas faces de todos os seus fiéis vassalos; e na muda, e agradável confusão dos risonhos semblantes havemos de ler com melhor energia os dons, e virtudes, que esmaltam a brilhante Coroa de V. Majestade.

Exultam os Ministros do Santuário, quando celebramos o nascimento de V. Majestade, a quem a Cabeça visível da Igreja deve o respeito, e amor de Filho, e a constância, e generosidade de Protector. Alegram-se os Magistrados Civis, e Políticos, quando se repete o aplauso deste Dia, porque observam em V. Majestade o modelo da rectidão e da inflexibilidade, procurando temperar o rigor do castigo com a devida compaixão à humanidade, digno, e inseparável atributo dos Monarcas Portugueses. Convertem os necessitados em lágrimas  de gosto o amargo pranto da miséria, quando festejam um Dia, em que veio ao mundo o seu pródigo Benfeitor, que com antecipados, e prontos socorros embaraça os progressos dos males, que se originam da falta de meios, e atalha os Perigos, em que ordinariamente se precipita a pobreza. Enfim, é universal o contentamento; e de muito especial a satisfação, que se divisa em todos os que ternos a honra de servir imediatamente à pessoa de V. Majestade. Não cabe no peito, não se pode mostrar inteiramente nos semblantes, e é impossível exprimir-se num discurso, que tem por essência a brevidade. Mas seja-me lícito dizer ao menos em breves ternos, que a piedade, com que V. Majestade nos edifica, nos faz conhecer, que o nosso Soberano é também o nosso Mestre: a afabilidade, com que nos trata, nos faz parecer que o nosso Rei conserva para todos o respeito de Pai entre as demonstrações de verdadeiro Amigo: a, justiça com que nos atende e nos protege, nos certifica que o nosso Príncipe é no mesmo tempo o nosso Intercessor. Concluo pois com toda a probabilidade, que venho mais a receber que a dar os parabéns de tantas felicidades, que nos trouxe o Augusto Nascimento de V. Majestade; e creio que neste pensamento me devem seguir todos aqueles que com a interna satisfação, e alegria exterior servem de prova a mais exuberante a esta Oração, e de próprio e decente elogio às relevantes virtudes de V. Majestade.

Disse.

Fonte:

Oração panegírica aos anos do rei nosso Senhor que no dia 5 de Julho de 1785 recitou no paço o marquês de Penalva como académico da Academia Real da História Portuguesa, [Lisboa, s.n., 1785-1790]

Ligações:

 

 

| Página Principal |
| A Imagem da Semana | O Discurso do Mês | Almanaque | Turismo histórico | Estudo da história |
| Agenda | Directório | Pontos de vista | Perguntas mais frequentes | Histórias pessoais | Biografias |
| Novidades | O Liberalismo | As Invasões Francesas | Portugal Barroco | Portugal na Grande Guerra |
| A Guerra de África | Temas de História de Portugal | A Grande Fome na IrlandaAs Cruzadas |
| A Segunda Guerra Mundial | Think Small - Pense pequeno ! | Teoria Política |

Escreva ao Portal da História

© Manuel Amaral 2000-2015