As Campanhas no Brasil - 4.ª parte

 

 

A preparação da conquista (1777 - 1801) 

 

Melhor ou pior recebido, o Tratado de Paz de Santo Ildefonso marcou o regresso do governo português à política proposta por Alexandre de Gusmão, de entendimento pacífico sobre os limites entre as possessões dos dois países na América do Sul, mas também da defesa daquilo que era considerado a justa compensação pela entrega da Colónia do Sacramento - as Sete Missões de índios Guaranis da margem esquerda do rio Uruguai.

 

O forte Príncipe da Beira

© Exército Brasileiro

O forte Príncipe da Beira

Este será portanto o objectivo que a corte portuguesa perseguirá, decididamente mas sem pressas nem hostilidade manifesta: fazer aceitar pela Espanha o regresso ao Tratado de Limites de 1750, esquecendo o acontecido no fim do reinado de D. José I e do governo do marquês de Pombal, na Primavera de 1777. Isto é, conseguir uma solução intermédia entre a minimalista, de manutenção do statu-quo, e a maximalista, defendida no reinado anterior, de ocupação de todo o território nas margens esquerdas dos rios da Prata e do Uruguai. O plano como veremos era claro, mas de facto a solução maximalista nunca foi esquecida, já que como transparece das fontes "brasileiras" e portuguesas a solução era considerada a mais natural e razoável, e também a única que terminaria com qualquer dúvidas sobre os limites entre os territórios governados pelo vice-rei da Prata e o Brasil, ao colocar a fronteira sobre dois grandes rios caudalosos, o Prata (o estuário criado pelos rios Uruguai e Paraná) e o Uruguai. 

De facto, a solução irá ser entregue aos dirigentes locais. A decisão sobre o que fazer, o que ocupar e como, como chegar a uma solução realista para o conflito no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso, a outra zona de expansão territorial portuguesa em finais do século XVIII, vai ser decidida pelos oficiais que melhor conheciam a região, os oficiais e engenheiros geógrafos portugueses enviados para a Delimitação do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso em 1781, e que vão ser os dirigentes políticos e militares que decidirão a contenda a favor de Portugal em 1801. 

Após o tratado de Santo Ildefonso, Portugal decidiu continuar a construir o conjunto de fortes que delimitavam claramente as fronteiras. O esforço e o trabalho que a construção das fortificações deram são quase impossíveis de compreender actualmente, mas a sua edificação permitiu, como se previa, delimitar quase definitivamente as fronteiras do sudoeste que tocavam nos territórios espanhóis do vice-reinado do Peru. 

As grandes construções realizaram-se na Capitania de Mato Grosso. É que ali já se tinha chegado a um consenso sobre os limites razoáveis e necessários, sendo que o princípio primordial para Portugal, aceite pelos espanhóis, era a defesa da Bacia do Amazonas. Por isso se tinha construído o forte da Conceição em 1769, e mais acima no rio Guaporé, afluente do Madeira, um dos principais afluentes do Amazonas, se edificou o Forte do Príncipe da Beira, começado em 1776 e concluído em 1785. Ainda mais para Leste, já na Bacia do Paraguai edificou-se Vila Maria, em 1778, e descendo o rio Paraguai, construiu-se no mesmo ano Albuquerque. O Forte Coimbra, construção iniciada em 1797, na margem direita do Paraguai, para substituir o presídio de Nova Coimbra fundado em 1775, assim como o Forte Miranda, construído a partir de 1778, mas só terminado em 1796, delimitavam a fronteira sul da capitania do Mato Grosso, colocando-a efectivamente na linha do rio Mondego afluente do Paraguai, permitindo uma ligação, por meio do forte de Iguatemi, no rio Paraná, a São Paulo, mas também deixando em aberto a possibilidade de colocar o limite da capitania ainda mais a Sul, nas margens do rio Apa, um afluente do Paraguai.

continuação


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© Manuel Amaral