A primeira Invasão francesa - 3.º parte

 



Napoleão Bonaparte no regresso a Paris, vindo directamente da fronteira entre a Prússia e a Rússia, no distante Vístula, já a meio caminho, em Dresde, capital do reino da Saxónia, decidiu organizar de novo o Corpo de Observação da Gironda, reconstituindo assim o comando do seu já falecido cunhado, o general Leclerc. Para o novo, nomeou o antigo embaixador de França em Lisboa, o seu mais antigo ajudante de campo (de facto desde 1793, quando um era capitão e o outro sargento) e naquele momento governador militar de Paris, o general Andoche Junot

 

Embarque do Príncipe Regente para o Brasil
Embarque de D.João, Príncipe Regente de Portugal,
para o Brasil em 27 de Novembro de 1807,
de Nicolas Delerive (pormenor)


Porquê Junot? Não vale a pena perder tempo, com o general Thiébault, ou Thiers, em saber se Junot tinha muitas dívidas, ou se era amante de Paulina ou de Carolina Bonaparte. O facto é que era o único general de divisão grande dignitário do Império disponível para servir em campanha. É que enquanto Coronel-General dos Hussardos, Junot tinha uma dignidade equivalente à de Marechal do Império. E para os comandos independentes (os que implicavam a função de comandante em chefe - os Corpos de Exército) Napoleão Bonaparte, nos primeiros anos do Império, só nomeava grandes personagens do regime. 

O embaixador de Portugal, D. Lourenço de Lima, que será mais tarde 1.º Conde de Mafra, foi informado, em 29 de Julho de 1807, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros interino, Blanc d'Hauterive, um dos colaboradores fiéis de Napoleão Bonaparte, da necessidade da coroa portuguesa aderir ao «Sistema Continental» até 1de Setembro, e da obrigação do país fechar os seus portos ao comércio britânico, sendo também informado da existência de uma força pronta a invadir o país, porque o não comprimento desta imposição por Portugal implicava a declaração de guerra da França. A informação do embaixador chegou a Portugal em 10 de Agosto

A ordem de criação do Corpo de Observação da Gironda foi assinada em 29 de Julho, dois dias depois de Napoleão Bonaparte ter regressado a Saint-Cloud, um palácio nos arredores de Paris, e a sua estrutura decidida em 2 de Agosto. Napoleão, tendo aprendido com a Guerra de 1801, em que as tropas que compuseram o Corpo de Leclerc, por terem sido retiradas da Alemanha e da Itália, chegaram demasiado tarde à fronteira luso-espanhola, não tendo participado activamente nas campanhas de 1801, organizou o corpo com as tropas que tinha mais perto da fronteira espanhola. 

Utilizou, por isso, os três campos volantes organizados ao redor da Bretanha desde Fevereiro de 1807: Saint-Lô (1), na Baixa Normandia, Pointivy (2), no interior da Bretanha, e Napoléon-Vendée (a actual Roche-sur-Yon) (3), perto do importante porto atlântico de La Rochelle, para formarem cada um uma divisão do novo Corpo da Gironda.  O novo Corpo era, portanto, formado por forças de ocupação das regiões que se tinham revoltado mais claramente contra a política dos governos da Revolução, do Consulado e do Império. Era uma espécie de força policial, especializada em atacar populações católicas revoltadas contra a brutalidade do governo central de França. Esta experiência policial iria ser útil em Portugal nos primeiros tempos da ocupação, mas, no fim, a falta de experiência militar ser-lhe-ia fatal. A cavalaria foi organizada com os depósitos de cavalaria aquartelados em Versalhes. Junot chegou a Bayonne em 5 de Setembro, onde já se encontra o chefe de estado-maior. As tropas chegaram nos dias seguintes, de 9 a 20. 

Para o comandar tentou-se nomear, dos oficiais disponíveis em França, os que tivessem estado na Península em 1801. Foi o que aconteceu com o general Thiébault, nomeado chefe do Estado-Maior do corpo. Os oficiais generais que integraram o corpo não tinham visto serviço activo à algum tempo. Junot, que nunca tinha tido um comando militar independente, era um doente mental que começara no governo militar de Paris a dar mostras claras da sua instabilidade psíquica. Thiébault e Kellermann tinham sido feridos gravemente na batalha de Austerlitz, em Dezembro de 1805; Delaborde estava em Pontivy devido ao seus graves problemas de reumatismo, e esperava uma licença para poder restabelecer-se em casa. Laroche, o comandante da 2.ª divisão tinha 50 anos e, doente, pediu a passagem à reserva no momento em que o corpo se preparava para entrar em Espanha. Loison, o seu substituto, tinha perdido um braço em 1806, num acidente de caça. Não era um grupo brilhante, mas era o que havia disponível imediatamente.

Os regimentos que compunham o corpo eram constituídos sobretudo por mercenários suíços (2 batalhões), desertores alemães (1 batalhão), italianos das zonas recentemente anexadas e recrutas franceses. Corpos com soldados experientes, incorporando nas suas fileiras veteranos das guerras revolucionárias não havia praticamente nenhum, e os que havia concentravam-se na 1.ª divisão de Delaborde.

...

Portugal decidiu-se finalmente a aderir formalmente ao Sistema Continental em Setembro de 1807, mas a medidas práticas nunca foram postas verdadeiramente em prática.


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